Os números de recente pesquisa do Instituto Ipsos e do Ciesp (Centro das Indústrias do estado de São Paulo) revelam o que, até um ano atrás, pareceria inimaginável mesmo para o mais otimista dos ambientalistas: o aquecimento global tornou-se, decididamente, um assunto popular entre os brasileiros. E já ocupa um espaço entre as suas preocupações.
Quase oito em cada dez brasileiros não só sabem o que são as mudanças climáticas como acham que este fenômeno representa um risco de verdade para o Planeta, podendo levá-lo a uma catástrofe. O nível de informação é maior quanto mais alta é a classe social do entrevistado. Entre os que pertencem ás classes A/B, 96% já ouviram falar em aquecimento global. Na classe C, o percentual de pessoas familiarizadas com o tema é de 84%, e nas classes D/E, de 69%.
Além de saberem do que se trata, os brasileiros conseguem identificar os impactos das mudanças climáticas. Para 72%, elas vão afetar diretamente suas vidas nos próximos anos. Mas, a despeito do alto nível de sensibilização, a maioria (58%) dos mil entrevistados, em 70 cidades de nove regiões metropolitanas do País, admite que não tem feito nenhuma mudança de hábito pessoal para conter a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Dos 42% de brasileiros mais engajados, 22% praticam a coleta seletiva de lixo, 13% deixam de comprar produtos agressivos ao meio ambiente, 5% só adquirem produtos com embalagens de fácil descarte e 2% usam carro movido a álcool.
Analisando os dados do estudo do Ipsos - o primeiro, de abrangência nacional, a avaliar o que pensa o brasileiro sobre o aquecimento global - pode-se realizar, ao mesmo tempo, dois tipos de leitura complementares: uma francamente otimista e outra mais contida e realista.
Primeiro, a otimista. Feita a necessária ressalva de que toda pesquisa de opinião pública, apresenta um contigente de respostas de impulso e politicamente corretas, não deixa de ser alentador o fato de que a maioria dos brasileiros sabe o que é aquecimento global. Esse quadro se deve, sem dúvida, ao maior interesse de cobertura do tema por parte da imprensa, após a publicação dos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima), que exibiram números alarmantes e ressaltaram, de forma inédita, a relação do fenômeno com a ação do homem. Também pode ser atribuído a uma percepção cada dia mais evidente dos efeitos das mudanças climáticas no cotidiano de nossas vidas, o que fez com que a catástrofe anunciada, antes teórica e distante, se transformasse em um inimigo próximo e muito íntimo. Não é preciso ser cientista para perceber que os dias estão mais quentes, as geleiras estão derretendo, muitas espécies animais vêm morrendo, que os rios começam a secar em regiões tropicais e a encher nas regiões mais distantes do Equador.
Diante de tanta informação e tantas evidências científicas, causa estranheza que 19% dos brasileiros nunca tenham ouvido falar de aquecimento global, 16% achem que o problema não têm ver consigo e expressivos 9%, escorados numa inusitada teoria conspiratória, o considerem apenas uma "jogada de marketing". Marketing a serviço de quem é o caso de se perguntar. Dos que - como nós - são contrários ao desmatamento, apontado por 50% dos entrevistados como vilão número um das mudanças climáticas? Ou das indústrias, vistas como principais responsáveis pelo aquecimento global? Esse tipo de visão distorcida, fragmentada ou apenas simplória, gera resistências e expectativas no mínimo exageradas. Nunca é demais lembrar, por exemplo, que o segmento agrícola, por causa do uso de defensivos, adubos químicos e agrotóxicos, contribui tanto ou mais para o aquecimento global do que as indústrias. E que o controle da ocupação irregular de áreas agricultáveis é tão importante quanto o de emissão de CO2.
Primeira conclusão possível: apesar do inegável aumento de informação, ainda há, portanto, muita gente desinformada sobre o aquecimento global. E, mesmo entre os que, segundo a pesquisa, estão familiarizados com o tema, o nível de informação beira o superficial, especialmente entre os de menor escolaridade e menor capacidade de análise crítica das informações. Muitos são os que já conseguem formar uma visão geral a respeito do tema e seus impactos. E isso representa um avanço importante. Mas muitos são também os que só compreendem o tema até o capítulo um, incapazes ainda de fazerem uma leitura mais contextualizada dos fatos.
O desafio que se impõe aos meios de comunicação, principalmente os de comunicação de massa como a TV, é que sejam cada dia mais didáticos na cobertura dos temas relacionados ao aquecimento global, destacando não suas causas, cenários e contextos; e chamando a atenção para as responsabilidades de governos, empresas e indivíduos na solução do problema. A informação não pode ficar restrita aos noticiários. Precisa ser objeto de ações de propaganda com linguagem criativa e acessível e de ações de merchandising social em novelas.
Outra conclusão possível do estudo do Ipsos: o aumento de circulação de informações não tem sido suficiente para produzir mais consciência, muito menos o senso de urgência necessário para uma mudança de hábitos. Quase 60% dos brasileiros continuam acreditando que aquecimento global é um problema do outro: da empresa, do governo, do capitalismo selvagem, do Bush, das potências do G8 ou mesmo do vizinho ao lado que desperdiça água lavando a calçada. A boa notícia é que já tem mais gente, do que há um ano, usando o seu poder de consumidor consciente para preferir produtos ambientalmente responsáveis. Como esse tipo de atitude, essas pessoas estão mais preparadas para fazer a diferença em benefício do planeta.
