Quem se interessa pela saúde? Cidadãos, o próprio governo, entidades de classe, sindicatos, planos de saúde, distribuidores, farmácias, indústrias farmacêuticas etc. Saúde é um interesse coletivo e um terreno fértil para a defesa de muitos interesses distintos.
Se há necessidade de diálogo e entendimento, há também a necessidade de comunicação. Como é o governo quem dita as regras e regula fortemente o setor de saúde no Brasil, fica fácil de entender por que é tão importante o relacionamento com ele, pois há muito para informar, divulgar, convencer e, por fim, garantir.
Também são muitas as imagens a preservar, pois, no ideário popular, ‘alguém tem que pagar a conta’ pela escassez que nos atinge. E, se imagem é construída pela opinião pública, também não podemos dar menor importância ao seu peso no processo político e na sua força para condicionar ou limitar decisões de um lado ou de outro.
A partir daí, já fica mais fácil incluir relacionamento com o governo no pacote da comunicação integrada que tanto falamos. Se a construção da reputação se dá com iniciativas bem-sucedidas com formadores de opinião, imprensa, funcionários e comunidades, não é diferente com o governo. Difícil mesmo é fazê-lo num país em que há mau exemplo de ética e transparência.
Porém, o período em que venho trabalhando com o governo tem me mostrado que há espaço para todos: para quem quer pegar atalhos e para quem quer fazer o certo. Fazer o certo, para mim, está ligado ao respeito aos princípios de legalidade (ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude da lei), à impessoalidade (exclui interpretações forçadas de direitos e obrigações em benefício de apenas uma parte), à moralidade (afastar-se de quem corrompe e quem se deixa corromper) e à publicidade (é direito receber informações do Estado, portanto, também é ético buscá-las por meios lícitos).
Relações com o governo é uma atividade legal e legítima em busca do diálogo e da defesa de interesses. Afinal de contas, a democracia não pressupõe consenso, e sim a existência de controvérsias e distintas formas de lidar com as mesmas questões.
O relacionamento com o governo pode ser feito de muitas formas. Parece-me fundamental fazê-lo para informar e mostrar a boa vontade da empresa privada (ou qualquer outro interessado) em buscar soluções conjuntas que beneficiem os cidadãos. Se há um ponto de contato verdadeiro entre todos que buscam espaço para defender seu interesse em saúde, este é como tornar a saúde mais acessível à população. Daí surgem, por exemplo, programas de apoio às iniciativas do governo, como campanhas de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Também há atração do interesse público em manifestar sua opinião frente a um benefício que se pretende instalar. O governo tem buscado fortalecer a indústria nacional, o que leva tempo. No período de um ano, o potencial de investimento em infra-estrutura, tecnologia e geração de empregos que a indústria multinacional poderia trazer ao país seria mais representativo para a população.
A outra forma é antecipar crises. Se a empresa quer participar da decisão, tem de participar da discussão, entender os trâmites nas casas públicas e garantir que tenha voz e espaço para compartilhar seu ponto de vista. Lembro-me da questão do fracionamento de medicamentos: a decisão parecia simples e certa, mas de início não foram considerados os possíveis problemas de reconhecimento de lote, controle de prazo de validade e facilidade de confusão por parte do consumidor. Até hoje, há controvérsia.
Finalmente, também há espaço para a criação de um clima favorável a determinada mudança. Foi assim com a entrada de genéricos no Brasil, precedido pelo apoio popular e pelo convencimento da opinião pública de que a medida ampliaria acesso. Também houve um lobby muito forte do governo para criar simpatia popular à quebra de patente.
Relacionamento com governo é algo que se colhe a longo prazo, pois requer construção de confiança. Há caminhos mais curtos, mas que não valem a pena. Persistência, paciência e humildade (ninguém é dono da verdade) criam condições ideais para a construção de imagem e reputação que facilitam o trâmite de qualquer assunto de interesse público.
É também um universo de possibilidades para o setor privado valorizar sua importância para a economia, sua contribuição para estimular o progresso e o bem-estar da sociedade.
