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“Alguém já está olhando para o seu negócio e pensando em como torná-lo gratuito"

O mais recente álbum do Prince foi encartado como brinde em uma edição de domingo do jornal britânico The Mail. O cantor lotaria todos os seus shows realizados em Londres pouco tempo depois, quando o público pagariam até 600 libras por um ingresso. Na Coréia do Sul, a maioria dos jogos de video-games são baixados sem custos pela internet. A receita vem de fãs, que gastam milhares de dólares para ter acesso a fases exclusivas e comprar roupas e armas especiais para seus personagens. A companhia aérea Ryanair cobra baratíssimo por passagens. Se você quiser despachar bagagens, é preciso pagar uma taxa extra. Caso jogue em seu cassino a bordo, pode viajar até de graça. Estes são alguns exemplos de como o termo grátis deixou de ser apenas uma estampa para propagandas e entrou de vez para o modelo de negócios de algumas das empresas e indústrias mais bem sucedidas da atualidade. E basta meia hora de conversa com o americano Chris Anderson para que ele cite muitos outros. Imerso em uma pesquisa para seu novo livro, “Free” (grátis em inglês), o editor-chefe da revista Wired e autor do best-seller “A Cauda Longa” é o principal evangelizador de uma transformação inédita da economia mundial. “Neste momento, alguém já está olhando para o seu negócio e pensando em como torná-lo gratuito”, disse ele em uma palestra para executivos realizada na tarde de hoje em São Páulo no Fórum Mundial de Marketing e Vendas. “Grátis será o único preço viável”.

O início desta transformação se deu com a chegada da nova internet, a web 2.0. Até pouco tempo, o único meio de dar acesso a estes produtos era físico - caminhões, espaço nas plateleiras das lojas -, escasso e caro. Portanto, estas mercadorias tinham de ser muito bem sucedidas. A banda larga, um avanço da tecnologia de transmissão de dados pela rede, fez com que o meio digital se tranformasse em um canal de distribuição de produtos com custos muito baixos. Isso acontece com a música, por exemplo, onde fazer cópia de uma faixa e enviá-la para o consumidor envolve só alguns cliques. Lojas onlines, por sua vez, se encarregaram de catalogar e dar visibilidade por meio de recomendações dos próprios usuários a uma imensidão de produtos que antes não tinham espaço nos canais de venda tradicionais por serem pouco populares. Mas juntos eles vendem mais que hits e blockbusters. É o fenômeno da Cauda Longa, explicado por Anderson em seu primeiro livro.

Isso levou a uma oferta inédita e muitas vezes gratuita. Quando foi a última vez que você pagou para ter acesso a um conteúdo na internet? Digg, YouTube, Google, Yahoo, contas de email com espaços ilimitados. A rede já é profundamente marcada pela cultura da gratuidade para o consumidor final. A saída para as empresas é buscar a propaganda para pagar seus custos. E essa nova lógica fez com que o mercado online explodisse. “Se a internet fosse um país, seria a quarta economia do mundo”, diz Anderson.

Além do digital
Mas, desde 2006, quando o americano publicou seu achados, ele notou como isso foi além do mundo digital. Novas tecnologias usadas por grandes redes de lojas permitem prever melhor estoques e criar uma disponibilidade de produtos de acordo com a demanda dos consumidores. Isso acabou por criar mais espaço nas próprias plateleiras do mundo real. A cerveja RedBridge é um caso clássico. Feita sem glúten, a bebida não teria espaço nas lojas até pouco tempo, pois os consumidores alérgicos ao ingrediente são minoria. “Nos tornamos mais exigentes, queremos produtos individualizados”, diz Anderson. “O mercado de massa está morto”. A RedBridge é hoje apenas mais uma de quase uma centena de tipos de cervejas fabricadas pela Anheuser-Busch. Nos últimos dez anos, o portfólio da empresa quadruplicou.

As implicações desta mudança cultural e de mercado são imensas. “Num mercado competitivo, os preços caem para o custo marginal de produção, o que no meio digital é zero”, afirma Anderson. “E a economia mundial é cada vez mais digital”. Em sua pesquisa, ele já identificou alguns novos modelos de negócios que se adaptam a esta realidade. O primeiro seria o que ele chama de “freemium”, ou seja, dar gratuitamente 99% do que se faz e cobrar pelo 1% restante e usar a propaganda como receita adicional. É o que acontece com serviços online, como contas de e-mail e compartilhamento de fotos. Não se paga nada para usar a versão básica, mas uma taxa é cobrada para ter acesso a outras funções mais sofisticadas. “Quem pagar, o fará sem arrependimentos e será o cliente mais fiel possível”, diz Anderson.

Troca por mão de obra
Há ainda o que ele chama de “troca por mão de obra”. Há nos Estados Unidos um serviço de informações pelo telefone, o 411, que custa US$ 2 por minuto. O Google já oferece o GOOG-411, inteiramente gratuito. “Em troca, você ajuda eles a melhorarem o seu sistema de reconhecimento de voz”, diz Anderson. E, por fim, há a “economia do brinde”, em que as pessoas contribuem sem cobrar nada. Alguém pensou na Wikipédia? “Como estes serviços são úteis para muitas pessoas, conquistam audiência e uma boa reputação, que podem ser convertidas em dinheiro por meio de anúncios”, afirma o americano.

Anderson pretende concluir seu novo livro até o início do próximo ano. Por sua versão em papel será cobrado um preço como nos livros comuns. Mas a versão digital poderá ser baixada de graça, diante do custo zero de sua reprodução e transmissão. Enquanto o livro não vem, uma capa recente da revista Wired dá pistas de o que está por vir. É um físico tranformado em jornalista, que por sua vez se tornou uma das figuras mais influentes desta nova era digital. Mas com a reputação alcançada como editor-chefe de uma das revistas mais antenadas da atualidade e com base nas pesquisas que conduz sobre os rumos da nova economia, desde já decreta: “A próxima geração espera que o que esteja online seja grátis. E eles esperam que tudo esteja online”.


Fonte: Por Rafael Barifouse - Blog Tecneira, in www.tecneira.com.br

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