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Harmonia entre as gerações é um desafio

Se harmonizar os relacionamentos entre diferentes gerações não é tarefa fácil nem mesmo no ambiente familiar, o que dizer, então, do campo profissional? Embora complexa, a missão não é impossível e deve ser vista como um quesito fundamental para o sucesso das empresas na atualidade.

De acordo com um estudo desenvolvido pelo Instituto de Empresa, escola de negócios com sede em Madri, quatro gerações atuam hoje no mercado de trabalho: os tradicionalistas (nascidos entre 1900 e 1945), os boomers (de 1946 a 1966) e as gerações X (1967 a 1980) e Y (1981 a 1999) - também chamada Milênio.

Com características peculiares - resultantes da época em que nasceram, de suas referências culturais e de vários outros fatores -, esses grupos comportam-se de forma diferenciada no ambiente profissional, o que pode gerar desentendimentos e conflitos, em muitos casos. "Para que isso não aconteça, os chefes precisam entender que cada geração é motivada para exercer papéis diferentes e que cada uma delas é influenciada por questões culturais diferentes", diz a diretora executiva da Right Management, Adriana Fillipelli.

Conforme o estudo do Instituto de Empresa, os tradicionalistas, com idade atual superior a 60 anos, levam para a carreira características como estabilidade, lealdade e trabalho árduo. Os boomers têm entre 41 e 61 anos e são conhecidos por sua determinação, gosto por desafios e capacidade de trabalhar em equipe. Já a geração X, dos 27 aos 40, tem autoconfiança e independência e, por ser contemporânea à popularização da informática, passou pela "alfabetização digital".

De outra parte, a geração Milênio, com até 26 anos, é otimista, tenaz, conhece tecnologia e está atenta aos rumos do planeta. "Hoje se fala mais em aquecimento global. Os profissionais dessa geração influenciam os colegas, inclusive de outras faixas de idade, com o que eles pensam a respeito", diz Adriana.

No trabalho, cada geração busca recompensas diferentes. Os tradicionalistas querem reconhecimento e satisfação por um trabalho bem-feito, os boomers, o dinheiro e as férias, e a geração X, a liberdade (como recompensa definitiva). A geração Y, por sua vez, espera que, mais do que o sustento, o trabalho tenha algum significado para sua vida.

Os objetivos de carreira também são diferentes. Enquanto os tradicionalistas querem construir um legado, com uma vida inteira dedicada a uma única empresa, os boomers desejam uma carreira exemplar. A geração X, por sua vez, busca um repertório de habilidades e experiências diversificadas. E a geração Y procura construir carreiras paralelas, com vários trabalhos simultâneos.

Na prática, profissionais de uma geração têm visões de mundo diferenciadas e percepções estereotipadas das demais faixas. Para os tradicionalistas, por exemplo, os boomers são egoístas e falam sobre coisas que deveriam ser particulares. A geração X não estudou, não segue procedimentos e não sabe o que é trabalho duro. Já os milênios são bem-educados e espertos, mas assistem TV demais. "Um líder que tenha um subordinado milênio não pode interpretar a postura de seu funcionário com a sua própria lente. Para compreendê-lo, tem que interpretar com a lente do outro", diz Adriana.

Na opinião dos boomers, os tradicionalistas são ditadores, rígidos e inibidos, a geração X é preguiçosa, mal-educada e faz as coisas à sua maneira, enquanto os milênios são bonitinhos, precisam de disciplina e sabem colocar a hora no vídeo-cassete.

A geração X vê os tradicionalistas como presos demais em seu jeito, os boomers como wokaholics e os milênios como egoístas e mimados. Os milênios se defendem: os X precisam melhorar o astral. Ao mesmo tempo, os Y confiam nos tradicionalistas e admiram sua coragem. Além disso, acham os boomers legais e atualizados em música, embora trabalhem demais.

O superintendente do Shopping Plaza Sul, de São Paulo, Dirceu Benith Junior, de 41 anos, é um jovem boomer e tem contato diário e direto com o superintendente adjunto, Guilherme Marini, de 27. "Temos uma integração grande. Eles estão bem mais preparados para os aspectos tecnológicos. Já nasceram com essa condição. Em contrapartida, nós, que estamos há mais tempo no mercado, temos melhor noção de administração do tempo", comenta Benith Junior.

Quase um geração X - como o subordinado -, Benith Junior diz que a convivência com os mais jovens traz coisas positivas para ele, um workaholic de carteirinha. "Eles nos mostram esse lado importante da vida, que é pensar na família, no bem-estar. E isso é muito saudável, para todos nós", avalia.

Apesar da diferença de 14 anos, os dois convivem muito bem, dentro e fora do ambiente profissional. Uma das razões, segundo Benith Junior, é o fato de ambos serem casados, o que propicia a realização de programas comuns, com as esposas, fora do horário do expediente. No caso de ambos, a diferença de idades, definitivamente, não é um entrave. "Trabalhamos de uma forma muito legal, com um mesmo ritmo e , fora do trabalho, também, temos um relacionamento muito bom", conclui Marini.
kicker: Líderes precisam entender que cada geração é motivada para papéis específicos e afetada por diferentes questões culturais


Fonte: Por Marcelo Monteiro, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9

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