Os leitores e talvez os próprios jornalistas provavelmente não se deram conta ainda de uma situação bastante singular e que tipifica, notavelmente, a chamada "grande imprensa".
Apesar do conjunto generoso de editorias, cadernos e pautas, as fontes que costumam subsidiar as matérias (notas, notícias e reportagens) não têm sido assim tão diversas. Por um viés inerente à rotina da produção jornalística, elas se repetem com uma certa regularidade sobretudo em determinadas coberturas, o que, de imediato, compromete a qualidade do debate que freqüenta as páginas dos nossos principais jornais e revistas.
É possível argumentar que, para pautas muito específicas, nem sempre há fontes em profusão e que a pressão do tempo obriga os jornalistas a recorrerem a entrevistados sempre disponíveis e habituados ao relacionamento com a mídia. Existem fontes que assediam a imprensa o tempo todo, mesmo quando nada têm de relevante para declarar.
Mas temos aqui apenas uma meia verdade. Temas muito especializados implicam necessariamente numa menor oferta de fontes, mas elas certamente são mais numerosas do que as acessadas atualmente pelos profissionais de imprensa. Se os jornalistas e os veículos se empenhassem um pouco mais, poderiam, mesmo a curto prazo, aumentar as alternativas, ampliando o conjunto de fontes a quem recorrer. A Internet tem ampliado formidavelmente esta possibilidade porque permite que se possa interagir com fontes geograficamente distantes. Para que isso ocorra, é fundamental, no entanto, saber que elas existem e onde e quando podem ser encontradas. O jornalista preguiçoso espera que as coisas aconteçam e, infelizmente, este personagem indolente é cada vez mais comum em nossas redações.
Não é sempre recomendável ( muito pelo contrário, pode ser até perigoso) enriquecer o caderninho de fontes (ou a pasta definida para esse fim em um programa de e-mails) com sugestões de nomes que chegam com facilidade às nossas caixas postais, "plantados" por agências e assessorias, embora, em alguns poucos casos, devemos reconhecer que elas nos jogam algumas "pérolas" em nosso colo.
Os jornalistas e veículos deveriam "prospectar" as suas próprias fontes, identificando-as sempre com seus compromissos e interesses porque, implícita ou explicitamente, elas estarão conduzindo o debate a partir de suas falas.
Uma imprensa cada vez menos investigativa acaba se acomodando àquilo que está ao alcance das mãos e se torna refém das fontes e de quem as patrocina. Essa situação é flagrante na cobertura política, cada vez mais oficialesca, mas também na cobertura especializada (científica, econômica, agrícola, ambiental etc), dependente de determinados porta-vozes empresariais travestidos de especialistas. Isso ocorre fundamentalmente em determinados segmentos, como a indústria da saúde, a indústria agroquímica e a indústria de biotecnologia. Ocorre, inclusive e principalmente, na própria indústria da comunicação/propaganda, que, de uma hora para outra, passou a ser a defensora intransigente da liberdade de expressão. Na verdade, como temos visto, ela, apesar do seu discurso grandiloquente, apenas acoberta os seus interesses comerciais (como se pode depreender da campanha de resistência às restrições propostas pela Anvisa para a publicidade de bebidas ou voltada para as crianças).
O jornalismo brasileiro anda órfão de fontes porque prefere burocraticamente praticar a política do menor esforço. Se Monteiro Lobato estivesse vivo, veria no colega padrão que habita muitas das nossas redações um Jeca Tatu redivivo, agora não de cócoras, mas sonolento, a bunda colada majestosamente na cadeira à frente de uma tela de computador.
A falta de diversidade não é exclusiva das matérias e das notas das colunas. Está latente também nas cartas dos leitores, nos espaços destinados à participação dos colaboradores (tipo "tendências e debates da Folha de S. Paulo) e naqueles que, de maneira privilegiada, assinam colunas, algumas delas acintosamente utilizadas como reforço de seus negócios particulares.
O (a) amigo (a) internauta mais atento (a) descobrirá, por exemplo, que as mulheres interagem muito pouco com os veículos (veja a seção "carta de leitores", escandalosamente machista), que os trabalhadores, as organizações não-governamentais e outras categorias representativas da sociedade não assinam colunas, não escrevem artigos, ou seja o espaço da mídia é absolutamente viciado.
Definitivamente, os empresários e editores têm uma visão muito particular da liberdade de expressão. Para dizer o mínimo, eles a têm negociado com apenas alguns poucos grupos.
A falta de espírito democrático e de cidadania tem a ver com a reduzida diversidade das fontes jornalísticas e está escancarada na postura da grande imprensa que restringe o círculo de pessoas que estão autorizadas a participar do debate.
