Pular para o conteúdo principal

‘Chicote nas mãos’ ainda é regra em empresas brasileiras

Gestores ditadores ainda estão em alta no Pais. Um levantamento da Outstretch Empreendimentos e Negócios entre dez das maiores companhias nacionais mostrou que 70% dos diretores ainda trabalham com o "chicote na mãos", conforme diz Paulo Chebel, especialista em direção empresarial e diretor da consultoria Outstretch. A pesquisa ouviu 600 pessoas. "Nossos executivos são técnicos demais, sabem executar seus ofícios, mas não sabem lidar com o humano", diz Chebel.

Ele começou a observar este dado após ser contratado por companhias importantes para fomentar, organizar e incubar novos negócios. "Minha consultoria orienta organizações a planejar e organizar projetos com qualidade e arrojo. Em cada uma que chegava, porém, via que a comunicação entre a cúpula e a base é sempre problemática. Isso atrapalha a viabilidade de bons negócios a longo prazo".

A partir deste fato, passou a fazer enquetes com os trabalhadores de cada empresa na qual chegava. "Entrevistava centenas de funcionários de cada empresa. Percebi que as reclamações eram generalizadas. Isso por que, para os gestores, o que importa ainda são somente os resultados. Esquecem-se de olhar para o ‘chão de fábrica’, para os funcionários em geral."

Chebel diz que, na maioria das vezes, os gestores não percebem que estão sendo carrascos. É o caso de Andrea Marco, diretora de um grande hospital em São Paulo. "Certo dia, ainda muito jovem, vi-me encarregada de dirigir uma empresa com mais de 200 funcionários. Minha inexperiência e imaturidade faziam com que não confiasse em ninguém. Simplesmente não sabia trabalhar em equipe", diz. "Queria produção e para isso pressionava quem aparecesse em minha frente. Resultado: consegui muitos inimigos".

Andrea conta que passou a mudar quando saiu de férias e percebeu que seu telefone não parava de tocar. "Ligavam-me até quando caía uma agulha no chão. Percebi que a equipe morria de medo de mim. Acabei perdendo minhas férias", lembra. Ela afirma que este período em que esteve longe foi essencial para mudar de atitude em relação aos funcionários. Para isso, fez nada menos do que 23 cursos de liderança, entre vivências e treinamentos pessoais. "Hoje, quando percebo que vou gritar com alguém, conto até dez e acabo me acalmando", comenta. "Aprendi a ouvir e isso melhorou inclusive minha vida pessoal".

Paulo Chebel diz que no País muito se fala sobre qualidade de vida no ambiente corporativo, mas pouco se faz. "Todas as ações devem levar ao mesmo objetivo: melhorar o bem-estar do colaborador. Por quê? Isso é diretamente proporcional a sua produtividade e, por conseqüência, melhora os resultados da organização, em todas as perspectivas, a financeira, do cliente, processos operacionais e do aprendizado", diz.

Ele observa que as empresas devem implantar programas de qualidade de vida em todos os níveis hierárquicos, a partir das necessidades dos grupos de trabalho, departamentos, e localização física. "Para citar um exemplo, é preciso haver ginástica laboral para um departamento de televendas. Isso evitaria lesões por esforço repetitivo, como a leitura", sugere. "A empresa não deve ser um divã para tratamento terapêutico, mas deve-se encorajar até mesmo a qualidade de vida no ambiente familiar e na sociedade. É preciso que sejam abordados temas diversos como noções de higiene, alimentação, educação, até apoio para atividades sociais, preservação ambiental, respeito dos direitos alheios e cidadania", afirma.

Chebel assegura que de nada adiantam os programas que visam à qualidade de vida no trabalho se os gestores continuarem com os chicotes nas mãos, exigindo mais produtividade, com melhor qualidade, em menor tempo, em turnos de 10 a 12 horas diárias, sem se conscientizarem que a qualidade corporativa deve iniciar pela gestão. "Cobrar e exigir produtividade e qualidade é direito do gestor e obrigação do colaborador, porém existem ‘n’ maneiras de gerir pessoas. É preciso que a direção esteja próxima aos desejos, necessidades, valores, problemas e crenças distintas de seus colaboradores."


Fonte: Por Alexandre Staut, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Conselho Federal de Marketing?

A falta de regulamentação da profissão de marketing está gerando um verdadeiro furdunço na Bahia. O consultor de marketing André Saback diz estar sendo perseguido por membros do Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA/BA) por liderar uma associação – com nome de Conselho Federal de Marketing e que ainda não está registrada – cujo objetivo, segundo ele, é regulamentar a profissão. O CRA responde dizendo que Saback está praticando estelionato e que as medidas tomadas visam a defender os profissionais de administração. Enquanto André Saback, formado em marketing pela FIB - Centro Universitário da Bahia -, diz militar pela regulamentação da profissão, o Presidente do CRA/BA, Roberto Ibrahim Uehbe, afirma que o profissional criou uma associação clandestina, está emitindo carteirinhas, cobrando taxas e que foi cobrado pelo Conselho Federal de Administração por medidas que passam até por processar Saback, que diz ter recebido dois telefonemas anônimos na última semana em tom de ameaç