Informação é importante, sem dúvida Mas sozinha não basta. É fundamental que ela vire conhecimento. Só o conhecimento produz consciência que, por sua vez, gera mudança.
Fonte: Por Ricardo Voltolini, in www.aberje.com.br
Quase oito em cada dez brasileiros não só sabem o que são as mudanças climáticas como acham que este fenômeno representa um risco de verdade para o Planeta, podendo levá-lo a uma catástrofe. O nível de informação é maior quanto mais alta é a classe social do entrevistado. Entre os que pertencem ás classes A/B, 96% já ouviram falar em aquecimento global. Na classe C, o percentual de pessoas familiarizadas com o tema é de 84%, e nas classes D/E, de 69%.
Além de saberem do que se trata, os brasileiros conseguem identificar os impactos das mudanças climáticas. Para 72%, elas vão afetar diretamente suas vidas nos próximos anos. Mas, a despeito do alto nível de sensibilização, a maioria (58%) dos mil entrevistados, em 70 cidades de nove regiões metropolitanas do País, admite que não tem feito nenhuma mudança de hábito pessoal para conter a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Dos 42% de brasileiros mais engajados, 22% praticam a coleta seletiva de lixo, 13% deixam de comprar produtos agressivos ao meio ambiente, 5% só adquirem produtos com embalagens de fácil descarte e 2% usam carro movido a álcool.
Analisando os dados do estudo do Ipsos - o primeiro, de abrangência nacional, a avaliar o que pensa o brasileiro sobre o aquecimento global - pode-se realizar, ao mesmo tempo, dois tipos de leitura complementares: uma francamente otimista e outra mais contida e realista.
Primeiro, a otimista. Feita a necessária ressalva de que toda pesquisa de opinião pública, apresenta um contigente de respostas de impulso e politicamente corretas, não deixa de ser alentador o fato de que a maioria dos brasileiros sabe o que é aquecimento global. Esse quadro se deve, sem dúvida, ao maior interesse de cobertura do tema por parte da imprensa, após a publicação dos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima), que exibiram números alarmantes e ressaltaram, de forma inédita, a relação do fenômeno com a ação do homem. Também pode ser atribuído a uma percepção cada dia mais evidente dos efeitos das mudanças climáticas no cotidiano de nossas vidas, o que fez com que a catástrofe anunciada, antes teórica e distante, se transformasse em um inimigo próximo e muito íntimo. Não é preciso ser cientista para perceber que os dias estão mais quentes, as geleiras estão derretendo, muitas espécies animais vêm morrendo, que os rios começam a secar em regiões tropicais e a encher nas regiões mais distantes do Equador.
Diante de tanta informação e tantas evidências científicas, causa estranheza que 19% dos brasileiros nunca tenham ouvido falar de aquecimento global, 16% achem que o problema não têm ver consigo e expressivos 9%, escorados numa inusitada teoria conspiratória, o considerem apenas uma "jogada de marketing". Marketing a serviço de quem é o caso de se perguntar. Dos que - como nós - são contrários ao desmatamento, apontado por 50% dos entrevistados como vilão número um das mudanças climáticas? Ou das indústrias, vistas como principais responsáveis pelo aquecimento global? Esse tipo de visão distorcida, fragmentada ou apenas simplória, gera resistências e expectativas no mínimo exageradas. Nunca é demais lembrar, por exemplo, que o segmento agrícola, por causa do uso de defensivos, adubos químicos e agrotóxicos, contribui tanto ou mais para o aquecimento global do que as indústrias. E que o controle da ocupação irregular de áreas agricultáveis é tão importante quanto o de emissão de CO2.
Primeira conclusão possível: apesar do inegável aumento de informação, ainda há, portanto, muita gente desinformada sobre o aquecimento global. E, mesmo entre os que, segundo a pesquisa, estão familiarizados com o tema, o nível de informação beira o superficial, especialmente entre os de menor escolaridade e menor capacidade de análise crítica das informações. Muitos são os que já conseguem formar uma visão geral a respeito do tema e seus impactos. E isso representa um avanço importante. Mas muitos são também os que só compreendem o tema até o capítulo um, incapazes ainda de fazerem uma leitura mais contextualizada dos fatos.
O desafio que se impõe aos meios de comunicação, principalmente os de comunicação de massa como a TV, é que sejam cada dia mais didáticos na cobertura dos temas relacionados ao aquecimento global, destacando não suas causas, cenários e contextos; e chamando a atenção para as responsabilidades de governos, empresas e indivíduos na solução do problema. A informação não pode ficar restrita aos noticiários. Precisa ser objeto de ações de propaganda com linguagem criativa e acessível e de ações de merchandising social em novelas.
Outra conclusão possível do estudo do Ipsos: o aumento de circulação de informações não tem sido suficiente para produzir mais consciência, muito menos o senso de urgência necessário para uma mudança de hábitos. Quase 60% dos brasileiros continuam acreditando que aquecimento global é um problema do outro: da empresa, do governo, do capitalismo selvagem, do Bush, das potências do G8 ou mesmo do vizinho ao lado que desperdiça água lavando a calçada. A boa notícia é que já tem mais gente, do que há um ano, usando o seu poder de consumidor consciente para preferir produtos ambientalmente responsáveis. Como esse tipo de atitude, essas pessoas estão mais preparadas para fazer a diferença em benefício do planeta.
Informação é importante, sem dúvida Mas sozinha não basta. É fundamental que ela vire conhecimento. Só o conhecimento produz consciência que, por sua vez, gera mudança.
Fonte: Por Ricardo Voltolini, in www.aberje.com.br
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