Pular para o conteúdo principal

Planejar é ter uma opinião e agir na convergência

Planejar é preciso. A seletividade dos consumidores, cada vez mais atentos a marcas, produtos e serviços que não primam pela responsabilidade de gestão, interfere em vendas e faturamento. Afinal, intervém diretamente na reputação. Por isto não é mais cabível dar passos que não sejam previamente pensados e testados. O Top de Planejamento Estratégico 2009 reuniu alguns dos principais profissionais do mercado para tratar de idéias e conteúdos para ampliar o conhecimento e fortalecer o repertório na hora de tomar decisões importantes. A precisão das informações, como fonte de respostas rápidas para as múltiplas demandas, é agente de profilaxia fundamental em tempos de crise e isto foi uma das principais do evento, que aconteceu em São Paulo/SP.

O isolamento da área de planejamento das agências de comunicação em relação aos demais setores internos, pressionados por prazos curtos e possibilidade mínima de análises mais aprofundadas para gerar insights mais focados, ocasiona um afastamento das pesquisas, do detalhamento de grupos de consumo e da observação de novos comportamentos. Para afastar-se deste encadeamento de erros, a administradora Carol Mello, diretora de Planejamento da Africa, busca disseminar um conceito prático da área: planejar significa ter uma opinião mas não um “achismo” e sim embasada em estudos focados, pesquisas e nos assuntos correntes nos meios de comunicação. Pressupõe, portanto, conhecimento e relevância num processo de relacionar as expressões da marca com as expectativas e estilos de um consumidor dentro de determinadas mídias. Ela alerta, contudo, que não há uma rotina que possa ser padrão, porque de fato cada projeto requisita um modus operandi. O planejador deve fornecer os elementos-base de criação, dentro dos objetivos de marketing, de mercado e de comunicação combinados para resolução da hipótese de problema ou impasse. “Mas não deve ser visto como um sistema infalível”, reconhece.

Entre as análises primárias, está a geração de diagnósticos de mercado, marca, comunicação e consumidor, buscando entender suas características com a maior profundidade possível. Parte-se daí para análises cruzadas que geram insights, passando por crivos de pertinência, maturidade e riscos. Carol acresce que “a decisão sempre busca equilíbrio entre ousadia e responsabilidade. Aí temos que saber vender este planejamento, esta idéia”. E deu algumas dicas no sistema de contar a idéia internamente na agência e depois no cliente, sendo que um recurso eficaz é iniciar pelo relato da criação final e só depois percorrer o caminho estratégico justificador. O tempo é sempre muito exíguo, e a objetividade e contundência são características fundamentais. Como indicadores para organizar estas apresentações, cita o tempo disponível, a profundidade exigida a partir do interlocutor e a crença efetiva na idéia. Para colocar os conceitos na prática, ela finalizou mostrando o case de renovação do posicionamento e da marca da Vale. “Foi um trabalho longo e que exigiu muito fôlego de seis diretores da agência e suas respectivas equipes. Tivemos que fazer uma imersão de cinco meses para entender a ferramenta Balance Scorecard e falar a mesma língua da empresa. A BSC monta mapas de estratégias de curto, médio e longo prazos, e conhecer estes processos garante à agência uma postura de parceria de negócios para não ficar restrita apenas à comunicação”, explica.

TRANSDISCIPLINAR - O publicitário da GP7 e diretor de marketing da CVC, João Fernando Vassão, aponta um momento delicado no dia-a-dia do marketing, porque os orçamentos são regulados por diretores financeiras e CEO’s e várias decisões não ficam mais sob responsabilidade do setor específico. Além disto, marketing virou sinônimo de publicidade, perdendo a abrangência de seu exercício, e também passou a ser associado muito fortemente à enganação ou a aspectos técnicos e não reflexivos e estratégicos. Pelo lado das agências, a situação não é muito distinta, tendo perdido muito poder de influência e por isto são acionados somente após várias etapas de planejamento já cumpridas, precisando ficar restritas a opções instrumentais. Ele também vê uma migração de grandes talentos para áreas mais especializadas, saindo deste foco de indústria criativa. “A grande questão é conseguir chegar na criação de valor, na linguagem dos resultados. Viramos muito mais um diplomata, em permanente negociação”, analisa. Explicando, isto significa estar preparado para discutir a qualidade do produto, embalagem, logística, relacionamento com distribuidores e representantes, relacionamento com clientes, sempre analisando cenários futuros, ambiente concorrencial, fidelização e ciência sobre vários aspectos de múltiplos setores do conhecimento.

A discussão agora parte para um modelo complementar que pensa na reputação, e portanto atuando num cenário mais amplo e complexo. A “criação de valor” vem de uma composição de performances a econômica e a reputacional que buscam as estabilidades financeira e institucional. A parte monetária atrai investidores, já a etapa corporativa consegue atrair talentos e parcerias de qualidade, com extensões mais duradouras. Vassão registra que “é este conjunto que mantém a saúde da empresa”, e cita vários mitos que envolvem o segmento. Para ele, uma boa comunicação não sustenta sozinha um negócio, mas também não pode ser inexistente. É preciso entender o DNA da organização, mas não adiantam só discursos sem praticar as crenças.

A apresentação foi finalizada com o case “Pra todo mundo tem uma CVC”, da empresa de viagens que possui 300 lojas em 108 cidades, contando com mais de 1000 vendedores próprios e 7 mil agentes de viagem. Sua intenção é ter uma percepção de marca “taylor-made” e universal, bem diferente da imagem popular que acabou alastrada. Houve a instalação de um serviço de qualidade que investe em monitoramento constante de todas as etapas do negócio, incluindo fornecedores e destinos. Uma média de 500 questionários são aplicados por destino por semana, com exigência de 90% de satisfação. Isto porque a idéia é cuidar do produto, dado que o enfoque não pode ser somente na comunicação. O diretor relata que o reposicionamento não prevê sua saída do mercado popular, porque significaria um preconceito incompatível com a diversidade da população brasileira, e seria incongruente com a missão expressa da companhia de dar acesso aos sonhos de viagens de todos. Ele anunciou o lançamento breve de um blog e a criação de comunidades de compartilhamento de fotos, vídeos e depoimentos sobre as viagens, dando mais longevidade à experiência e suscitando laços entre as pessoas em sua plataforma institucional.


Fonte: Por Rodrigo Cogo - Gerenciador do Portal Mundo das Relações Públicas

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Conselho Federal de Marketing?

A falta de regulamentação da profissão de marketing está gerando um verdadeiro furdunço na Bahia. O consultor de marketing André Saback diz estar sendo perseguido por membros do Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA/BA) por liderar uma associação – com nome de Conselho Federal de Marketing e que ainda não está registrada – cujo objetivo, segundo ele, é regulamentar a profissão. O CRA responde dizendo que Saback está praticando estelionato e que as medidas tomadas visam a defender os profissionais de administração. Enquanto André Saback, formado em marketing pela FIB - Centro Universitário da Bahia -, diz militar pela regulamentação da profissão, o Presidente do CRA/BA, Roberto Ibrahim Uehbe, afirma que o profissional criou uma associação clandestina, está emitindo carteirinhas, cobrando taxas e que foi cobrado pelo Conselho Federal de Administração por medidas que passam até por processar Saback, que diz ter recebido dois telefonemas anônimos na última semana em tom de ameaç