Alguns episódios recentes servem para refletir sobre o funcionamento do mundo nos dias de hoje. Vamos lá:
O ápice do recente escândalo político dos chamados cartões corporativos se deu por obra e graça de uma mensagem eletrônica enviada por destacado assessor do Palácio presidencial a um funcionário lotado num gabinete da oposição. Foi possível rastrear cada passo na mensagem, até chegar a seu autor, criando uma crise política de enorme desgaste para o governo.
No caso do assassinato da menina Isabella Nardoni, crime que paralisou o país recentemente, foi graças ao GPS instalado pela seguradora no carro tipicamente de classe média dos suspeitos que a polícia conseguiu definir a hora exata em que eles chegaram ao lugar do crime. Inúmeras evidências contra os acusados foram captadas por câmeras de vídeo e com o que há de mais moderno em termos de tecnologia.
Na França, um cidadão abordou o presidente Nicolas Sarkozy com palavras duras e ouviu uma resposta presidencial ofensiva. A cena, que estava sendo captada por um celular ali ao lado, foi postada no You Tube e se tornou mundialmente conhecida, algo que definitivamente não estava nos planos de um político tão proeminente.
Outro escândalo de ramificações digitais: o craque Ronaldo Nazário se viu envolvido numa polêmica com travestis – travestis da era digital, diga-se. Tanto que um deles imediatamente sacou seu celular, filmou o craque e espalhou a imagem na web. É só clicar "Ronaldo" por aí que o bafafá aparece.
O ex-prefeito de Nova York havia construído uma imagem de defensor implacável da moralidade. Essa imagem começou a ruir com a combinação de grampos telefônicos dele para prostitutas e registros de cartão de crédito, onde aparecia pagamentos dele para sua acompanhante predileta.
No mais recente escândalo nascido na esteira de investigações da Polícia Federal, um arsenal de gravações, filmagens e mensagens de computador deu combustível para as chamas da "Operação Santa Teresa", que se concentrou nas atividades de um grupo que atuava em torno do BNDES.
Todos os meses, aqui, insisto em destacar os novos perigos que existem em nosso modo de viver digital. Não somos mais Homo sapiens. Somos Homo bytens. Vivemos num ecossistema digital que acabou de surgir, com a revolução tecnológica.
Não se trata de algo teórico ou subjetivo, como mostram esses casos recentes. Cada vez mais, a sobrevivência de imagens e reputações estará atrelada à compreensão dos novos riscos inerentes a esse mundo que estreou há pouco.
Nova tecnologia não é uma nova teoria. É uma nova prática. É preciso pensar diferente, sim. Mas sobretudo é preciso agir diferente. Simplesmente porque certas transgressões que antes poderiam passar despercebidas hoje podem ser captadas e difundias em tempo real, levando imagens ao colapso fulminante.
Lá atrás, nossos ancestrais só sobreviveram porque conseguiram se adaptar aos perigos da floresta. Pois agora estamos vivendo numa nova floresta, a digital. A modernidade que importa é a mesma dos primatas: a de dentro e não a que está a nosso redor. É a modernidade de entender a floresta e perceber os predadores. E mudar, para sobreviver.
Fonte: Por Mário Rosa, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9
O ápice do recente escândalo político dos chamados cartões corporativos se deu por obra e graça de uma mensagem eletrônica enviada por destacado assessor do Palácio presidencial a um funcionário lotado num gabinete da oposição. Foi possível rastrear cada passo na mensagem, até chegar a seu autor, criando uma crise política de enorme desgaste para o governo.
No caso do assassinato da menina Isabella Nardoni, crime que paralisou o país recentemente, foi graças ao GPS instalado pela seguradora no carro tipicamente de classe média dos suspeitos que a polícia conseguiu definir a hora exata em que eles chegaram ao lugar do crime. Inúmeras evidências contra os acusados foram captadas por câmeras de vídeo e com o que há de mais moderno em termos de tecnologia.
Na França, um cidadão abordou o presidente Nicolas Sarkozy com palavras duras e ouviu uma resposta presidencial ofensiva. A cena, que estava sendo captada por um celular ali ao lado, foi postada no You Tube e se tornou mundialmente conhecida, algo que definitivamente não estava nos planos de um político tão proeminente.
Outro escândalo de ramificações digitais: o craque Ronaldo Nazário se viu envolvido numa polêmica com travestis – travestis da era digital, diga-se. Tanto que um deles imediatamente sacou seu celular, filmou o craque e espalhou a imagem na web. É só clicar "Ronaldo" por aí que o bafafá aparece.
O ex-prefeito de Nova York havia construído uma imagem de defensor implacável da moralidade. Essa imagem começou a ruir com a combinação de grampos telefônicos dele para prostitutas e registros de cartão de crédito, onde aparecia pagamentos dele para sua acompanhante predileta.
No mais recente escândalo nascido na esteira de investigações da Polícia Federal, um arsenal de gravações, filmagens e mensagens de computador deu combustível para as chamas da "Operação Santa Teresa", que se concentrou nas atividades de um grupo que atuava em torno do BNDES.
Todos os meses, aqui, insisto em destacar os novos perigos que existem em nosso modo de viver digital. Não somos mais Homo sapiens. Somos Homo bytens. Vivemos num ecossistema digital que acabou de surgir, com a revolução tecnológica.
Não se trata de algo teórico ou subjetivo, como mostram esses casos recentes. Cada vez mais, a sobrevivência de imagens e reputações estará atrelada à compreensão dos novos riscos inerentes a esse mundo que estreou há pouco.
Nova tecnologia não é uma nova teoria. É uma nova prática. É preciso pensar diferente, sim. Mas sobretudo é preciso agir diferente. Simplesmente porque certas transgressões que antes poderiam passar despercebidas hoje podem ser captadas e difundias em tempo real, levando imagens ao colapso fulminante.
Lá atrás, nossos ancestrais só sobreviveram porque conseguiram se adaptar aos perigos da floresta. Pois agora estamos vivendo numa nova floresta, a digital. A modernidade que importa é a mesma dos primatas: a de dentro e não a que está a nosso redor. É a modernidade de entender a floresta e perceber os predadores. E mudar, para sobreviver.
Fonte: Por Mário Rosa, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9
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