Pular para o conteúdo principal

Avaliação e mensuração de resultados em comunicação

ABRP promoveu no mês de outubro o terceiro meeting, evento destinado a profissionais de comunicação e Relações Públicas, que tem como objetivo a discussão de temas de grande repercussão na área, com a presença de profissionais que são referência no setor. O debate teve como tema central a Avaliação e Mensuração de Resultados em Comunicação, principais metodologias e cases de sucesso.

Moderado pela Profa. Dra. Valéria Castro, a mesa foi composta pela coordenadora do DATA ABERJE e sócia diretora da Idéia FiX Comunicação, Suzel Figueiredo, que falou da pesquisa como forma de avaliação e mensuração e a sócia e diretora executiva da LVBA Comunicação, Gisele Lorenzetti, que abordou o IDI® - Índice de Desempenho Institucional. Após as apresentações, os participantes assistiram a apresentação de cases e participaram de debate com as convidadas.

Valéria Castro no fechamento do meeting, frente às apresentações e debates, aponta a pesquisa como o caminho para a valorização da área de comunicação empresarial, a diferença entre avaliar processos X retenção e a necessidade de mudança no perfil dos profissionais, que precisam estar cada vez mais preparados para trabalhar com índices, metas e resultados tangíveis.

Transcrevo abaixo as entrevistas realizadas com Suzel Figueiredo e Gisele Lorenzetti:


Entrevista com Suzel Figueiredo:

Com relação ao mercado de pesquisa, qual o tipo de pesquisa é mais solicitado e realizado pelas empresas no Brasil? As empresas que procuram a Ideafix apresentam em sua maioria qual necessidade?
Suzel - Nossas maiores demandas são de mensuração de resultados na comunicação interna e no relacionamento com a mídia. As empresas precisam, cada dia mais, de indicadores de desempenho de suas áreas e as pesquisas demonstram a efetividade do esforço de comunicação. Na Ideafix temos realizado projetos de avaliação de meios de comunicação, campanhas, lançamentos de produtos, adesão a valores corporativos, retenção de mensagens, dentre outras pesquisas.

Na sua apresentação, você comentou que o mercado nacional já faz muitos bons trabalhos em pesquisa, e a Gisele Lorenzetti inclusive comentou que o Brasil não estaria atrasado na área porque nem as multinacionais sabem medir com tanta facilidade os resultados de seus planos. Como você avalia o caminho que o mercado nacional está percorrendo na área, quais as tendências?
Suzel - O Brasil sempre se caracterizou por ser muito criativo, especialmente na área de comunicação. Conheço especialistas em pesquisa de comunicação de vários países e afirmo que estamos totalmente alinhados com as tendências internacionais. Reconheço, no entanto, que nós brasileiros não temos o hábito de registrar conhecimento e dissemina-lo. Por este motivo temos a sensação de que estamos a reboque do que se faz em outros países. Várias empresas brasileiras, dentre elas a Ideafix, já desenvolveram seus modelos de indicadores de resultados em comunicação.

Você abordou de forma decisiva a diferença entre avaliar processos/meios, e avaliar retenção/atributos, partindo do pressuposto que comunicação não é que se fala, mas o que o receptor entende. Na sua opinião, o aumento da realização de pesquisas que realmente meçam o resultado dos planos de comunicação depende da mudança de cultura e posicionamento dos profissionais? Quais processos são decisivos em sua opinião?
Suzel - O primeiro passo é incorporar a pesquisa como uma etapa do trabalho. Só é possível medir aquilo que foi planejado, pois se o objetivo da comunicação não é claro, não há como avaliar o resultado. Percebo um enorme interesse pelo assim e este é um excelente sinal. Nunca se falou tanto sobre o assunto e isto motiva os profissionais a se informarem. No dia a dia da Ideafix encontramos empresas em diferentes estágios de uso da pesquisa. Há quem esteja avaliando processos e meios, - e arrisco dizer que é a maioria, mas há também empresas que já estão medindo eficácia de seus processos. Neste caso já são equipes que têm a clareza de que a mensuração de resultados é o caminho da valorização da área de comunicação empresarial.

A necessidade do planejamento estratégico das ações foi colocada por você como essencial para conseguir medir resultados de forma correta, exemplificando a relação entre os objetivos, por exemplo. Quais fatores são determinantes na relação plano e pesquisa?
Suzel - Tudo começa com pesquisa. É ela que vai entender o cenário, o perfil do entrevistado, percepção dos públicos, o grau de interesse sobre temas diversos, enfim, é a pesquisa que dá ao profissional os subsídios para o planejamento. É muito comum que as empresas desenvolvam uma série de ações de comunicação desconectadas de um planejamento. Quando se deseja medir os resultados da ações, não existe uma parâmetro comparativo. Exemplificando: suponha que 53% das pessoas avaliaram positivamente uma campanha. E o que isto significa? Se o profissional não consegue comparar, é impossível saber se este é um resultado positivo ou se existia potencial para muito mais.

