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Incubadoras de empresas apostam em negócios sustentáveis

Apesar do crescente aumento do interesse pela sustentabilidade nos negócios, os empreendedores que desenvolvem produtos e serviços sustentáveis ainda encontram dificuldades para se inserir no mercado, atrair investidores, fornecedores e consumidores. As barreiras para quem está começando, no entanto, podem ser vencidas com a atuação em rede, planejamento e aprimoramento do negócio por meio do suporte de incubadoras de empresas.

Além de poder se instalar no espaço físico dessas instituições, os empreeendimentos recém-criados ou em formação podem reduzir custos, compartilhando serviços de infra-estrutura (energia e telecomunicações, por exemplo) e de serviços especializados (contabilidade, marketing e assistência jurídica, entre outros). “A incubadora reúne empresas que têm o mesmo objetivo, o que facilita a divulgação e captação de parceiros de negócios. Quando contatamos um cliente em potencial, apresentamos várias opções de tecnologias, todas elas voltadas para a sustentabilidade. Isso aumenta as chances de fechar negócios. Uma vez que a empresa conquista o mercado, se torna fonte de divulgação para as demais participantes da rede”, afirma Sérgio Risola, gerente do Cietec - Centro Incubador de Empresas Tecnológicas, localizado em São Paulo.

Segundo dados do Sebrae, empresas que passam pelo processo de incubação apresentam uma taxa de mortalidade nos três primeiros anos de 7% contra a de 59% registrada nos negócios em geral. No Brasil, existem cerca de 400 incubadoras e a quantidade de empresas incubadas ultrapassa as seis mil. Juntas, essas organizações geram mais de 30 mil postos de trabalho, segundo dados da Anprotec - Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores.

De acordo com a pesquisa “Panorama 2007” da Anprotec, 97% das incubadoras apontaram como seu objetivo principal o estímulo ao empreendedorismo. Em segundo lugar, aparece o desenvolvimento econômico regional (88%), seguido pela geração de empregos (84%) e só depois o desenvolvimento tecnológico (72%). Especialistas no assunto entendem que o foco das incubadoras hoje é mais amplo do que prover suporte de tecnologia. Elas podem e devem, por exemplo, estimular modelos de negócio mais sustentáveis, até porque este conceito está na ordem do dia dos mercados e, mais do que risco para os ativos, tem sido visto como oportunidade para gestores e empreendedores contemporâneos.

Empreendimentos sustentáveis
Segundo Risola, o Cietec passou a considerar a sustentabildiade como vetor de negócio a partir do momento em que projetos focados nesse tema começaram a chegar ao centro.

Um bom exemplo é o da Sharewater, assistida pelo Cietec desde 2006. A idéia de desenvolver soluções para o uso racional dos recursos hídricos surgiu a partir da iniciativa de três estudantes de engenharia que trabalharam no Programa de Uso Racional de Água da Universidade de São Paulo (Pura-USP). Concebido para minimizar o consumo de água, em 10 anos de implementação, o empreendimento proporcionou à universidade uma importante economia de R$ 153 milhões.

“Com base nos resultados do Pura, enxergamos nas soluções para uso racional da água uma oportunidade de negócio porque quando se trabalha com redução de custos, a preocupação ambiental se soma à financeira”, afirma Diogo Fonseca Carbonari, diretor comercial da Sharewater.

Graças ao suporte do Cietec, a Sharewater aprimorou tecnologias e processos antes de lançar-se no mercado. Para Carbonari, esse fator foi determinante para a consolidação do negócio. “Pegamos a onda da sustentabilidade. Quando a demanda por produtos sustentáveis aumentou, especialmente no mercado de construções, já tínhamos as soluções prontas. As construtoras, por exemplo, vêm adotando cada vez mais medidas para reduzir os impactos dos empreendimentos. O aumento dessa preocupação da sociedade acelera nosso negócio”, ressalta.

Em busca de parceiros
Ao criar a Brametais, em 2006, o empresário Claudio Duílio Ceci, também se antecipou às tendências. E já começou a ganhar com a ousadia. Sua empresa recupera materiais de equipamentos eletrônicos, principalmente, de informática, como plásticos e metais, que podem ser reutilizados para a fabricação de novos produtos. A técnica, denominada manufatura reversa, ainda é pouco conhecida no Brasil e o empreendedor vê no apoio da recém-criada Incubadora de Indaiatuba uma forma de desenvolver um mercado novo e desafiador.

