A indústria de serviços financeiros promove o encontro entre empresas e investidores. Contudo, com a abertura de um número maior de mercados estrangeiros, e com os investidores cada vez mais cientes de que podem obter uma troca melhor entre risco e retorno no exterior, os bancos globais estão começando a se parecer com uma Nações Unidas em miniatura, já que se vêem obrigados a atender às demandas das empresas e dos diferentes sistemas de gestão dos países. O desafio de administrar toda essa diversidade suscita, ao mesmo tempo, questões diversas sobre o papel da indústria de serviços financeiros. Em “Lidando com a complexidade em empresas globais” (Managing complexity in global organizations), livro recentemente publicado de Ulrich Steger, Wolfgang Amann e Martha Maznevski, o professor Arturo Bris analisa de que modo a indústria de serviços financeiros está se vendo compelida a se adaptar a um mundo cada vez mais complexo, e sugere cautela no que diz respeito à tendência atual de convergência.
A natureza da complexidade
Os serviços financeiros, já bastante dependentes de fatores macroeconômicos, estão igualmente sujeitos a uma estratégia própria de crescimento que tende a tomar a forma de aquisições internacionais cujo propósito é o de erigir empresas ainda maiores, ampliar seu alcance geográfico, atingir a conquistar clientes no mundo todo. Daí advém uma capacidade ainda maior de gestão de culturas e de troca de funcionários entre empresas. Acrescente-se a isso o papel das empresas de serviços financeiros na economia e o efeito da regulamentação financeira em graus diversos nos vários países, ajudando ou atrapalhando a empresa a agir. A complexidade é maior porque, à medida que os intermediários incorrem em riscos e os transferem de uma para outra empresa, a possibilidade de o fornecedor de fundos ou o credor sofrerem algum tipo de choque torna-se um risco para a empresa de serviços financeiros.
Limitando os riscos
A única maneira de as empresas de serviços financeiros sobreviverem em um mundo tão complexo consiste na padronização de suas atividades e procedimentos, o que resulta quase sempre em convergência — como se pode ver pelos vários sistemas e estratégias formulados com o objetivo de restringir as possibilidades de risco. Os acordos de Basiléia I e Basiléia II, por exemplo, estabelecem três procedimentos elaborados em comum acordo e que podem vir a ser adotados pelos bancos para limitar a extensão do risco do crédito. De igual modo, os bancos contam com três opções diferentes pra restringir o risco operacional: a Estratégia do Indicador Básico, a estratégia de padronização e a Estratégia de Mensuração Avançada (AMA, na sigla em inglês). Os sistemas internos desenvolvidos pelas empresas de serviços financeiros para o cálculo do capital de que necessitam são denominados de metodologias de capital econômico (CE) que, de acordo com as empresas, melhoram seu planejamento econômico, são úteis para a avaliação do seu desempenho e estabelecem limites de risco. Observa-se uma tendência importante de sintonia dos preços e da gestão do risco de crédito com o mercado, o que resulta no desenvolvimento dos mercados de derivativos os quais, por sua vez, têm mais estabilidade, tornando os preços mais transparentes e eficientes. Contudo, a complexidade cada vez maior das transações gerou uma necessidade de regulamentação financeira que possibilitasse a criação de novos tipos de procedimentos.