Você comentou a necessidade da área de comunicação começar a criar índices e indicadores do resultado da comunicação. Você acredita que falta ao profissional de comunicação a habilidade de trabalhar com números e metas? Qual orientação geral você daria aos profissionais da área, que serão cada vez mais pressionados por resultados tangíveis?
Suzel - Temos um problema de formação acadêmica. Minha equipe é composta por pessoas de formações diversas e percebo a diferença entre relações públicas /jornalistas e administradores. A universidade prepara os comunicadores para as questões conceituais e técnicas, mas investe pouco em gestão. A pesquisa é um processo de gestão e por este motivo ela é tão familiar aos administradores. Hoje as empresas têm equipes muito enxutas de comunicação e isto demanda um profissional multidisciplinar, que seja capaz de gerenciar processos e pessoas. No futuro haverá cada vez menos espaço para quem não dominar indicadores, gestão financeira de projetos, tecnologia e, evidentemente, um entendimento muito claro do mercado em que a empresa está inserida. Aos estudantes de hoje recomendo que também sejam estudantes amanhã, porque pesquisa é a bola da vez, mas quando todos estiveram habilitados no assunto, a demanda já será outra.



Entrevista Gisele Lorenzetti:

Como você avalia o cenário nacional na área de Avaliação e Mensuração de Resultados? Qual tendência pode ser percebida na atuação das organizações no Brasil?
Gisele - Era inevitável que esta tendência chegasse à área de comunicação. As organizações não aceitam mais o intangível e o não mensurável. Assim sendo, vários movimentos aconteceram no sentido de buscar uma solução para esta questão na área de comunicação. Não chegamos a um modelo único, a um consenso em relação ao tema. Mas, pessoalmente, acho que isso é irrelevante. A riqueza deste momento está exatamente nisso: há um movimento acontecendo no mundo todo discutindo este tema.

No meeting, discutimos diagnóstico, retenção e implementação. Você avalia que a maior deficiência das empresas está em fazer pesquisa de diagnóstico e retenção ou em cumprir um plano de acordo com a estratégia?
Gisele - Acho que falamos de um assunto só: a deficiência está no planejamento. Se pensarmos que o planejamento começa com um diagnóstico que deve avaliar o impacto e a retenção das mensagens já trabalhadas pela empresa, que este diagnóstico é a base do planejamento e que a boa execução do planejamento permitirá sua avaliação, falamos de planejamento.

Percebemos que as empresas tendem a não dar o valor necessário para esta etapa de trabalho. Pouco é investido em pesquisa e com isso os diagnósticos ficam comprometidos. O planejamento é pouco estratégico e muito tático, então como podemos falar em ter uma comunicação estratégica capaz de disseminar key messages que contribuam para o posicionamento ideal de uma corporação?
Em qual proporção uma implantação de projeto solto, não alinhado ao planejamento estratégico, vem comprometendo os resultados de um projeto e a credibilidade de profissionais e da área de comunicação?
Gisele - Não sei se a ausência do planejamento compromete a credibilidade do profissional ou se o profissional não tem brigado o suficiente pela execução do planejamento estratégico. Pessoalmente, não gosto de lamentar o que não temos. Minha tendência é ver que não temos porque não brigamos por isso e acho que, não raro, os profissionais não têm brigado o suficiente para assumir papeis e marcar seu território.

Podemos afirmar que a ferramenta criada pela LVBA Comunicação, IDI®, mais que medir resultados, objetiva assegurar que uma empresa execute um programa de ações conforme o planejado e que desta forma os resultados de retenção não sejam prejudicados por falhas na implementação?
Gisele - Excelente tradução! É exatamente isso. O IDI® nasceu com o objetivo de ser uma ferramenta que permita que as ações desenvolvidas estejam consistentes com o planejamento e, desta forma, asseguramos a boa emissão das mensagens o que, em parte, pode significar retenção adequada.

Qual sua análise sobre os resultados desta ferramenta na disciplina dos profissionais de comunicação e na conscientização das empresas?
Gisele - Gosto da expressão disciplina porque é exatamente isso que visa o IDI®. Só que infelizmente as pessoas confundem disciplina com cerceamento à criatividade. Na verdade, quando temos uma ferramenta que organiza as ações, tornamos sua execução mais simples e podemos dedicar mais tempo – este bem tão escasso – ao exercício da criatividade.

Qual a mensagem chave para o profissional que deseja iniciar a avaliação e mensuração de resultados de seus planos estratégicos?
Gisele - Que desenvolva indicadores para isso. E, preferencialmente, que estes indicadores estejam ligados à presença de mensagens preferenciais. Já é um excelente começo.


Fonte: www.abrpsp.org.br - Boletim ABRP SP Nº 04 - Novembro de 2007

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Funcionários da Domino´s Pizza postam vídeo no You Tube e são processados

Dois funcionários irresponsáveis imaginam um vídeo “muito engraçado” usando alimentos e toda sorte de escatologia. O cenário é uma cozinha da pizzaria Domino´s. Pronto, está feito o vídeo que mais chamou a atenção da mídia americana na semana passada. Nele, os dois funcionários se divertem enquanto um espirra na comida, entre outras amostras de higiene pessoal. Tudo isso foi postado no you tube no que eles consideraram “uma grande brincadeira”. O vídeo em questão, agora removido do site, foi visto por mais de 930 mil pessoas em apenas dois dias. (o vídeo já foi removido, mas pode ser conferido em trechos nesta reportagem: http://www.youtube.com/watch?v=eYmFQjszaec ) Mas para os consumidores da rede, é uma grande(síssima) falta de respeito. Restou ao presidente a tarefa de “limpar” a bagunça (e a barra da empresa). Há poucos dias, Patrick Doyle, CEO nos EUA, veio a público e respondeu na mesma moeda. No vídeo de dois minutos no You Tube, Doyle ( http://www.youtube.com/watch?v=7l6AJ49xNS