Segundo levantamento da organização não-governamental Greenpeace, estima-se que sejam produzidas de 20 a 50 milhões de toneladas anuais de sucata eletrônica no Brasil, cerca de quatro mil toneladas por hora. “Apesar de não chamar muito a atenção, o lixo eletrônico precisa ser destinado corretamente. A manufatura reversa se apresenta como uma alternativa para o problema. Mas apesar de ser um mercado promissor, é difícil chegar sozinho às grandes corporações. Por isso buscamos a incubadora de Indaiatuba, para ter uma estrutura melhor em termos de divulgação, podendo oferecer serviços junto com outras empresas”, ressalta Duílio.

O empresário alega que recorreu à incubadora também para atender o volume e condições exigidas pelo mercado externo. As placas de circuitos impressos são os únicos componentes ainda não recuperados no Brasil. Duílio vende esse material a um intermediador que os comercializa na Europa.

Suporte logístico
Em 2000, o então professor universitário Luis Fernando Laranja decidiu apostar no desenvolvimento de negócios sustentáveis na Amazônia. Mudou-se com a esposa para a região de alta floresta no norte do Mato Grosso e, com recursos da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e da Fapemat (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso), estabeleceu um convênio com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz para estudar o potencial da castanha-do-pará, rica em ácidos graxos e selênio. O primeiro elemento confere à semente a capacidade de reduzir o colesterol e o segundo, a de combater radicais livres.

Depois de três anos de pesquisa, Laranja desenvolveu um processo inédito de prensagem a frio para, a partir desses ativos, fabricar azeite extra-virgem, um granulado e um creme, todos produtos voltados para a culinária.

Com o objetivo de acessar os mercados de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, ele se aproximou, em 2006, da incubadora de Piracicaba. “Com os produtos finais prontos para escala comercial, percebemos a necessidade de ter uma estrutura mais próxima do consumidor. A incubadora de Piracicaba nos oferecia essa possibilidade além de estar ao lado de nosso parceiro de pesquisa, a Esalq”, explica Laranja.

Desde então, a Ouro Verde Amazônia mantém uma sede no Mato Grosso, onde realiza a extração e o beneficiamento primário da castanha, com o apoio das comunidades locais, entre elas as indígenas e de assentados. Já as suas instalações na incubadora de Piracicaba concentram as etapas de processamento final, padronização, embalagem e distribuição dos produtos. A empresa, que ultrapassou o faturamento estipulado em R$ 540 mil para o ano de 2006, projeta alcançar R$ 30 milhões em 10 anos com a entrada de investidores no negócio, etapa que já começou a ser negociada.

Para Laranja, as incubadoras têm um papel importante na promoção de negócios sustentáveis. “Produtos e serviços verdes dependem muito mais de uma estrutura de marketing e divulgação para se consolidar no mercado. Por isso, é fundamental que haja apoio de incubadoras às empresas voltadas a sustentabilidade, especialmente na Amazônia. Apesar do potencial enorme da região, faltam tecnologias para explorar seus ativos de modo a proporcionar ganhos à empresa e à comunidade”, ressalta.

Planejar é preciso
“Se um empreendimento tradicional já requer trabalho, um empreendimento sustentável vai requerer muito mais”. Essa é a opinião de Regina Scharf e Roberto Smeraldi, autores do “Manual de negócios sustentáveis”. Longe de pretender desestimular aqueles que desejam se aventurar na área, os especialistas alertam para o fato de que esse tipo de empreendimento exige planejamento específico, baseado, sobretudo, em estratégias cujos objetivos não são apenas os ganhos econômicos, mas também ambientais e sociais.

Foi a partir de um plano de negócio que os fundadores da Sharewater decidiram mudar o foco de seu empreendimento, inicialmente projetado para racionalizar e reduzir a demanda por água, com base em tecnologias como a individualização da cobrança pelo consumo. Hoje, a empresa dedica-se muito mais ao conceito de conservação do recurso que se baseia no aumento da oferta por meio de tecnologias para aproveitamento da água pluvial e do lençol freático. Com isso, ampliou seu público, antes restrito a conjuntos habitacionais e comerciais, para grandes empresas.

“O plano de negócio é um organismo vivo que se altera com o tempo. Quando se inicia um empreendimento, por mais experiência que se tenha, deve-se avaliar as ações que proporcionam maior retorno, ficando atento a novas tecnologias e identificando as oportunidades de mercado”, explica Carbonari. No caso de negócios sustentáveis, recomenda-se considerar, no planejamento, variáveis como o envolvimento com as partes interessadas, a análise de impactos sociais e ambientais.


Fonte: Por Juliana Lopes, in Gazeta Mercantil

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