Como recuperar uma empresa à beira da falência? Nessa luta, o comunicador empresarial tem papel primordial. É ele quem vai jogar luz sobre cada deficiência da empresa. E, em seguida, ao lado do presidente/proprietário, discutir a estratégia para reequilibrar o negócio. Cabe ao comunicador responder a velha questão: "o que fazer?". Para isso ele é pago e assim espera o empresário. Deste modo, todo comunicador necessita compreender o funcionamento e a estrutura de uma empresa.
O caso em questão é de uma pequena padaria do Sul de Minas Gerais, sediada no município de Campo do Meio, e que pode ser aplicado em qualquer empresa, independente do calibre. Criada em 1972, a Arte Pão enfrentou sua pior crise a partir dos anos 2000. Período no qual se aventurou em negócios pouco promissores: aquisições de outras empresas do mesmo segmento. Porém, sem tomar cuidados básicos, como realizar pesquisa de mercado. Resultado: os prejuízos passaram a cair sobre a velha matriz, que abandonava investimentos para socorrer as filiais. E neste meio tempo, a concorrência (uma cidade de 11 mil habitantes e com sete padarias) crescia de forma considerável. Combinação que não poderia ser mais desastrosa.
Em 2003, entro finalmente nesse imbróglio. Depois de terminar o colegial e de não ter condições financeiras de ingressar na faculdade, justamente pela crise financeira (o próprio país enfrenta um período econômico turbulento) tive de entrar nos negócios. Já trabalhava na padaria, mas de forma pouco ativa. Nas jornadas de trabalho (de 4 horas) comecei a me incomodar com a falta de clientes - perguntava para a balconista, "cadê o povo?" Ela dava de ombros. Felizmente, foi a inatividade que abriu espaço para a criação. Coube a mim mostrar o que deveria ser feito, já que meus pais pouco estudaram, e estavam meio que "parados no tempo".
A primeira ação foi reunir a família e eliminar a idéia de encontrar "o culpado". O momento exigia união. Antes de qualquer atitude, cada membro da família foi incumbido de uma responsabilidade. A meta era recuperar os clientes. E como fazer isso? Nossa aposta foi na inovação. Divididas as funções - fiquei encarregado do marketing e comunicação e meu pai da área econômica, sua tarefa era livrar-se do banco - a proposta era recriar as estratégias usadas pelas grandes redes de padaria: oferecer um leque de produtos de qualidade, sofisticados, com preço atraente e num ambiente agradável.
No segundo momento foi hora de conhecer a opinião do público. Criamos um questionário com dez questões (qualidade dos produtos, preços, atendimento, etc.) que trouxe informações preciosas, como a de que a balconista do período da manhã não era muito agradável, tinha "a cara ruim". A partir disso, dois funcionários foram demitidos, o que rendeu uma queda de braço com meus pais, que diziam que "a funcionária era de confiança". O perfil dos contratados deveria incorporar o novo espírito da padaria: um local onde todos se sentissem à vontade para consumir.
A nova postura precisava chegar ao conhecimento do público. Voltamos a anunciar nas rádios, a patrocinar festas, eventos esportivos e criamos uma nova logo marca, sublinhando as mudanças em rumo.
Em tese tudo voltava ao normal. Em tese. O próximo estágio era um dos mais delicados: voltar a investir, já que as finanças estavam saneadas e as vendas cresciam, depois de dois anos. A decisão foi investir em uma reforma na área de produção e na cozinha, para, em seguida, reformar a fachada e trocar os móveis da padaria, o que reforçou a imagem de compromisso e excelência que buscávamos.
Resultado: o quadro de funcionários dobrou, o faturamento quintuplicou e a excelência, traduzida no slogan "um novo conceito em panificação", se tornou a marca do negócio. Com a recuperação pude vir para Campinas e cursar jornalismo. Atualmente, estuda-se a ampliação da padaria para transformá-la num multi-negócio, que compreende sorveteria, adega, hortifrutti, lanchonete e mercearia, em um ambiente com total requinte.
O desafiador foi que percorri todo esse caminho sem nenhuma base teórica, andei apenas com o que havia experimentado em 18 anos de vida. Hoje me transformei em consultor informal da padaria. Nenhum passo é dado sem o meu aval. Meu papel é antecipar o futuro. Aproveito minha permanência em São Paulo, estado mais desenvolvido, para acompanhar as transformações do mercado e adaptá-las à realidade mineira - as pessoas normalmente fazem o mesmo, só que com os países desenvolvidos em relação ao Brasil. No natal passado, por exemplo, a padaria contou com uma programação especial. Convidei um violinista para tocar durante todo o dia. Os clientes ficaram atônitos e a novidade foi assunto na cidade por um bom tempo. A inspiração veio do Carrefour (da Norte-Sul, em Campinas) que meses antes trouxera um show acústico em suas dependências.
Às vezes me perguntam o que fazer para evitar uma crise, minha resposta é simples: não se acomode jamais. Uma empresa funciona como um organismo vivo, em transformação constante. O dia em que um empresário acreditar que o negócio está consolidado, ele estará fadado ao fracasso. É um ponto que faço questão de enfatizar, pois é muito comum as pessoas perderem o rumo justamente no momento de prosperidade, momento no qual a crise costuma surgir de forma traiçoeira. Com as contas transbordando, os investimentos são redirecionados da empresa para a vida particular - carros de luxo, mansões ou quaisquer artigos supérfluos.
Ao se dar conta do abismo, todo mundo é culpado (economia, funcionários, o sócio ou o ramo deixou de ser rentável), menos o proprietário, que se deixou seduzir pelas tentações do paraíso. É claro que se deve usufruir dos benefícios gerados pelos anos de trabalho, mas cautela na vida do empresário é atributo indispensável.
