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Mercado verde e promissor no Brasil

O Brasil é hoje a menina do baile da sustentabilidade que todo mundo quer tirar para dançar. Há duas semanas, os alemães estiveram aqui para iniciar negócios com tecnologias sustentáveis, durante evento denominado Ecogerma. Agora são os suecos, que ensaiam uma aproximação, hoje e amanhã, para mostrar sua expertise verde em congresso temático. Não será nenhuma surpresa se, em breve, vierem também os dinamarqueses, os espanhóis e os ingleses - aliás o príncipe Charles deu o ar de sua graça recentemente para tratar prioritariamente de uma agenda ambiental.

Difícil apontar uma única razão para o encanto exercido pelo País. Certamente o seu charme decorre de um conjunto de fatores, entre os quais vale destacar a ascendência econômica, o vasto mercado interno, o pioneirismo do etanol ecologicamente correto, os evidentes gaps de investimentos de infra-estrutura em áreas correlatas às de meio ambiente e - é claro - a propriedade do mais rico patrimônio de recursos naturais do planeta, que tem na Amazônia o seu principal expoente. Nesses tempos de aquecimento global e corrida mundial para redução nas emissões de carbono, um País que possui 46% de fontes renováveis em seu modelo de geração de energia tende a ser visto como um exemplo de sucesso.

Deixando de lado interesses supostamente mais desprendidos na conservação das florestas tropicais (como garantia futura de ar respirável e clima equilibrado para a humanidade), o que atrai a atenção estrangeira é o potencial do mercado brasileiro e as muitas oportunidades que ele oferece. A alemã Roland Berger deu-se ao trabalho de sintetizá-lo em números.

Em parceria com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, a consultoria concluiu estudo segundo o qual o mercado nacional de sustentabilidade corresponde a 0,8% do mercado mundial, com uma estimativa de crescimento interessante entre 5% e 7% ao ano até 2020. Esse índice aproxima-se do crescimento previsto em 6,5% para o mercado mundial no mesmo período. Avaliza as projeções de expansão o fato singelo de que as empresas brasileiras têm investido em tecnologias verdes apenas 1% do seu faturamento. Em números absolutos, os investimentos feitos aqui, no ano de 2007, com gestão de resíduos sólidos, água, saneamento e poluição do ar totalizaram US$ 5,2 bilhões. E os relacionados a energias renováveis ficaram em US$ 6,7 bilhões. Para quem acha que é muito dinheiro, uma informação comparativa: na Alemanha o mercado ambiental movimenta US$ 82 bilhões. O de energias limpas, recursos da ordem de US$ 40 bilhões.

Até mesmo os metódicos alemães, líderes mundiais em tecnologia sustentável, reconhecem a parte cheia do copo da sustentabilidade brasileira. Houve avanços importantes. Mas a expressiva parte vazia do mesmo copo indica, sobretudo, enormes possibilidades de negócio que ficarão mais nítidas tão logo se dispersem as sombras da crise econômica mundial. Um pouco mais de números sobre problemas que se apresentam como oportunidades: no Brasil o índice de materiais reciclados é de 12% contra 57% na Alemanha, apenas 39% de nossas cidades oferecem destino adequado para lixo e só 49% das residências têm saneamento básico. Mais investimento público, por meio de parcerias público-privadas, podem colocar o Brasil entre os três mais promissores mercados para tecnologias sustentáveis do mundo.

O estudo da Roland Berger identificou algumas oportunidades bem concretas. Uma delas está na adoção de novas regulações, que deverão resultar em processos de privatização ou de concessão de serviços públicos de água e saneamento. Outro campo com boas perspectivas é o da gestão de resíduos sólidos urbanos e industriais. Há um ambiente favorável, marcado, sobretudo, por uma nova regulamentação, em tramitação no congresso, que abrangerá a questão da separação e tratamento de resíduos. Uma terceira tendência observada refere-se ao estímulo e uso de energia renovável, com o reforço à utilização de biomassa, a exploração de pequenos rios e bacias hidrográficas e a geração de energia eólica num país riquíssimo em ventos. A necessidade de buscar maior eficiência energética com edificações, tecnologias de informação e materiais verdes corresponde à outra tendência identificada pela Roland Berger.

Feito no auge da crise do subprime, o estudo detectou o que esta coluna já havia apontado, no final do ano passado: o colapso econômico global vai reduzir, em 2009, investimentos em tecnologias sustentáveis (para 30% dos executivos entrevistados.) No entanto, 39% acreditam que haverá apenas um adiamento momentâneo, sem afetar metas planejadas.

Os próximos cinco a oito anos serão caracterizados - afirma o documento - por um desenvolvimento positivo do mercado brasileiro, em decorrência dos investimentos em infra-estrutura no âmbito do PAC, do uso crescente de tecnologias mais limpas e da ascensão de um consumidor mais interessado em produtos verdes. É esperar para confirmar.


Fonte: Por Ricardo Voltolini - publisher da revista Ideia Socioambiental e diretor de Ideia Sustentável, in www.ideiasocioambiental.com.br

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