Pular para o conteúdo principal

A Síndrome do "Tô nem aí" e as promessas não cumpridas

Qual a promessa que sua marca faz? Qual é a missão da sua empresa? E como você está cumprindo esta promessa e fazendo a missão se concretizar?

Pois é, em certas organizações os profissionais acreditam que estas perguntas são assuntos dos outros. É a chamada Síndrome do "Tô nem aí". Seja numa empresa pública ou privada, muitas vezes, as pessoas parecem não possuir qualquer relação com a empresa.

Muitos profissionais parecem não acreditar na marca que defendem (ou deveriam defender) e da qual, queiram ou não, são "embaixadores" - representantes mais do que legítimos.

A Síndrome do "Tô nem aí" se traduz em lentidão, burocracia, falta de entusiasmo, mal atendimento de clientes e resultados pífios. Na parte da comunicação, se traduz em ruídos sobre ruídos e falta de ações em comum. Falta de integração e visão de conjunto. E muita rádio corredor.

Por exemplo, entro numa empresa e fico numa fila, ninguém me nota, ninguém pergunta nada. Enfim, chega minha vez de ser atendido. Pergunto para a recepcionista em qual andar trabalha fulano. Qual a surpresa? A recepcionista procura numa tabela o nome do tal fulano e seu ramal. Surpresa! A tabela está desatualizada - os ramais mudaram e ninguém avisou a recepcionista. Incrível. Mas ela também não perguntou nada, nem quis saber se a tabela estava atualizada ou não. O "Tô nem aí" contaminou e uma simples atualização de ramais ficou sem dono.

Quem deveria entregar os novos números da empresa. Quem deveria passar os novos números para a recepcionista lá na portaria não passou. A recepcionista também não procurou. E na entrada da empresa, o slogan no letreiro: "Seu atendimento em primeiro lugar". Mentira! Promessa não cumprida.

Outro test drive. Envio um e-mail para um SAC ou um canal de Ouvidoria. Zona morta. Ninguém responde. Dias depois, uma mensagem "mecânica" dá uma satisfação padrão, tipo:

"Sua mensagem foi recebida e dentro dos próximos dias estaremos analisando...". E lá vem gerúndio. Que maravilha. E quem é o responsável? Ninguém. Promessa não cumprida número dois e a síndrome do "Tô nem aí" contaminando.

O interessante é que se analisarmos a organização por dentro, lá estará a causa da promessa não cumprida. É simples, basta perguntar: o discurso da liderança está coerente com a prática? O tão propalado estilo engajador, o "walk the talk", a transparência e o diálogo são pra valer? As promessas estão sendo cumpridas?

Novamente, vamos ver como está a comunicação nesta organização. Aquele canal de televisão criado para ser quinzenal está sendo veiculado quinzenalmente ou começou com uns atrasos aqui e outros ali...agora é um quinzenal somente na legenda de abertura? Outro: todo mês as informações sobre sustentabilidade da empresa estão sendo atualizadas pelos "multiplicadores" ? Aqueles que foram treinados, naquele workshop, depois daquele grande evento corporativo, onde a nova prioridade era o triple bottom line...lembram? Ou a empresa está vivendo uma eterna fase de lançamentos e novidades? Mais promessas não cumpridas?

Bom, não vou escrever nada sobre as promessas dos políticos, ok? Com eles a única promessa cumprida religiosamente é o aumento da carga tributária.

Então, voltando à marca, quem é o responsável para fazer cumprir a promessa inicial? No dia-a-dia, dentro dos escritórios, nas fábricas, as equipes nem percebem mas elas trabalham para fazer cumprir a promessa da empresa. Cumprir sua missão. Vivenciar os valores da marca. Por isso, se a promessa não acontece, de quem é a culpa? Do "chefe"? De algum departamento? Do estagiário, talvez? Porque o mais engraçado é a desculpa perfeita de muitos empregados ou funcionários públicos dizerem: "Isso é problema da companhia, não meu" ou "A empresa tem um telefone para reclamações"ou "Eu sou um empregado não mando nada".

Ora, bolas, quem faz a "companhia"? Quem é a "empresa"?
São as pessoas, não são? Somos nós mesmos, não? Afinal, nós mesmos não reclamamos quando estamos nas longas filas ou pendurados nos telefones esperando retorno sobre aquela reclamação, aquele assunto urgente e achamos que nossa longa espera é uma total falta de respeito? Ahn, que tal lembrar que ao invés de matrículas, números de cadastro, número do crachá, do CPF e do PIS existem...voilá...pessoas (como já escreveu Paulo Nassar no seu "Tudo é Comunicação")!

O engraçado (ou trágico) é que muita gente boa se protege atrás de uma entidade difusa, abstrata como a "empresa" para se desculpar e para nada resolver. Muita gente boa se protege atrás das falhas dos outros para livrar-se de qualquer responsabilidade. A tal empresa torna-se uma entidade que só existe numa esfera fora de nosso alcance...que fica muito distante. Quando na verdade, qualquer coisa que afete a organização diz respeito a todos.

Uma pedrinha dentro do sapato da gente , ao final do dia, acaba incomodando o corpo todo! Por isso, se a empresa tem algum problema, se ela não está cumprindo sua promessa, sua missão, sua razão de ser, então, somos nós mesmos os principais responsáveis na busca da solução. Chega de empurrar com a barriga! Promessas não cumpridas fazem mal para todo mundo.

Promessas não cumpridas acabam com vínculos, com relações. Promessas não cumpridas comprometem os sistemas vivos. Nossa sobrevivência está atrelada ao cumprimento de promessas. Como a eliminação da emissão dos gases do efeito estufa, por exemplo!

Nossas promessas são compromissos com o futuro. O futuro de todos nós. E não diga que você não está nem aí para este assunto!


Fonte: Por Luiz Antônio Gaulia, in www.aberje.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su...

Funcionários da Domino´s Pizza postam vídeo no You Tube e são processados

Dois funcionários irresponsáveis imaginam um vídeo “muito engraçado” usando alimentos e toda sorte de escatologia. O cenário é uma cozinha da pizzaria Domino´s. Pronto, está feito o vídeo que mais chamou a atenção da mídia americana na semana passada. Nele, os dois funcionários se divertem enquanto um espirra na comida, entre outras amostras de higiene pessoal. Tudo isso foi postado no you tube no que eles consideraram “uma grande brincadeira”. O vídeo em questão, agora removido do site, foi visto por mais de 930 mil pessoas em apenas dois dias. (o vídeo já foi removido, mas pode ser conferido em trechos nesta reportagem: http://www.youtube.com/watch?v=eYmFQjszaec ) Mas para os consumidores da rede, é uma grande(síssima) falta de respeito. Restou ao presidente a tarefa de “limpar” a bagunça (e a barra da empresa). Há poucos dias, Patrick Doyle, CEO nos EUA, veio a público e respondeu na mesma moeda. No vídeo de dois minutos no You Tube, Doyle ( http://www.youtube.com/watch?v=7l6AJ49xNS...

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De...