Fonte: Por Paulo Henrique A. Vaz, http://blogdopaulovaz.blogspot.com
O caso em questão é de uma pequena padaria do Sul de Minas Gerais, sediada no município de Campo do Meio, e que pode ser aplicado em qualquer empresa, independente do calibre. Criada em 1972, a Arte Pão enfrentou sua pior crise a partir dos anos 2000. Período no qual se aventurou em negócios pouco promissores: aquisições de outras empresas do mesmo segmento. Porém, sem tomar cuidados básicos, como realizar pesquisa de mercado. Resultado: os prejuízos passaram a cair sobre a velha matriz, que abandonava investimentos para socorrer as filiais. E neste meio tempo, a concorrência (uma cidade de 11 mil habitantes e com sete padarias) crescia de forma considerável. Combinação que não poderia ser mais desastrosa.
Em 2003, entro finalmente nesse imbróglio. Depois de terminar o colegial e de não ter condições financeiras de ingressar na faculdade, justamente pela crise financeira (o próprio país enfrenta um período econômico turbulento) tive de entrar nos negócios. Já trabalhava na padaria, mas de forma pouco ativa. Nas jornadas de trabalho (de 4 horas) comecei a me incomodar com a falta de clientes - perguntava para a balconista, "cadê o povo?" Ela dava de ombros. Felizmente, foi a inatividade que abriu espaço para a criação. Coube a mim mostrar o que deveria ser feito, já que meus pais pouco estudaram, e estavam meio que "parados no tempo".
A primeira ação foi reunir a família e eliminar a idéia de encontrar "o culpado". O momento exigia união. Antes de qualquer atitude, cada membro da família foi incumbido de uma responsabilidade. A meta era recuperar os clientes. E como fazer isso? Nossa aposta foi na inovação. Divididas as funções - fiquei encarregado do marketing e comunicação e meu pai da área econômica, sua tarefa era livrar-se do banco - a proposta era recriar as estratégias usadas pelas grandes redes de padaria: oferecer um leque de produtos de qualidade, sofisticados, com preço atraente e num ambiente agradável.
No segundo momento foi hora de conhecer a opinião do público. Criamos um questionário com dez questões (qualidade dos produtos, preços, atendimento, etc.) que trouxe informações preciosas, como a de que a balconista do período da manhã não era muito agradável, tinha "a cara ruim". A partir disso, dois funcionários foram demitidos, o que rendeu uma queda de braço com meus pais, que diziam que "a funcionária era de confiança". O perfil dos contratados deveria incorporar o novo espírito da padaria: um local onde todos se sentissem à vontade para consumir.
A nova postura precisava chegar ao conhecimento do público. Voltamos a anunciar nas rádios, a patrocinar festas, eventos esportivos e criamos uma nova logo marca, sublinhando as mudanças em rumo.
Em tese tudo voltava ao normal. Em tese. O próximo estágio era um dos mais delicados: voltar a investir, já que as finanças estavam saneadas e as vendas cresciam, depois de dois anos. A decisão foi investir em uma reforma na área de produção e na cozinha, para, em seguida, reformar a fachada e trocar os móveis da padaria, o que reforçou a imagem de compromisso e excelência que buscávamos.
Resultado: o quadro de funcionários dobrou, o faturamento quintuplicou e a excelência, traduzida no slogan "um novo conceito em panificação", se tornou a marca do negócio. Com a recuperação pude vir para Campinas e cursar jornalismo. Atualmente, estuda-se a ampliação da padaria para transformá-la num multi-negócio, que compreende sorveteria, adega, hortifrutti, lanchonete e mercearia, em um ambiente com total requinte.
O desafiador foi que percorri todo esse caminho sem nenhuma base teórica, andei apenas com o que havia experimentado em 18 anos de vida. Hoje me transformei em consultor informal da padaria. Nenhum passo é dado sem o meu aval. Meu papel é antecipar o futuro. Aproveito minha permanência em São Paulo, estado mais desenvolvido, para acompanhar as transformações do mercado e adaptá-las à realidade mineira - as pessoas normalmente fazem o mesmo, só que com os países desenvolvidos em relação ao Brasil. No natal passado, por exemplo, a padaria contou com uma programação especial. Convidei um violinista para tocar durante todo o dia. Os clientes ficaram atônitos e a novidade foi assunto na cidade por um bom tempo. A inspiração veio do Carrefour (da Norte-Sul, em Campinas) que meses antes trouxera um show acústico em suas dependências.
Às vezes me perguntam o que fazer para evitar uma crise, minha resposta é simples: não se acomode jamais. Uma empresa funciona como um organismo vivo, em transformação constante. O dia em que um empresário acreditar que o negócio está consolidado, ele estará fadado ao fracasso. É um ponto que faço questão de enfatizar, pois é muito comum as pessoas perderem o rumo justamente no momento de prosperidade, momento no qual a crise costuma surgir de forma traiçoeira. Com as contas transbordando, os investimentos são redirecionados da empresa para a vida particular - carros de luxo, mansões ou quaisquer artigos supérfluos.
Ao se dar conta do abismo, todo mundo é culpado (economia, funcionários, o sócio ou o ramo deixou de ser rentável), menos o proprietário, que se deixou seduzir pelas tentações do paraíso. É claro que se deve usufruir dos benefícios gerados pelos anos de trabalho, mas cautela na vida do empresário é atributo indispensável.
Fonte: Por Paulo Henrique A. Vaz, http://blogdopaulovaz.blogspot.com
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