Avaliar a real dimensão do retorno que uma gestão responsável traz para as empresas ainda é uma tarefa difícil. Simon Zadek, presidente da consultoria britânica AccountAbility aceitou o desafio ao produzir o relatório "The State of Responsible Competitiveness 2007" (O Estado da Competitividade Responsável 2007) em parceria com Alex MacGillivray, chefe de programas da empresa. A principal conclusão do documento é que "os mercados recompensam práticas corporativas geradoras de melhores resultados sociais, ambientais e econômicos e, também, que as nações que encorajam tais práticas por meio de políticas públicas, normas da sociedade e ação dos cidadãos são as que têm mais sucesso econômico".
Se criar práticas inovadoras é hoje, segundo Zadek, mais importante do que conscientizar as empresas, uma decisão importante no relatório foi separar os 108 países estudados em quatro grupos, que retratam diferentes estágios de evolução da responsabilidade social. Cada um dos grupos, chamados de "iniciantes" (starters), "cumpridores" (compliers), "assertivos" (assertives) e "inovadores" (innovators), foi analisado a partir de três critérios: "ação do negócio", "diretrizes políticas" e "permissões sociais", que permitiram desenhar um painel dos recuos e avanços da RSE no mundo.
Os "inovadores" ocupam a liderança da lista, um grupo de 20 nações que, além de aderirem às práticas socioambientalmente responsáveis, trabalham para implementá-las na base dos negócios. "Para os inovadores, a competitividade responsável não é mais um adicional, mas o coração do modelo econômico", afirma Zadek no documento. Nessa categoria, destacam-se países europeus - 13 do total -, em especial os do norte do continente, como Suécia, Noruega e Finlândia.
O que diferencia os "inovadores" dos "assertivos", o segundo grupo, é ainda a falta da postura empreendedora para arriscar e trazer novidades para a responsabilidade social dentro das empresas. Apesar disso, o cluster se destaca por reunir nações que já sabem aproveitar oportunidades criadas a partir de uma gestão responsável, principalmente para atrair investimentos externos. Nessa categoria foram listados 24 países, entre eles Itália, Espanha, Emirados Árabes Unidos, África do Sul e Chile.
O Brasil integra o terceiro grupo, o dos "cumpridores", composto por mais 31 países com expressiva participação no mercado internacional, para o qual contribuem com algo em torno de US$ 1 trilhão. Nesse ranking, o Brasil aparece como o segundo na lista dos BRIC (grupo formado também pela Rússia, Índia e China) e em vigésimo oitavo na classificação geral, atrás da África do Sul e à frente da Índia, Rússia e China, respectivamente.
Segundo o relatório, os "cumpridores" estão preocupados em demonstrar progresso e atentos a padrões internacionais. Por essa razão, "esforçam-se para capturar sua fatia no mercado em cadeias de suprimento globais, de marcas e consumidores mais conscientes em relação à qualidade". Entretanto, nos países participantes deste grupo, a sociedade civil ainda não recebe a atenção que merece, o que leva Zadek a afirmar que a oportunidade para o Brasil, por exemplo, está em "construir marcas de responsabilidade nacional, tirando vantagem de uma reputação internacional única que o País detém".
Se os "cumpridores" passaram da etapa inicial de mobilização básica da responsabilidade social nas empresas, os "iniciantes", apesar de já terem despertado para o conceito da RSE, ainda estão, de acordo com o relatório, aprendendo a lidar com questões básicas, como segurança e direitos no trabalho. Nesse grupo, que reúne 31 países, incluem-se a China e a Rússia, os mais competitivos entre os emergentes, porém, ainda engatinhando na resolução de problemas sociais.
Os resultados da pesquisa, porém, não refletem apenas os avanços de cada país. Segundo Zadek, existe uma relação intrínseca entre o nível da responsabilidade social das empresas e o desenvolvimento econômico nacional. A principal evidência é que a maioria dos países africanos se encontra no grupo dos iniciantes, enquanto os europeus e os Estados Unidos ocupam as posições mais altas do ranking. A questão, porém, é mais complexa. A China, nação com a economia que mais cresce atualmente, está classificada com o nível mais baixo de responsabilidade. "Geralmente, negócios responsáveis são mais desenvolvidos em países mais ricos, mas economias emergentes, como o Chile, a Tailândia e a África do Sul, também têm bons resultados", afirmou Zadek.
Para explicar tal efeito, ele lembra que cada empresa contribui diretamente, com os seus resultados, para o desenvolvimento econômico do país onde está instalada. "Obviamente existem conexões fortes, com negócios de sucesso apoiando a competitividade nacional em áreas como pagamento de impostos e provisão de empregos", afirma o especialista. Segundo ele, países com mercados competitivos também tendem a promover empresas mais eficientes e produtivas. Zadek cita o caso do Brasil como bom exemplo. "O País aumentou sua competitividade ao combinar políticas públicas fortes com ação corporativa para desenvolver uma posição de liderança internacional em biocombustíveis."