Tipos de regulamentação e seus possíveis perigos
Em um esforço para simplificar os trâmites das transações financeiras, estão sendo tomadas medidas que permitam a convergência para normas internacionais de boa governança que visam à proteção dos acionistas contra diretores preocupados com a obtenção de lucro próprio, e não da empresa. Contudo, a boa governança parte do pressuposto de que certos sistemas são melhores do que outros, sem levar em consideração as particularidades do país onde o sistema funciona bem. A situação na Venezuela, por exemplo, é muito diferente da que se observa no Reino Unido — que, de modo geral, possui um bom sistema em funcionamento. Portanto, é perigoso copiar pura e simplesmente o que funciona bem em um mercado e transportar para outro. Por exemplo, o princípio anglo-saxônico de maximização da geração de valor para o acionista como objetivo único do diretor peca por não levar em conta os funcionários da empresa, ao passo que a estratégia japonesa e alemã, em que o trabalhador participa da gestão da empresa, produz efetivamente resultados de longo prazo e de melhor qualidade. Em segundo lugar, nos mercados anglo-saxônicos, a propriedade da empresa é mais fragmentada se comparada, por exemplo, com o sistema espanhol ou venezuelano, onde os conflitos de interesses resultantes não se dão entre diretores e acionistas, e sim entre acionistas majoritários e minoritários. As novas regulamentações ignoram essa característica dos mercados financeiros.
Reduzindo a incerteza e a complexidade dos mercados
Como a sustentabilidade da empresa é extremamente importante para as empresas de serviços financeiros, o tema tornou-se um dos principais critérios para a seleção de projetos, e sofre também influência do processo de convergência. Esses padrões de sustentabilidade acarretam também algumas implicações para a indústria de serviços financeiros como, por exemplo, decidir quem obterá financiamento. Com a adoção de tais princípios em âmbito global, as empresas de serviços financeiros acabam aplicando as mesmas políticas. Essas empresas enfrentam agora questões relativas à tributação da natureza dos seus objetivos — quer seja a maximização dos lucros, aumento de receitas ou de tamanho, maximização da satisfação do cliente, quer se trate ainda do retorno sobre ações. Como conseqüência, a alta gerência está cada vez mais preocupada com seus Principais Indicadores de Desempenho (KPI, na sigla em inglês). Estes, introduzidos de cima para baixo, porém aplicados no sentido inverso, reduzem a complexidade dentro da empresa ao padronizar a atividade corporativa e se concentrar nas informações mais importantes e nas atividades mais pertinentes. As definições de KPI estão entre as melhores estratégias adotadas pelas empresas de serviços financeiros em seu esforço para reduzir a complexidade, ajudar tanto investidores quanto empregados, contribuindo ao mesmo tempo para uma concorrência mais eficaz entre as empresas. Além disso, a convergência de KPIs reduz as incertezas dos mercados e a complexidade da indústria.
Embora a convergência ajude, de fato, a limitar a complexidade, ela não ocorre sem algum impacto, e as implicações mais amplas disso devem ser levadas em conta.
Fonte: Por Arturo Bris, in epocanegocios.globo.com
A natureza da complexidade
Os serviços financeiros, já bastante dependentes de fatores macroeconômicos, estão igualmente sujeitos a uma estratégia própria de crescimento que tende a tomar a forma de aquisições internacionais cujo propósito é o de erigir empresas ainda maiores, ampliar seu alcance geográfico, atingir a conquistar clientes no mundo todo. Daí advém uma capacidade ainda maior de gestão de culturas e de troca de funcionários entre empresas. Acrescente-se a isso o papel das empresas de serviços financeiros na economia e o efeito da regulamentação financeira em graus diversos nos vários países, ajudando ou atrapalhando a empresa a agir. A complexidade é maior porque, à medida que os intermediários incorrem em riscos e os transferem de uma para outra empresa, a possibilidade de o fornecedor de fundos ou o credor sofrerem algum tipo de choque torna-se um risco para a empresa de serviços financeiros.
