Pular para o conteúdo principal

O Clã do Jornalismo Empresarial

Quando a Imprensa nacional comemora os seus primeiros 200 anos, a Comunicação Empresarial comemora, durante os meses de maio e junho, os 20 anos do Clã, que foi, se não o melhor, o mais impactante jornal de empresa feito, até hoje, no Brasil.

Examinado por olhares acostumados as publicações criadas pelas maravilhas e facilidades digitais da atualidade, o Clã, de 1988, ainda pode impressionar pela diagramação, arte e ilustração, essas de autoria de Miguel Paiva.

Mas é pela sua pauta muito além da empresa que o Clã entrou para a história do Jornalismo Empresarial brasileiro e, por que não, do Jornalismo Brasileiro. O jornal para os funcionários da Goodyear do Brasil dedicou o seu número especial para o tema da AIDS, um assunto, ainda agora, carregado de preconceitos, imagine, então, na época.

Para destrinchar o tema tão complexo, a jornalista e responsável pelo Clã, Célia Cambraia, reuniu uma equipe de ouro, comandada por Geraldo Mayrink e Miguel Paiva (Editores), Selma Arruda Alves (Produção), Fernanda A. Torres e Renata Pacheco (Redação), Graciela Karman (Edição de Texto), Jussara Amoroso Dias (Revisão), Helena Ujikawa (Produção e Arte Final) e consultoria do Dr. Drauzio Varella, na época, não tão conhecido, Chefe do Serviço de Imunologia Clínica do Hospital do Câncer de São Paulo.

O grupo produziu uma publicação, formato tablóide, papel offset, quatro cores, 16 páginas, e como manchete principal a palavra AIDS, dramatizada em vermelho. Página a página, a doença foi explicada, harmonizando mensagens de perfis informativo, interpretativo e opinativo, conforme as retrancas didáticas: "O que é, "O vírus", "Como age", "Seus sintomas", "Seus efeitos", "Onde ataca", "Nas relações homossexuais", "Nos hemofílicos", "Nas transfusões", "Nas mulheres", "Nas crianças", "O que pensa a sociedade", "O Estado", "A Igreja", "A lei", e outras.

O Clã diante do assunto controverso ouviu dezenas de fontes, entre elas, Betinho, além de muitos outros pontos de vistas sobre a AIDS, pioneiramente difundidos. Os exemplos de vítimas da doença vieram de personalidades conhecidas como o ator Rock Hudson, o grafiteiro Alex Vallauri, o cineasta Leon Hirszman, o pintor Darcy Penteado, o cabeleireiro Markito, o pintor Jorge Guinle Filho e o cartunista Henfil.

A publicação enfrentou bem o desafio de explicar, com ilustrações realistas e textos sem enrolação, como colocar a, até então, "invisível" camisinha. Em sua última página, o Clã organizou dezenas de endereços úteis, em todo o país, para a prevenção e o tratamento da doença.

A importância social do número especial de o Clã foi reconhecida em todo o Brasil, o que fez com que o Departamento de Relações Públicas da Goodyear, dirigido por Cyrill G.P. Walter, imprimisse várias vezes a publicação para atender aos milhares de pedidos de exemplares da publicação, oriundos de organizações populares, escolas, igrejas, dentre outras.

Muito antes da temática da responsabilidade social e da sustentabilidade entrar de forma massiva nas pautas dos comunicadores, o Clã mostrou, 20 anos atrás, que as publicações empresariais, quando não ficam presas aos assuntos da linha de produção ou dos escritórios e tratam também de temas do ambiente social e de interesse de seu empregado enquanto integrante da sociedade, criam valor não só para os acionistas. Por sua comunicação que transcendeu a sua produção de pneus, nos anos 1980, a Goodyear do Brasil e os seus comunicadores serão lembrados também pelo seu Clã.


Fonte: Por Paulo Nassar, in www.aberje.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Funcionários da Domino´s Pizza postam vídeo no You Tube e são processados

Dois funcionários irresponsáveis imaginam um vídeo “muito engraçado” usando alimentos e toda sorte de escatologia. O cenário é uma cozinha da pizzaria Domino´s. Pronto, está feito o vídeo que mais chamou a atenção da mídia americana na semana passada. Nele, os dois funcionários se divertem enquanto um espirra na comida, entre outras amostras de higiene pessoal. Tudo isso foi postado no you tube no que eles consideraram “uma grande brincadeira”. O vídeo em questão, agora removido do site, foi visto por mais de 930 mil pessoas em apenas dois dias. (o vídeo já foi removido, mas pode ser conferido em trechos nesta reportagem: http://www.youtube.com/watch?v=eYmFQjszaec ) Mas para os consumidores da rede, é uma grande(síssima) falta de respeito. Restou ao presidente a tarefa de “limpar” a bagunça (e a barra da empresa). Há poucos dias, Patrick Doyle, CEO nos EUA, veio a público e respondeu na mesma moeda. No vídeo de dois minutos no You Tube, Doyle ( http://www.youtube.com/watch?v=7l6AJ49xNS