Pular para o conteúdo principal

Sustentabilidade tornou-se uma questão de sobrevivência

Qual é o novo modelo de gestão que surgirá a partir da atual crise financeira? Esta pergunta tem circulado no meio empresarial, que procura sobreviver em meio à turbulência. Os tempos são outros e acabou a fase em que organizações não pensavam na sua ocupação física no mundo e as influências disso, sejam ambientais, sociais, culturais e econômicas, mesmo com o cenário econômico adverso. Sim, temos de defender o que é nosso, mas há de se curvar à inexorável necessidade de sobrevivência a médio e longo prazos. E isso só é possível se apoiado no conceito de sustentabilidade. Agora, não se pode perder de vista este item.

Algumas décadas atrás, uma organização instalava-se em imensa área de nosso território e praticava solitária gestão, atrelada a si mesma, de afirmação junto aos seus donos. Hoje, os sócios são apenas uma das partes interessadas que inclui, ainda, os clientes, colaboradores, a comunidade em que está estabelecida, além de concorrentes, fornecedores, investidores e governo. Pensar em todos esses agentes - e as vertentes que os mesmos carregam - é essencial para o desenvolvimento do negócio, quer pela abordagem de marketing, quer por ser parte dos valores das empresas. Assim, verifica-se que a adoção de ações sustentáveis passou a ser avaliada por um grupo muito maior e mais complexo de pessoas do que tempos atrás - quando existia o exercício da prática sustentável.

O meio ambiente também segue em pauta mesmo com a turbulência da crise financeira. Há um crescente entendimento de que sustentabilidade na dimensão ambiental pode ser um pré-requisito para a rentabilidade, especialmente nos setores mais próximos ao consumidor final. No Brasil, a preocupação com o meio ambiente e sua preservação aparece nos resultados da pesquisa do Ibope de 2007, quando 30% dos entrevistados separavam o lixo para reciclagem, e 52% diziam comprar produtos que não agrediam o meio ambiente, ainda que mais caros. Com as devidas considerações às respostas, elas são uma sinalização do impacto da consciência ambiental no comportamento do consumidor final.

Entretanto, em meio aos debates nesses dias de grandes mudanças em relação à gestão, a questão da sustentabilidade é, na maioria das vezes, encarada como um custo, um "imposto" a ser pago pelas empresas que demandam políticas corporativas e cadeias de valor amigáveis ao meio ambiente. Essas organizações enxergam sustentabilidade ambiental por uma ótica de gerenciamento de risco.

Organizações líderes de mercado, como General Electric (GE), Suzano, Boticário, Bradesco, Natura, Banco Real, dentre outras, parecem estar trilhando um caminho diferente e encarando o meio ambiente como uma plataforma de crescimento sustentável.

O que importa na reflexão e análise do modelo de negócios sustentáveis é iniciar o processo. Cumprir os padrões legais, ter o tema sustentabilidade atrelado às doações para promover a marca pode ser um começo. Os desafios começam mesmo quando se pensa em incorporar sustentabilidade no dia a dia dos negócios e nos produtos-chave da empresa, buscando um retorno sobre o investimento de curto prazo. Passar para o patamar de inovação é levar a empresa a uma plena consciência ambiental. Ou seja, a transformação dos produtos para garantir que eles sejam sustentáveis na cadeia de produção, com retorno de investimento em longo prazo e chegar ao desenvolvimento do "brand equity".

Pensando além das paredes corporativas, as empresas - cedo ou tarde - percebem que, depois de adotadas as iniciativas mais simples, os maiores desafios ambientais requerem colaboração entre diferentes indústrias, além de trabalho conjunto com entidades governamentais e ONGs. O objetivo final deveria ser a criação de uma plataforma sustentável de negócios que atenda, ao mesmo tempo, necessidades ambientais e econômicas.

O novo mundo corporativo exigirá novas respostas para os negócios, além da fase crítica de sobrevivência que estamos passando. Buscar um novo modelo de gestão sustentável, refletindo sobre o seu papel dentro dos sistemas cada vez mais complexos é o maior desafio das organizações nos dias de hoje.


Fonte: Por Iêda Novais - sócia-diretora e coordenadora da Trevisan Consultoria e presidente do Conselho Fiscal da FNQ, in www.fnq.org.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su...

Funcionários da Domino´s Pizza postam vídeo no You Tube e são processados

Dois funcionários irresponsáveis imaginam um vídeo “muito engraçado” usando alimentos e toda sorte de escatologia. O cenário é uma cozinha da pizzaria Domino´s. Pronto, está feito o vídeo que mais chamou a atenção da mídia americana na semana passada. Nele, os dois funcionários se divertem enquanto um espirra na comida, entre outras amostras de higiene pessoal. Tudo isso foi postado no you tube no que eles consideraram “uma grande brincadeira”. O vídeo em questão, agora removido do site, foi visto por mais de 930 mil pessoas em apenas dois dias. (o vídeo já foi removido, mas pode ser conferido em trechos nesta reportagem: http://www.youtube.com/watch?v=eYmFQjszaec ) Mas para os consumidores da rede, é uma grande(síssima) falta de respeito. Restou ao presidente a tarefa de “limpar” a bagunça (e a barra da empresa). Há poucos dias, Patrick Doyle, CEO nos EUA, veio a público e respondeu na mesma moeda. No vídeo de dois minutos no You Tube, Doyle ( http://www.youtube.com/watch?v=7l6AJ49xNS...

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De...