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A sustentabilidade fica junto com as emoções no lado direito do cerébro

Não basta que as empresas adotem individualmente práticas socioambientalmente responsáveis. A mudança que o planeta reclama de modelos de produção e consumo virá a partir da construção de um novo mercado e uma nova economia, regidos por uma ética que não pode mais se suportar na idéia do lucro a qualquer custo, mas sim na do desenvolvimento sustentável.

Esta foi a provocação que permeou os três dias da Conferência Internacional Empresas e Responsabilidade Social, realizada na semana passada, em São Paulo. No evento que comemorou seus 10 anos, o Instituto Ethos reuniu alguns dos mais importantes pensadores mundiais do tema, com o propósito de buscar respostas para a pergunta que não quis calar nas plenárias e painéis: "É possível criar um mercado sustentável?" Os otimistas, obviamente, representaram a grande maioria. De tudo o que se viu e ouviu, foi possível chegar a cinco conclusões.
Vamos a elas:

O poder está com as pessoas
Empresas, governos e mercados não são instituições inumanas. O que lhes confere humanidade, para o bem e para o mal, são as pessoas que nelas habitam ou para as quais servem. E a elas, nos seus diferentes papéis, cabe exercer o poder de mudar a favor da sustentabilidade, erigindo uma nova ética, individual e coletiva, que o filósofo Mario Sérgio Cortella chamou de "compromisso de não apequenar a vida."

"Se tivemos a capacidade de interconectar os mercados, também podemos estabelecer regras que os tornem menos destrutivos", desafiou. Segundo ele, isso é possível e urgente. Mas não ocorrerá com a adoção de uma pequena ética (etiqueta) nem com a de uma ética superficial (cosmética), mas por meio da ascensão de uma crença de que, com nossos atos como consumidores, eleitores, profissionais e investidores, induziremos as empresas a abandonarem práticas insustentáveis e os governos a regularem os mercados em nome de um bem maior que é " a vida fértil, cuidada e protegida".

A mudança do mercado pede uma lógica de mercado
Os mercados são definidos, a rigor, por vendedores e compradores. Nesse jogo, desde que o mundo é mundo, quem compra tem poder. E o poder de escolher não comprar será cada vez mais um instrumento útil e cidadão, se utilizado com base em uma consciência mais sustentável.

Consumidores que preferem produtos de empresas éticas, companhias que abrem mão de fornecedores socialmente irresponsáveis, bancos que financiam atividades ambientalmente equilibradas e investidores que aplicam recursos em corporações menos emissoras de carbono farão tanto pela mudança no modo de gerir negócios quantos regulações inteligentes, leis indutoras e fiscalizações severas. "Investidores com visão de longo prazo serão fundamentais para um mundo sustentável", afirmou Georg Krell, diretor executivo do Pacto Global das Nações Unidas.

Governos também mudam mercados
Ray Anderson, presidente da Interface Flor, e um dos mais importantes lideres em sustentabilidade dos EUA, acha que os governos são protagonistas da mudança sustentável. A lógica é a mesma dos mercados: com o poder de comprar e financiar, eles podem retirar subsídios de atividades que não prestam ( energias sujas, por exemplo) e criar uma estrutura para financiar as que promovem o bem-estar de pessoas e do Planeta (agricultura sustentável, por exemplo)

A título de provocação saudável, Laura Valente, diretora regional do Iclei (Governos Locais pela Sustentabilidade) levantou uma lebre que não passou despercebida: "Imagine se, em vez de só olhar custo, os governos, que são compradores importantes, implantassem o critério da análise de ciclo de vida dos produtos". É preciso abrir picadas no mato denso. Abertas, o mercado vai atrás.

A mudança pede o lado direito do cérebro
De acordo com Anderson, pensando só com o lado esquerdo do cérebro, o da lógica cartesiana, o capitalismo convencional está por esgotar os recursos naturais do planeta. É urgente uma substituição de modelos mentais. Ao ser mais acionado, o lado direito do cérebro, onde moram as emoções, a intuição e a criatividade, ajudará na tarefa de harmonizar a tecnosfera com a biosfera. Se as regras são ruins, abaixo as regras.Que venham regras melhores. E só se muda com fé, coragem, ousadia e bons exemplos. Um exemplo para lado esquerdo nenhum do cérebro botar defeito: já há inúmeros casos que mostram o quanto se pode obter de lucro, sólido e consistente, com operações que respeitam o meio ambiente e as pessoas. A Interface é um deles. Até Wall Street, sempre cética, está se repensando.

A mudança é feminina
A mudança é verde. Mas é, sobretudo, feminina, até porque pertencem á essência do feminino os atos de cuidar, proteger, gerar e alimentar a vida. Não por caso, predomina na mulher o uso do lado direito do cérebro. Não por acaso, elas eram, na platéia da Conferência Ethos, não apenas a maioria mas as mais otimistas em relação ás respostas para a pergunta central do encontro.


Fonte: Por Ricardo Voltolini, in www.ideiasocioambiental.com.br

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