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Organizações devem seguir uma filosofia de gestão

Sempre que se fala sobre caminhos que podem nos levar a melhorias radicais na política, na economia, nos negócios, no social, na ecologia, é comum ouvirmos como contra-argumento uma frase feita: "isso é muito bonito... mas a realidade lá fora ...". Qual o sentido desse argumento? É que, se não entrarmos no jogo, não conseguiremos sobreviver no mundo selvagem dos espertos? Que todo mundo nessa realidade "lá fora" pratica uma forma não ética de fazer negócios e mesmo de governar? Acreditamos realmente nisso? Ou simplesmente a frase-chavão nos pega distraídos e nem sequer temos tempo de contra-argumentar? Seria também porque temos vergonha de defender uma posição mais utópica, por parecer algo inocente e distante da realidade que os que têm sucesso "no jogo lá fora" parecem dominar?

O que acontece quando decidimos ir fundo na questão e procuramos desvendar a realidade como ela é? Simplesmente constatamos que a realidade lá fora varia de A a Z. Em Z, estariam os empreendimentos do crime organizado. São do crime e assumem que são. Próximas de Z, encontramos as organizações que são do crime, mas não assumem. Vestem uma fachada de legalidade como estratégia. Outras não matam, mas corrompem e são corruptíveis. Outras, ainda, não corrompem, mas sonegam todos os impostos possíveis. Há ainda as que pagam os impostos corretamente, mas têm produtos que prejudicam a saúde das pessoas e do planeta. E assim por diante. Em cada ponto do alfabeto seria possível posicionar cada um desses tipos de "filosofia de gestão", de posicionamento ético.

No outro extremo da escala, em A, estão as organizações que fazem questão de ser absolutamente éticas em tudo. Estão voltadas para o bem comum e existem para servir à vida. Querem ser cada vez melhores, mas sempre dentro do espírito das leis. São como "os melhores atletas, que querem seus oponentes em sua melhor forma", como no poema taoísta. A "realidade lá fora" vai de A a Z. Sim, também com As que têm muito sucesso. E não são poucas. E por terem sucesso sustentável são até chamadas de organizações "feitas para durar". Usar frases feitas sobre a realidade "lá fora" é muito fácil. Difícil é assumir que fazemos parte dela e que ela reflete o conjunto da própria realidade dentro de cada um de nós. Mais difícil ainda é decidir em qual jogo queremos ter sucesso e evoluir.

No jogo em que todos quebram regras e pensam em derrubar os outros? (Aliás, onde estaria a graça em ganhar trapaceando?) Num jogo em que só há satisfação genuína quando a ética estiver presente até em seus aspectos mais sutis? Existiria ainda um outro jogo, maior, em que se busca o bem-estar de todos? Um jogo mais desafiador e complexo, porém mais leve, que pressupõe que estejamos sempre em nosso melhor estado, sejamos a melhor expressão de nós mesmos, conscientes de que constituímos um grande Todo? Estaria inerente a esse tipo de reflexão e posicionamento o significado mais genuíno de sucesso e valor de nossa competência estratégica?


Fonte: Por Oscar Motomura, in epocanegocios.globo.com

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