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Sucessão presidencial, por Max Gehringer

Há algumas diferenças elementares entre o cargo de presidente da República e o de CEO de uma empresa. A primeira é a periodicidade. Enquanto na política as datas são estabelecidas por lei, nas empresas elas são indeterminadas. Pode ser na próxima década ou pode ser amanhã cedo. A segunda é o cumprimento das metas. Uma vez eleito, o governante poderá "esquecer" algumas das promessas de campanha. O CEO tem plena consciência de que os objetivos de curtíssimo prazo determinarão seu futuro. A terceira é a estabilidade. Depois de empossado, o governante público poderá ver seu índice de popularidade desabar, mas nem assim perderá o cargo. Qualquer CEO adoraria poder gozar desse conforto. E a quarta diferença é aquela que um CEO raramente considera como prioridade imediata - a própria sucessão. Mesmo que demonstre a pretensão de ficar na função até o dia do Juízo Final, não pode ignorar que esse desejo não será inteiramente compartilhado pelos colaboradores mais próximos.

O CEO é como aquele parente que estica uma visita além da conta. Lá pelas tantas, quando ele finalmente diz que está na hora de ir embora, a família até o recrimina pela pressa ("Ainda é cedo..."), mas alguém já corre para abrir a porta. Sempre há candidatos permanentes à posição do CEO. São os diretores. Teoricamente, todos pertencem à mesma instituição, o PEU, Partido da Empresa Unida. Na prática, cada um é seu próprio partido. Alguns sabem que suas chances de chegar a CEO são mínimas, mas também sabem que terão razoável influência na indicação do felizardo. É o caso dos diretores de RH, que raramente chegam a número 1, mas cujo peso político não pode ser ignorado pelos pretendentes.

Durante minha carreira, eu identifiquei três tipos de CEO. O primeiro é o precavido. Ele contrata diretores com o nível mínimo de pré-requisitos exigidos para o cargo. Estando quase no limite de sua competência, eles contentam-se com a manutenção de suas poltronas, e o CEO sente-se protegido. O segundo tipo é o camicase, que se cerca de diretores com extrema ambição e grande potencial para se tornarem CEO em curto prazo. Como, obviamente, só um deles poderá chegar ao topo da escada, o CEO transforma-se em bombeiro, e passa o tempo administrando conflitos entre seus subordinados. O terceiro tipo é o previdente. Ele tem plena consciência de que seu cargo terá uma vida útil mais curta do que ele gostaria. E equilibra seu staff direto, com dois potenciais sucessores em médio prazo, e mais dois ou três que ficarão contentes em executar bem suas tarefas e permanecer à sombra da disputa sucessória.

No mais das vezes, o CEO precavido acaba sendo substituído por não gerar os números esperados, e o CEO camicase é derrubado por um de seus subordinados. Já o CEO previdente dificilmente passa por dissabores. Entre outras coisas, porque ele é o tipo de CEO mais amado pelos headhunters. Aquele que se preocupa com sua sucessão, enquanto consegue o máximo de resultados com um mínimo de conflitos.


Fonte: Por Max Gehringer, in epocanegocios.globo.com

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