Fonte: Por Viviane Mansi - gerente de Comunicação da Merck Sharp & Dohme, in www.nosdacomunicacao.com
Se há necessidade de diálogo e entendimento, há também a necessidade de comunicação. Como é o governo quem dita as regras e regula fortemente o setor de saúde no Brasil, fica fácil de entender por que é tão importante o relacionamento com ele, pois há muito para informar, divulgar, convencer e, por fim, garantir.
Também são muitas as imagens a preservar, pois, no ideário popular, ‘alguém tem que pagar a conta’ pela escassez que nos atinge. E, se imagem é construída pela opinião pública, também não podemos dar menor importância ao seu peso no processo político e na sua força para condicionar ou limitar decisões de um lado ou de outro.
A partir daí, já fica mais fácil incluir relacionamento com o governo no pacote da comunicação integrada que tanto falamos. Se a construção da reputação se dá com iniciativas bem-sucedidas com formadores de opinião, imprensa, funcionários e comunidades, não é diferente com o governo. Difícil mesmo é fazê-lo num país em que há mau exemplo de ética e transparência.
Porém, o período em que venho trabalhando com o governo tem me mostrado que há espaço para todos: para quem quer pegar atalhos e para quem quer fazer o certo. Fazer o certo, para mim, está ligado ao respeito aos princípios de legalidade (ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude da lei), à impessoalidade (exclui interpretações forçadas de direitos e obrigações em benefício de apenas uma parte), à moralidade (afastar-se de quem corrompe e quem se deixa corromper) e à publicidade (é direito receber informações do Estado, portanto, também é ético buscá-las por meios lícitos).
Relações com o governo é uma atividade legal e legítima em busca do diálogo e da defesa de interesses. Afinal de contas, a democracia não pressupõe consenso, e sim a existência de controvérsias e distintas formas de lidar com as mesmas questões.
O relacionamento com o governo pode ser feito de muitas formas. Parece-me fundamental fazê-lo para informar e mostrar a boa vontade da empresa privada (ou qualquer outro interessado) em buscar soluções conjuntas que beneficiem os cidadãos. Se há um ponto de contato verdadeiro entre todos que buscam espaço para defender seu interesse em saúde, este é como tornar a saúde mais acessível à população. Daí surgem, por exemplo, programas de apoio às iniciativas do governo, como campanhas de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Também há atração do interesse público em manifestar sua opinião frente a um benefício que se pretende instalar. O governo tem buscado fortalecer a indústria nacional, o que leva tempo. No período de um ano, o potencial de investimento em infra-estrutura, tecnologia e geração de empregos que a indústria multinacional poderia trazer ao país seria mais representativo para a população.
A outra forma é antecipar crises. Se a empresa quer participar da decisão, tem de participar da discussão, entender os trâmites nas casas públicas e garantir que tenha voz e espaço para compartilhar seu ponto de vista. Lembro-me da questão do fracionamento de medicamentos: a decisão parecia simples e certa, mas de início não foram considerados os possíveis problemas de reconhecimento de lote, controle de prazo de validade e facilidade de confusão por parte do consumidor. Até hoje, há controvérsia.
Finalmente, também há espaço para a criação de um clima favorável a determinada mudança. Foi assim com a entrada de genéricos no Brasil, precedido pelo apoio popular e pelo convencimento da opinião pública de que a medida ampliaria acesso. Também houve um lobby muito forte do governo para criar simpatia popular à quebra de patente.
Relacionamento com governo é algo que se colhe a longo prazo, pois requer construção de confiança. Há caminhos mais curtos, mas que não valem a pena. Persistência, paciência e humildade (ninguém é dono da verdade) criam condições ideais para a construção de imagem e reputação que facilitam o trâmite de qualquer assunto de interesse público.
É também um universo de possibilidades para o setor privado valorizar sua importância para a economia, sua contribuição para estimular o progresso e o bem-estar da sociedade.
Fonte: Por Viviane Mansi - gerente de Comunicação da Merck Sharp & Dohme, in www.nosdacomunicacao.com
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