Do alto das torres envidraçadas das grandes corretoras ou das salas de home broker dos pequenos investidores, acionistas do mundo todo nem imaginam que suas decisões de investimento podem estar sob a influência de um elemento bem mais irracional do que supõem, seus próprios hormônios. A descoberta vem de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e põe mais lenha na fogueira da discussão quanto à influência das emoções no comportamento de quem atua no mercado financeiro.
Há poucas semanas, o tema - estudado há anos por psicólgos, médicos e economistas - voltou a ficar em evidência a partir de um artigo do ex-presidente do Banco Central americano (Federal Reserve), Alan Greenspan, segundo o qual nunca haverá um modelo perfeito de risco econômico, já que é impossível prever o ânimo dos investidores. Desta vez, a percepção ganha contornos científicos, a partir da publicação de uma pesquisa que relaciona a disposição de um investidor a correr riscos com o volume diário em seu organismo de testosterona, o hormônio masculino associado a agressividade e interesse sexual, e de cortisol, substância associada aos efeitos do estresse.
Publicado nesta terça-feira, no periódico científico inglês Proceedings of the National Academy of Sciences (Métodos da Academia Nacional de Ciências, em tradução livre), o levantamento baseou-se em amostras de saliva colhidas diariamente, pela manhã e no fim da tarde, entre operadores de bancos e financeiras de Londres. A coleta mostrou que os investidores que começavam o dia com maior nível de testosterona eram os que também tendiam a correr mais riscos e, conseqüentemente, a ganhar mais dinheiro no curto prazo. Já o cortisol aparecia nas situações contrárias, em que os investidores rejeitavam riscos mais significativos e, portanto, mantinham mais baixas suas possibilidades de ganhos.
O estudo também alerta que o efeito dos hormônios tende a ser cumulativo, o que em médio e longo prazo, provoca o efeito inverso em termos de ganhos. Assim como nos animais, as situações em que um homem se considera vitorioso tendem a levar a um aumento de testosterona, que por sua vez eleva a auto-confiança, a disposição ao risco e portanto, aumenta as chances de novas vitórias. Num dado momento, porém, a espiral conhecida como “efeito do vencedor” pode distorcer a percepção de risco a tal ponto que passa a provocar exposição irracional ao perigo.
Já o cortisol promove uma outra espiral, a da frieza e da preservação. Presente com maior intensidade nas situações em que o mercado aparecia mais volátil, a substância pode levar à tendência de encontrar risco onde ele não existe, como descreve o coordenador da pesquisa, John Coates.
Bolhas e recessões
Ex-funcionário de uma mesa de operações do Deutsche Bank em Wall Street, durante a década de 90, em plena bolha da internet, Coates afirma ter começado a se interessar pela influência dos hormônios no comportamento dos investidores ao observar alguns colegas do mercado financeiro. Muitos demonstravam um “comportamento maníaco” e um “sentimento de infalibilidade”, como se estivessem sob efeito de drogas, mas essas reações apareciam muito mais claramente nos homens do que nas mulheres, segundo o pesquisador, o que provavelmente se explica por serem provocadas pela variação no hormônio masculino.
Para Coates, a neurociência e a endocrinologia também podem ser úteis para explicar o comportamento dos operadores nas fases extremas do mercado.
“A testosterona tende a aumentar em momentos de euforia, aumentando os riscos e exagerando a elevação dos papéis. Por outro lado, a exposição ao cortisol deve aumentar em momentos de crise, tornando os investidores dramaticamente, e talvez irracionalmente, avessos à risco, o que os leva a exagerar a vendas de posições”, analisa.
Outro desdobramento possível do estudo é o de estimular as empresas do setor financeiro a passarem a considerar não apenas o conhecimento técnico e a experiência de seus funcionários, mas também as características condicionantes do funcionamento hormonal.
“Será que uma presença maior de mulheres e de homens mais velhos no mercado ajudaria a estabilizar o aparecimento das bolhas? Se as decisões quanto a risco são parcialmente determinadas pelos hormônios, então uma boa estratégia de redução de risco para os bancos pode incluir a diversificação dos perfis endocrinológicos em seus espaços de operações”, afirma Coates, em artigo de sua autoria publicado nesta terça-feira, no jornal inglês Financial Times.
A pesquisa pode ainda reforçar um estudo divulgado há menos de duas semanas por pesquisadores de universidades americanas, segundo os quais os homens estimulados por fotos eróticas de mulheres atraentes tendem a arriscar quantias maiores em operações financeiras do que aqueles expostos a fotos neutras ou assustadoras, como as de animais peçonhentos. A explicação, para os cientistas, pode estar no fato de as mulheres e a possibilidade de ganhar dinheiro estimularem a mesma área do cérebro masculino.
