Empresas com alma são feitas por pessoas que fazem as coisas com alma. Quem disse essa frase, em 1997, foi Charles Handy, em uma célebre entrevista à revista Leader to Leader, da Fundação Peter Drucker.
À época, o famoso guru inglês, autor de A Era do Irracional e A Era do Paradoxo, estudava a busca de um novo sentido para o trabalho e a liderança nas corporações em tempos pós-capitalistas. Não por acaso, o seu interesse situava-se em compasso com a emergência da responsabilidade social em empresas de todo o mundo. E a sua antena, sempre afiada para captar tendências corporativas, já havia sintonizado a necessidade de refletir sobre novos papéis e compromissos profissionais em uma era de transição, caracterizada pela ruptura dos modelos tradicionais de gestão de pessoas e negócios.
Dez anos depois, as idéias de Handy, um dos criadores da London Business School, continuam atualíssimas. Aliás, nunca estiveram tão up to date em relação ao que se discute hoje em companhias sociambientalmente responsáveis, razão pela qual vale recorrer a elas para ilustrar este artigo.
Quando escrevia seu livro O Espírito Ávido, Handy concluiu que profissionais e empresas perseguiam algo mais para justificar suas atividades e negócios. Em sua análise, o dinheiro tornara-se uma "medida demasiado grosseira" para determinar o conceito de sucesso pela simples razão de que as pessoas normalmente geram mais riqueza do que precisam para viver. Embora, o dinheiro continue a ser um norte para avaliar o êxito de uma carreira, Handy profetizou que cada vez mais pessoas e organizações passariam a considerar, em seus projetos de realização plena, uma outra variável: a de uma "contribuição especial e única para o mundo". Houve quem o considerasse um velho sonhador em fim de carreira.
Conceito relativamente ingênuo para os padrões do mundo corporativo pré-responsabilidade social, o de Handy se respaldava na idéia de que as empresas mais perenes são exatamente as que oferecem ao mundo, com exclusividade, não só crescimento ou dinheiro, mas excelência, respeito pelos outros e a capacidade de tornar as pessoas felizes. Mesmo sem citar com todas as letras, ele já se referia às organizações hoje consideradas socioambientalmente responsáveis.
Para Handy, o que estava - e está - impelindo os líderes a promover mudanças de valores e práticas é uma necessidade de "confiar no futuro" e um desejo de "fazer alguma diferença em favor do mundo", deixando-o um pouco melhor do que encontramos ao nascer. Isso explica, por exemplo, porque os profissionais costumam ser mais felizes em corporações socialmente responsáveis, porque há cada vez mais pessoas querendo trabalhar nelas e porque jovens saídos das faculdades as preferem em relação ás empresas mais obtusas que ainda não incorporaram seu papel social.
Nesse novo mundo, líderes eficazes - aposta Handy - serão indivíduos muito especiais, capazes de combinar em seu perfil, absoluta paixão pelo que fazem, habilidade de transmitir essa paixão ás outras pessoas, espírito coletivista, firmeza moral e a certeza de que não possuem todas as respostas prontas.
Um contemporâneo de Handy, amigo e também filósofo de gestão, Peter Drucker gostava de dizer que os líderes de empresas têm muito a aprender com os de organizações de terceiro setor em termos de auto-motivação, espírito de equipe, interesse altruísta, energia e amor a uma causa. Esta é também a minha opinião. Não chega evidentemente a ser pré-requisito, mas acho desejável, por exemplo, que alguém interessado em trabalhar com responsabilidade social em uma empresa tenha um misto das características de quatro grande empreendedores sociais: Betinho, Zilda Arns, Wellington Nogueira e Evando dos Santos. De Betinho, o sociólogo, irmão de Henfil que na década de 1980 conseguiu mobilizar 70 milhões de brasileiros em torno da luta contra a fome e a miséria, vale destacar a paixão pela causa, a indignação pró-ativa e capacidade de articular muitas pessoas em torno de um ideal. De Zilda Arns, a presidente da Pastoral da Crianças, que mobiliza 270 mil voluntários em todo o Brasil para reduzir a desnutrição e a mortalidade infantis, salta aos olhos a combinação de conhecimento técnico, capacidade de planejamento e avaliação de resultados, solidariedade e alto senso de cidadania. De Wellington Nogueira, o criador dos Doutores da Alegria, que trabalham para melhorar a qualidade de vida das crianças internadas em hospitais, ressalta-se a criatividade de criar soluções novas para problemas antigos. E de Evando dos Santos, o pedreiro carioca que construiu a maior biblioteca comunitária do Brasil e está prestes a inaugurá-la num prédio com projeto de Oscar Niemeyer, chama atenção a persistência na construção de um sonho a despeito da indiferença dos outros e das adversidades cotidianas. Em comum, o que marca a trajetória desses quatro líderes é o que deve estar latente no perfil dos profissionais de responsabilidade social, quaisquer que sejam a sua formação, o cargo e as atribuições específicas: a paixão pelo que fazem, o desejo de dar uma "contribuição especial para o mundo" e torná-lo um lugar melhor para se viver.