Para ele, entretanto, países com o mesmo nível de desenvolvimento não necessariamente estão no mesmo patamar de sustentabilidade. Isso se explica pelo fato de que enquanto alguns buscaram o desenvolvimento a qualquer custo, ignorando os riscos e o impacto provocados ao meio ambiente e à sociedade, outros preferiram alinhar suas estratégias de negócio às políticas públicas e ações da sociedade civil, sem se preocupar tanto com o crescimento econômico.
O panorama sobre a responsabilidade social no mundo traçado pelo relatório da AccountAbility aponta também os desafios que as empresas ainda enfrentam, em maior ou menor grau, na implementação de uma gestão sustentável. Segundo Zadek, são três as dificuldades mais freqüentes. A primeira é o atraso das corporações que investem no crescimento sem qualquer preocupação com os impactos sociais e ambientais e sem prever as conseqüências. Essas empresas desfrutam de uma certa "sensação de imunidade" e cultivam a crença de que jamais serão atingidas. Um erro, na visão de Zadek: "Os mercados globais estão mudando depois de escândalos como o da HP (por suspeita de espionagem ligada ao conselho, em 2006). Negócios irresponsáveis estão cada vez mais sendo penalizados".
O segundo obstáculo se refere aos governos, "que não se convencem sobre a importância da RSE e, portanto, não incentivam as empresas, ou vice-versa". O foco somente em compliance, na verdade em controle de riscos, é a terceira dificuldade relatada por Zadek, mais comum entre as organizações da sociedade civil, que relutam em abrir seus horizontes para inovações na área de responsabilidade social.
Maior competitividade no mercado internacional significa maior facilidade de fechar negócios. É uma conclusão lógica, que justifica parte do interesse das empresas no movimento de valorização do conceito de sustentabilidade. "Competitividade responsável requer uma sociedade civil forte e políticas públicas que promovam práticas de negócio responsáveis. É mais fácil fazer negócios quando essa sinergia existe", diz Zadek.
Levando em conta essa facilidade comercial, o relatório ainda demonstra algumas práticas que têm representado grandes oportunidades de negócios, como o mercado de créditos de carbono, a promoção da igualdade de gêneros, investimento na força de trabalho para o aumento de produtividade, governança e contabilidade, que se efetivamente funcionassem, poderiam aumentar em até quatro vezes a renda nacional, como prevê o documento.
Fonte: Por Carmen Guerreiro, in Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 16
Se criar práticas inovadoras é hoje, segundo Zadek, mais importante do que conscientizar as empresas, uma decisão importante no relatório foi separar os 108 países estudados em quatro grupos, que retratam diferentes estágios de evolução da responsabilidade social. Cada um dos grupos, chamados de "iniciantes" (starters), "cumpridores" (compliers), "assertivos" (assertives) e "inovadores" (innovators), foi analisado a partir de três critérios: "ação do negócio", "diretrizes políticas" e "permissões sociais", que permitiram desenhar um painel dos recuos e avanços da RSE no mundo.
Os "inovadores" ocupam a liderança da lista, um grupo de 20 nações que, além de aderirem às práticas socioambientalmente responsáveis, trabalham para implementá-las na base dos negócios. "Para os inovadores, a competitividade responsável não é mais um adicional, mas o coração do modelo econômico", afirma Zadek no documento. Nessa categoria, destacam-se países europeus - 13 do total -, em especial os do norte do continente, como Suécia, Noruega e Finlândia.
O que diferencia os "inovadores" dos "assertivos", o segundo grupo, é ainda a falta da postura empreendedora para arriscar e trazer novidades para a responsabilidade social dentro das empresas. Apesar disso, o cluster se destaca por reunir nações que já sabem aproveitar oportunidades criadas a partir de uma gestão responsável, principalmente para atrair investimentos externos. Nessa categoria foram listados 24 países, entre eles Itália, Espanha, Emirados Árabes Unidos, África do Sul e Chile.
O Brasil integra o terceiro grupo, o dos "cumpridores", composto por mais 31 países com expressiva participação no mercado internacional, para o qual contribuem com algo em torno de US$ 1 trilhão. Nesse ranking, o Brasil aparece como o segundo na lista dos BRIC (grupo formado também pela Rússia, Índia e China) e em vigésimo oitavo na classificação geral, atrás da África do Sul e à frente da Índia, Rússia e China, respectivamente.