Fonte: portalexame.abril.com.br
Há poucas semanas, o tema - estudado há anos por psicólgos, médicos e economistas - voltou a ficar em evidência a partir de um artigo do ex-presidente do Banco Central americano (Federal Reserve), Alan Greenspan, segundo o qual nunca haverá um modelo perfeito de risco econômico, já que é impossível prever o ânimo dos investidores. Desta vez, a percepção ganha contornos científicos, a partir da publicação de uma pesquisa que relaciona a disposição de um investidor a correr riscos com o volume diário em seu organismo de testosterona, o hormônio masculino associado a agressividade e interesse sexual, e de cortisol, substância associada aos efeitos do estresse.
Publicado nesta terça-feira, no periódico científico inglês Proceedings of the National Academy of Sciences (Métodos da Academia Nacional de Ciências, em tradução livre), o levantamento baseou-se em amostras de saliva colhidas diariamente, pela manhã e no fim da tarde, entre operadores de bancos e financeiras de Londres. A coleta mostrou que os investidores que começavam o dia com maior nível de testosterona eram os que também tendiam a correr mais riscos e, conseqüentemente, a ganhar mais dinheiro no curto prazo. Já o cortisol aparecia nas situações contrárias, em que os investidores rejeitavam riscos mais significativos e, portanto, mantinham mais baixas suas possibilidades de ganhos.
O estudo também alerta que o efeito dos hormônios tende a ser cumulativo, o que em médio e longo prazo, provoca o efeito inverso em termos de ganhos. Assim como nos animais, as situações em que um homem se considera vitorioso tendem a levar a um aumento de testosterona, que por sua vez eleva a auto-confiança, a disposição ao risco e portanto, aumenta as chances de novas vitórias. Num dado momento, porém, a espiral conhecida como “efeito do vencedor” pode distorcer a percepção de risco a tal ponto que passa a provocar exposição irracional ao perigo.
Já o cortisol promove uma outra espiral, a da frieza e da preservação. Presente com maior intensidade nas situações em que o mercado aparecia mais volátil, a substância pode levar à tendência de encontrar risco onde ele não existe, como descreve o coordenador da pesquisa, John Coates.
Bolhas e recessões
Ex-funcionário de uma mesa de operações do Deutsche Bank em Wall Street, durante a década de 90, em plena bolha da internet, Coates afirma ter começado a se interessar pela influência dos hormônios no comportamento dos investidores ao observar alguns colegas do mercado financeiro. Muitos demonstravam um “comportamento maníaco” e um “sentimento de infalibilidade”, como se estivessem sob efeito de drogas, mas essas reações apareciam muito mais claramente nos homens do que nas mulheres, segundo o pesquisador, o que provavelmente se explica por serem provocadas pela variação no hormônio masculino.
Para Coates, a neurociência e a endocrinologia também podem ser úteis para explicar o comportamento dos operadores nas fases extremas do mercado.
“A testosterona tende a aumentar em momentos de euforia, aumentando os riscos e exagerando a elevação dos papéis. Por outro lado, a exposição ao cortisol deve aumentar em momentos de crise, tornando os investidores dramaticamente, e talvez irracionalmente, avessos à risco, o que os leva a exagerar a vendas de posições”, analisa.
Outro desdobramento possível do estudo é o de estimular as empresas do setor financeiro a passarem a considerar não apenas o conhecimento técnico e a experiência de seus funcionários, mas também as características condicionantes do funcionamento hormonal.
“Será que uma presença maior de mulheres e de homens mais velhos no mercado ajudaria a estabilizar o aparecimento das bolhas? Se as decisões quanto a risco são parcialmente determinadas pelos hormônios, então uma boa estratégia de redução de risco para os bancos pode incluir a diversificação dos perfis endocrinológicos em seus espaços de operações”, afirma Coates, em artigo de sua autoria publicado nesta terça-feira, no jornal inglês Financial Times.
A pesquisa pode ainda reforçar um estudo divulgado há menos de duas semanas por pesquisadores de universidades americanas, segundo os quais os homens estimulados por fotos eróticas de mulheres atraentes tendem a arriscar quantias maiores em operações financeiras do que aqueles expostos a fotos neutras ou assustadoras, como as de animais peçonhentos. A explicação, para os cientistas, pode estar no fato de as mulheres e a possibilidade de ganhar dinheiro estimularem a mesma área do cérebro masculino.
Fonte: portalexame.abril.com.br
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