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Ainda há dúvidas sobre a mídia digital

As agências especializadas em internet costumam dizer que o futuro da mídia tradicional está com os dias contados - ou seja, o que não passa pela web não é mais a propaganda moderna e alinhada com o restante do mundo. Também há quem diga que para causar impacto, de fato, um anunciante não deve, nunca, abandonar a mídia tradicional. Ainda há espaço para uma opinião mais razoável, que defende a importância dos dois lados, sem esquecer, no entanto, que os meios tradicionais (jornais, revistas, TV) precisam, sim, se adaptar às novas tendências da comunicação. O fato é que tudo isso, além de causar polêmica e discussões sem fim, também vem se mostrando uma incógnita para as agências de propaganda. Nem elas, autoridades máximas em propaganda, sabem qual o real impacto da web na construção de marca. Mais: ainda estão em busca da melhor, e mais impactante, forma de usar a internet como business. E acertar, é claro.

Para Paulo Queiroz, vice-presidente da DM9DDB, o mundo está cada vez mais rápido e digital, o que vem causando uma nova realidade para a propaganda. "Antes, o público-alvo era sempre massivo. Hoje, as marcas precisam segmentar, porque há muita opinião diferente dentro de um mesmo target", considera Queiroz.

O executivo da DM9, especialista em mídia, defende uma cenário mais moderno para a mídia tradicional, apoiado em multiplataformas. "O jornal, por exemplo, sempre vai ter sua força no papel. Senão, os balanços seriam publicados somente na internet. Mas é preciso também abrir canais de interação com o consumidor."

Queirós reconhece o conflito que existe, pelo menos em debates, entre as novas mídias e as mídias tradicionais. "O Brasil é massivo em mídia. Ainda estamos trabalhando para saber como as novas plataformas de celular e internet podem ter uma correlação com a construção de marcas ou somente a divulgação de um produto."
Segundo o publicitário, o que já deu para perceber é que a internet, por exemplo, ainda é dependente da mídia de massa. "É o relacionamento escala x interatividade", exemplifica. Queiroz lembra ainda que para falar com este consumidor que está ligado em tudo, ao mesmo tempo, é preciso ir além do debate digital versus tradicional. "Eventos, marketing direto, ponto-de-venda são outras ferramentas que ganham espaço. A propaganda certamente não é tudo", afirma Queiroz, ao continuar: "o primeiro desafio para as agências é formar uma cultura de vanguarda".
Sobre os clientes, pontua que eles não abrem mão de resultados consolidados e crescentes, o que ainda é um desafio para as agências: arriscar sem perder dinheiro. Ou pelo menos deixar de ganhar. "Isso aumenta a responsabilidade do marketing dentro das empresas. O cliente precisa ter uma gestão mais estratégica."

Para Paulo Queiroz, "a internet deu muito mais força ao consumidor". "O perigo disso tudo é criar uma megatolerância social. Uma supersegmentação ideológica", completa.
Aliás, é justamente neste aspecto social que toca o sócio e diretor da Talent, José Eustachio. "O que muda não é o consumidor, mas sim o ambiente, a cultura. As pessoas continuam se relacionando pelos mesmos estigmas. Existem muitas novas possibilidades de comunicação, o que causa influência como fenômeno sociológico. Agora, o digital, como veículo de mídia, que gera vendas e constrói marcas, tem uma contribuição pífia", defende Eustachio. "Até agora, nenhuma grande marca foi construída no ambiente digital. Amazon e Google são empresas que se relacionam com as pessoas. A internet é um veículo de relacionamento. É diferente", diz acreditar Eustachio.

O VP de criação da Leo Burnett, Ruy Lindenberg, reconhece o potencial da internet, bem como a importância dos meios tradicionais. "Sou contra a radicalização que meios como jornal e revista não vão mais existir. Na verdade, ainda não sabemos o real potencial das novas mídias. O consumidor, em fase de descobertas, é que vai nos dizer", finaliza Lindenberg.


Fonte: Por Sandra Azedo, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 6

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