Fonte: Por Wilson da Costa Bueno, in www.portalimprensa.com.br
Apesar do conjunto generoso de editorias, cadernos e pautas, as fontes que costumam subsidiar as matérias (notas, notícias e reportagens) não têm sido assim tão diversas. Por um viés inerente à rotina da produção jornalística, elas se repetem com uma certa regularidade sobretudo em determinadas coberturas, o que, de imediato, compromete a qualidade do debate que freqüenta as páginas dos nossos principais jornais e revistas.
É possível argumentar que, para pautas muito específicas, nem sempre há fontes em profusão e que a pressão do tempo obriga os jornalistas a recorrerem a entrevistados sempre disponíveis e habituados ao relacionamento com a mídia. Existem fontes que assediam a imprensa o tempo todo, mesmo quando nada têm de relevante para declarar.
Mas temos aqui apenas uma meia verdade. Temas muito especializados implicam necessariamente numa menor oferta de fontes, mas elas certamente são mais numerosas do que as acessadas atualmente pelos profissionais de imprensa. Se os jornalistas e os veículos se empenhassem um pouco mais, poderiam, mesmo a curto prazo, aumentar as alternativas, ampliando o conjunto de fontes a quem recorrer. A Internet tem ampliado formidavelmente esta possibilidade porque permite que se possa interagir com fontes geograficamente distantes. Para que isso ocorra, é fundamental, no entanto, saber que elas existem e onde e quando podem ser encontradas. O jornalista preguiçoso espera que as coisas aconteçam e, infelizmente, este personagem indolente é cada vez mais comum em nossas redações.
Não é sempre recomendável ( muito pelo contrário, pode ser até perigoso) enriquecer o caderninho de fontes (ou a pasta definida para esse fim em um programa de e-mails) com sugestões de nomes que chegam com facilidade às nossas caixas postais, "plantados" por agências e assessorias, embora, em alguns poucos casos, devemos reconhecer que elas nos jogam algumas "pérolas" em nosso colo.
Os jornalistas e veículos deveriam "prospectar" as suas próprias fontes, identificando-as sempre com seus compromissos e interesses porque, implícita ou explicitamente, elas estarão conduzindo o debate a partir de suas falas.
Uma imprensa cada vez menos investigativa acaba se acomodando àquilo que está ao alcance das mãos e se torna refém das fontes e de quem as patrocina. Essa situação é flagrante na cobertura política, cada vez mais oficialesca, mas também na cobertura especializada (científica, econômica, agrícola, ambiental etc), dependente de determinados porta-vozes empresariais travestidos de especialistas. Isso ocorre fundamentalmente em determinados segmentos, como a indústria da saúde, a indústria agroquímica e a indústria de biotecnologia. Ocorre, inclusive e principalmente, na própria indústria da comunicação/propaganda, que, de uma hora para outra, passou a ser a defensora intransigente da liberdade de expressão. Na verdade, como temos visto, ela, apesar do seu discurso grandiloquente, apenas acoberta os seus interesses comerciais (como se pode depreender da campanha de resistência às restrições propostas pela Anvisa para a publicidade de bebidas ou voltada para as crianças).
O jornalismo brasileiro anda órfão de fontes porque prefere burocraticamente praticar a política do menor esforço. Se Monteiro Lobato estivesse vivo, veria no colega padrão que habita muitas das nossas redações um Jeca Tatu redivivo, agora não de cócoras, mas sonolento, a bunda colada majestosamente na cadeira à frente de uma tela de computador.
A falta de diversidade não é exclusiva das matérias e das notas das colunas. Está latente também nas cartas dos leitores, nos espaços destinados à participação dos colaboradores (tipo "tendências e debates da Folha de S. Paulo) e naqueles que, de maneira privilegiada, assinam colunas, algumas delas acintosamente utilizadas como reforço de seus negócios particulares.
O (a) amigo (a) internauta mais atento (a) descobrirá, por exemplo, que as mulheres interagem muito pouco com os veículos (veja a seção "carta de leitores", escandalosamente machista), que os trabalhadores, as organizações não-governamentais e outras categorias representativas da sociedade não assinam colunas, não escrevem artigos, ou seja o espaço da mídia é absolutamente viciado.
Definitivamente, os empresários e editores têm uma visão muito particular da liberdade de expressão. Para dizer o mínimo, eles a têm negociado com apenas alguns poucos grupos.
A falta de espírito democrático e de cidadania tem a ver com a reduzida diversidade das fontes jornalísticas e está escancarada na postura da grande imprensa que restringe o círculo de pessoas que estão autorizadas a participar do debate.
Fonte: Por Wilson da Costa Bueno, in www.portalimprensa.com.br
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