Limitando os riscos
A única maneira de as empresas de serviços financeiros sobreviverem em um mundo tão complexo consiste na padronização de suas atividades e procedimentos, o que resulta quase sempre em convergência — como se pode ver pelos vários sistemas e estratégias formulados com o objetivo de restringir as possibilidades de risco. Os acordos de Basiléia I e Basiléia II, por exemplo, estabelecem três procedimentos elaborados em comum acordo e que podem vir a ser adotados pelos bancos para limitar a extensão do risco do crédito. De igual modo, os bancos contam com três opções diferentes pra restringir o risco operacional: a Estratégia do Indicador Básico, a estratégia de padronização e a Estratégia de Mensuração Avançada (AMA, na sigla em inglês). Os sistemas internos desenvolvidos pelas empresas de serviços financeiros para o cálculo do capital de que necessitam são denominados de metodologias de capital econômico (CE) que, de acordo com as empresas, melhoram seu planejamento econômico, são úteis para a avaliação do seu desempenho e estabelecem limites de risco. Observa-se uma tendência importante de sintonia dos preços e da gestão do risco de crédito com o mercado, o que resulta no desenvolvimento dos mercados de derivativos os quais, por sua vez, têm mais estabilidade, tornando os preços mais transparentes e eficientes. Contudo, a complexidade cada vez maior das transações gerou uma necessidade de regulamentação financeira que possibilitasse a criação de novos tipos de procedimentos.
Tipos de regulamentação e seus possíveis perigos
Em um esforço para simplificar os trâmites das transações financeiras, estão sendo tomadas medidas que permitam a convergência para normas internacionais de boa governança que visam à proteção dos acionistas contra diretores preocupados com a obtenção de lucro próprio, e não da empresa. Contudo, a boa governança parte do pressuposto de que certos sistemas são melhores do que outros, sem levar em consideração as particularidades do país onde o sistema funciona bem. A situação na Venezuela, por exemplo, é muito diferente da que se observa no Reino Unido — que, de modo geral, possui um bom sistema em funcionamento. Portanto, é perigoso copiar pura e simplesmente o que funciona bem em um mercado e transportar para outro. Por exemplo, o princípio anglo-saxônico de maximização da geração de valor para o acionista como objetivo único do diretor peca por não levar em conta os funcionários da empresa, ao passo que a estratégia japonesa e alemã, em que o trabalhador participa da gestão da empresa, produz efetivamente resultados de longo prazo e de melhor qualidade. Em segundo lugar, nos mercados anglo-saxônicos, a propriedade da empresa é mais fragmentada se comparada, por exemplo, com o sistema espanhol ou venezuelano, onde os conflitos de interesses resultantes não se dão entre diretores e acionistas, e sim entre acionistas majoritários e minoritários. As novas regulamentações ignoram essa característica dos mercados financeiros.
Reduzindo a incerteza e a complexidade dos mercados
Como a sustentabilidade da empresa é extremamente importante para as empresas de serviços financeiros, o tema tornou-se um dos principais critérios para a seleção de projetos, e sofre também influência do processo de convergência. Esses padrões de sustentabilidade acarretam também algumas implicações para a indústria de serviços financeiros como, por exemplo, decidir quem obterá financiamento. Com a adoção de tais princípios em âmbito global, as empresas de serviços financeiros acabam aplicando as mesmas políticas. Essas empresas enfrentam agora questões relativas à tributação da natureza dos seus objetivos — quer seja a maximização dos lucros, aumento de receitas ou de tamanho, maximização da satisfação do cliente, quer se trate ainda do retorno sobre ações. Como conseqüência, a alta gerência está cada vez mais preocupada com seus Principais Indicadores de Desempenho (KPI, na sigla em inglês). Estes, introduzidos de cima para baixo, porém aplicados no sentido inverso, reduzem a complexidade dentro da empresa ao padronizar a atividade corporativa e se concentrar nas informações mais importantes e nas atividades mais pertinentes. As definições de KPI estão entre as melhores estratégias adotadas pelas empresas de serviços financeiros em seu esforço para reduzir a complexidade, ajudar tanto investidores quanto empregados, contribuindo ao mesmo tempo para uma concorrência mais eficaz entre as empresas. Além disso, a convergência de KPIs reduz as incertezas dos mercados e a complexidade da indústria.
Embora a convergência ajude, de fato, a limitar a complexidade, ela não ocorre sem algum impacto, e as implicações mais amplas disso devem ser levadas em conta.
Fonte: Por Arturo Bris, in epocanegocios.globo.com
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