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Sua marca no acervo

O que tem levado grandes empresas a procurar museus como local de interação com seus consumidores? "Credibilidade", responde o físico Jorge Wagensberg, diretor do Museu de Ciência de Barcelona, o Cosmocaixa. "Se a Honda apresenta o seu motor de hidrogênio no museu, as pessoas sabem que aquilo é sério."

Resumidas em um único parágrafo, aí estão algumas das inovações mais importantes na história dos museus desde 1793, quando os líderes da Revolução Francesa escolheram o Palácio do Louvre, em Paris, como primeiro local moderno para exibição pública de objetos históricos.

Primeira inovação: as empresas estão usando o espaço público dos museus para lançar produtos e exibir suas tecnologias, rompendo a barreira que separava as corporações modernas do mundo poeirento da museologia. Em Barcelona, o marketing corporativo já constitui uma fonte importante de receitas da instituição. Segunda inovação: o professor Wagensberg é um empreendedor ambicioso e radical, capaz de lançar idéias e correr atrás de apoio para torná-las reais. Constitui um novo tipo de museólogo, com pouco em comum com os burocratas da cultura oficial. Terceira inovação: o Cosmocaixa é diferente dos outros museus. Desde a sua arrojada concepção arquitetônica, ele foi concebido para misturar objetos e fenômenos e permitir, assim, uma profunda interação com o público. A forma é tão nova que virou conceito: museu total. Trata-se de um enorme sucesso, eleito no ano passado como o melhor museu da Europa.

"Inovação ocorre quando se correm riscos, e as pessoas simplesmente não estão dispostas", diz o diretor. Especializado em física do caos, autor de uma dezena de livros de ciência para leigos, Wagensberg esteve no Brasil dias atrás para opinar sobre um projeto ainda secreto de museu científico. Aos 58 anos, esse catalão de ar tranqüilo e mente inquieta é uma das personalidades mais globalizadas em sua área. Viaja o mundo dando palestras e o curso de pós-gradução em museografia, montado por ele na Universidade de Barcelona, já tem 200 alunos por ano, de 15 países. Sem pensar demais, enumera os projetos nos quais está colaborando: o Museu da Ciência de Pequim, o Museu da Antártida, no Chile, o Museu da Confluência, na França, o Museu de Ciência de Boston... Em toda parte, repete que os museus são talvez o único espaço em que a sociedade - empresas, governos e cidadãos - consegue colaborar de forma frutífera, sem constrangimentos. Sua outra tese favorita é que a finalidade dos museus não é ensinar, nem informar e muito menos formar. "Museus existem para estimular o interesse das pessoas", diz ele, entusiasmado. "Elas entram no museu apáticas e têm de sair obcecadas." Ali prepara-se o futuro, mesmo quando se olha o passado.

O próprio Wagensberg é um exemplo de sua tese. Em 1989,ele foi convidado a integrar-se ao museu de Barcelona - que não passava de uma sala de ótica - e imediatamente viajou aos EUA. Lá, visitou um museu por dia, em ritmo alucinado. Voltou "apaixonado e indignado", tomado pela idéia de "fazer direito" em sua cidade natal. Quinze anos depois, com generoso patrocínio do banco catalão La Caixa e incontáveis viagens ao redor do mundo para coleta de material, reinaugurou o museu, ampliado. Agora, inquieto com a questão ambiental, prepara-se para lançar uma discussão inédita entre economistas e cientistas. "A economia acredita em crescimento contínuo e permanente", diz ele. "Isso é incompatível com a realidade do planeta e com as leis da termodinâmica. Alguém tem de abrir o debate." Por que não um físico e diretor de museu?


Fonte: epocanegocios.globo.com

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