Segundo o relatório, os "cumpridores" estão preocupados em demonstrar progresso e atentos a padrões internacionais. Por essa razão, "esforçam-se para capturar sua fatia no mercado em cadeias de suprimento globais, de marcas e consumidores mais conscientes em relação à qualidade". Entretanto, nos países participantes deste grupo, a sociedade civil ainda não recebe a atenção que merece, o que leva Zadek a afirmar que a oportunidade para o Brasil, por exemplo, está em "construir marcas de responsabilidade nacional, tirando vantagem de uma reputação internacional única que o País detém".
Se os "cumpridores" passaram da etapa inicial de mobilização básica da responsabilidade social nas empresas, os "iniciantes", apesar de já terem despertado para o conceito da RSE, ainda estão, de acordo com o relatório, aprendendo a lidar com questões básicas, como segurança e direitos no trabalho. Nesse grupo, que reúne 31 países, incluem-se a China e a Rússia, os mais competitivos entre os emergentes, porém, ainda engatinhando na resolução de problemas sociais.
Os resultados da pesquisa, porém, não refletem apenas os avanços de cada país. Segundo Zadek, existe uma relação intrínseca entre o nível da responsabilidade social das empresas e o desenvolvimento econômico nacional. A principal evidência é que a maioria dos países africanos se encontra no grupo dos iniciantes, enquanto os europeus e os Estados Unidos ocupam as posições mais altas do ranking. A questão, porém, é mais complexa. A China, nação com a economia que mais cresce atualmente, está classificada com o nível mais baixo de responsabilidade. "Geralmente, negócios responsáveis são mais desenvolvidos em países mais ricos, mas economias emergentes, como o Chile, a Tailândia e a África do Sul, também têm bons resultados", afirmou Zadek.
Para explicar tal efeito, ele lembra que cada empresa contribui diretamente, com os seus resultados, para o desenvolvimento econômico do país onde está instalada. "Obviamente existem conexões fortes, com negócios de sucesso apoiando a competitividade nacional em áreas como pagamento de impostos e provisão de empregos", afirma o especialista. Segundo ele, países com mercados competitivos também tendem a promover empresas mais eficientes e produtivas. Zadek cita o caso do Brasil como bom exemplo. "O País aumentou sua competitividade ao combinar políticas públicas fortes com ação corporativa para desenvolver uma posição de liderança internacional em biocombustíveis."
Para ele, entretanto, países com o mesmo nível de desenvolvimento não necessariamente estão no mesmo patamar de sustentabilidade. Isso se explica pelo fato de que enquanto alguns buscaram o desenvolvimento a qualquer custo, ignorando os riscos e o impacto provocados ao meio ambiente e à sociedade, outros preferiram alinhar suas estratégias de negócio às políticas públicas e ações da sociedade civil, sem se preocupar tanto com o crescimento econômico.
O panorama sobre a responsabilidade social no mundo traçado pelo relatório da AccountAbility aponta também os desafios que as empresas ainda enfrentam, em maior ou menor grau, na implementação de uma gestão sustentável. Segundo Zadek, são três as dificuldades mais freqüentes. A primeira é o atraso das corporações que investem no crescimento sem qualquer preocupação com os impactos sociais e ambientais e sem prever as conseqüências. Essas empresas desfrutam de uma certa "sensação de imunidade" e cultivam a crença de que jamais serão atingidas. Um erro, na visão de Zadek: "Os mercados globais estão mudando depois de escândalos como o da HP (por suspeita de espionagem ligada ao conselho, em 2006). Negócios irresponsáveis estão cada vez mais sendo penalizados".
O segundo obstáculo se refere aos governos, "que não se convencem sobre a importância da RSE e, portanto, não incentivam as empresas, ou vice-versa". O foco somente em compliance, na verdade em controle de riscos, é a terceira dificuldade relatada por Zadek, mais comum entre as organizações da sociedade civil, que relutam em abrir seus horizontes para inovações na área de responsabilidade social.
Maior competitividade no mercado internacional significa maior facilidade de fechar negócios. É uma conclusão lógica, que justifica parte do interesse das empresas no movimento de valorização do conceito de sustentabilidade. "Competitividade responsável requer uma sociedade civil forte e políticas públicas que promovam práticas de negócio responsáveis. É mais fácil fazer negócios quando essa sinergia existe", diz Zadek.
Levando em conta essa facilidade comercial, o relatório ainda demonstra algumas práticas que têm representado grandes oportunidades de negócios, como o mercado de créditos de carbono, a promoção da igualdade de gêneros, investimento na força de trabalho para o aumento de produtividade, governança e contabilidade, que se efetivamente funcionassem, poderiam aumentar em até quatro vezes a renda nacional, como prevê o documento.
Fonte: Por Carmen Guerreiro, in Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 16
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