Fonte: Por Ricardo Voltolini, in www.aberje.com.br
À época, o famoso guru inglês, autor de A Era do Irracional e A Era do Paradoxo, estudava a busca de um novo sentido para o trabalho e a liderança nas corporações em tempos pós-capitalistas. Não por acaso, o seu interesse situava-se em compasso com a emergência da responsabilidade social em empresas de todo o mundo. E a sua antena, sempre afiada para captar tendências corporativas, já havia sintonizado a necessidade de refletir sobre novos papéis e compromissos profissionais em uma era de transição, caracterizada pela ruptura dos modelos tradicionais de gestão de pessoas e negócios.
Dez anos depois, as idéias de Handy, um dos criadores da London Business School, continuam atualíssimas. Aliás, nunca estiveram tão up to date em relação ao que se discute hoje em companhias sociambientalmente responsáveis, razão pela qual vale recorrer a elas para ilustrar este artigo.
Quando escrevia seu livro O Espírito Ávido, Handy concluiu que profissionais e empresas perseguiam algo mais para justificar suas atividades e negócios. Em sua análise, o dinheiro tornara-se uma "medida demasiado grosseira" para determinar o conceito de sucesso pela simples razão de que as pessoas normalmente geram mais riqueza do que precisam para viver. Embora, o dinheiro continue a ser um norte para avaliar o êxito de uma carreira, Handy profetizou que cada vez mais pessoas e organizações passariam a considerar, em seus projetos de realização plena, uma outra variável: a de uma "contribuição especial e única para o mundo". Houve quem o considerasse um velho sonhador em fim de carreira.
Conceito relativamente ingênuo para os padrões do mundo corporativo pré-responsabilidade social, o de Handy se respaldava na idéia de que as empresas mais perenes são exatamente as que oferecem ao mundo, com exclusividade, não só crescimento ou dinheiro, mas excelência, respeito pelos outros e a capacidade de tornar as pessoas felizes. Mesmo sem citar com todas as letras, ele já se referia às organizações hoje consideradas socioambientalmente responsáveis.
Para Handy, o que estava - e está - impelindo os líderes a promover mudanças de valores e práticas é uma necessidade de "confiar no futuro" e um desejo de "fazer alguma diferença em favor do mundo", deixando-o um pouco melhor do que encontramos ao nascer. Isso explica, por exemplo, porque os profissionais costumam ser mais felizes em corporações socialmente responsáveis, porque há cada vez mais pessoas querendo trabalhar nelas e porque jovens saídos das faculdades as preferem em relação ás empresas mais obtusas que ainda não incorporaram seu papel social.
Nesse novo mundo, líderes eficazes - aposta Handy - serão indivíduos muito especiais, capazes de combinar em seu perfil, absoluta paixão pelo que fazem, habilidade de transmitir essa paixão ás outras pessoas, espírito coletivista, firmeza moral e a certeza de que não possuem todas as respostas prontas.
Um contemporâneo de Handy, amigo e também filósofo de gestão, Peter Drucker gostava de dizer que os líderes de empresas têm muito a aprender com os de organizações de terceiro setor em termos de auto-motivação, espírito de equipe, interesse altruísta, energia e amor a uma causa. Esta é também a minha opinião. Não chega evidentemente a ser pré-requisito, mas acho desejável, por exemplo, que alguém interessado em trabalhar com responsabilidade social em uma empresa tenha um misto das características de quatro grande empreendedores sociais: Betinho, Zilda Arns, Wellington Nogueira e Evando dos Santos. De Betinho, o sociólogo, irmão de Henfil que na década de 1980 conseguiu mobilizar 70 milhões de brasileiros em torno da luta contra a fome e a miséria, vale destacar a paixão pela causa, a indignação pró-ativa e capacidade de articular muitas pessoas em torno de um ideal. De Zilda Arns, a presidente da Pastoral da Crianças, que mobiliza 270 mil voluntários em todo o Brasil para reduzir a desnutrição e a mortalidade infantis, salta aos olhos a combinação de conhecimento técnico, capacidade de planejamento e avaliação de resultados, solidariedade e alto senso de cidadania. De Wellington Nogueira, o criador dos Doutores da Alegria, que trabalham para melhorar a qualidade de vida das crianças internadas em hospitais, ressalta-se a criatividade de criar soluções novas para problemas antigos. E de Evando dos Santos, o pedreiro carioca que construiu a maior biblioteca comunitária do Brasil e está prestes a inaugurá-la num prédio com projeto de Oscar Niemeyer, chama atenção a persistência na construção de um sonho a despeito da indiferença dos outros e das adversidades cotidianas. Em comum, o que marca a trajetória desses quatro líderes é o que deve estar latente no perfil dos profissionais de responsabilidade social, quaisquer que sejam a sua formação, o cargo e as atribuições específicas: a paixão pelo que fazem, o desejo de dar uma "contribuição especial para o mundo" e torná-lo um lugar melhor para se viver.
Fonte: Por Ricardo Voltolini, in www.aberje.com.br
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