Pular para o conteúdo principal

A evolução de um conceito

Achei que este seria um bom momento para desfazer algumas confusões no terreno da gestão de marcas. E, ao mesmo tempo, demonstrar a enorme evolução que a idéia sofreu, particularmente nestes últimos 15 anos.

De um assunto que era tratado com atenção e seriedade apenas por algumas empresas multinacionais, principalmente na área de produtos de consumo, os conceitos que envolvem gestão de marcas se disseminaram, se popularizaram e se banalizaram também. Até remédios genéricos fazem questão de dizer que têm marca!

Ao mesmo tempo, a importância da gestão de marcas escapou do domínio exclusivo do departamento de marketing e invadiu os segmentos corporativos, o departamento financeiro e um conjunto de fornecedores da empresa. Pensar na administração da marca passou a ser uma preocupação tão abrangente quanto pensar em cultura organizacional e compromissos sociais. Além de ser uma das cláusulas mais importantes no job description dos CEO´s, administração da marca diz respeito a quase todos os funcionários nas empresas, atualmente. Tantos os executivos de esfera estratégica quanto os funcionários que operam no plano tático e operacional.

Dizer que não está preocupado com a marca da empresa ou de seus produtos virou pecado! O crachá dos empregados ficou mais importante e pesa mais no peito. Fornecedores de serviços de marketing (agências de propaganda; escritórios de design, relações públicas, promoções...) declaram seu compromisso sagrado com o fortalecimento da marca de seu cliente. Empresas de pesquisa incluiram estudos de marca na primeira página de seus portfólios. Profissionais de área corporativa justificam sua existência pela gestão institucional da marca e dizem que são apaixonados por ela desde criança. Executivos de marketing declaram seu amor incondicional à marca, como sua suprema ferramenta de negócios. E, pouco a pouco, chegaram os executivos de finanças. Afinal, se os ativos intangíveis, entre os quais as marcas, representam cada vez mais no valor de mercado das empresas...

Todos querem tirar uma casquinha, todos se sentem obrigados a fazer uma reverência, um salamaleque, todos dizem que é impossível passar por cima da marca. Todos perceberam que a paridade técnica entre produtos e serviços deslocou o eixo da concorrência no mercado: de uma disputa de produtos para uma competição entre marcas.

Será que é tudo um exagero? Ou é mais uma modinha que logo passa? Ou pior, mais um jeito de ganhar dinheiro, aproveitando apenas a marola?

Tenho certeza do contrário, gestão de marcas é um capítulo incorporado definitivamente ao moderno receituário de administração. Um dos cursos criados recentemente, por uma das mais conceituadas escolas de negócios do mundo, a Kellog de Chicago, é sobre branding. Ou seja, não estamos no fim, nem no princípio do fim, isto é apenas o fim do começo!

O que estamos vivendo agora é o fruto da evolução gradual de um conceito que eu procuro ilustrar no gráfico. Ele foi inspirado num paper da Lisa Wood na Management Decision.

1. Identidade da Marca: este foi o primeiro estágio de consciência sobre o assunto. É nele que surgiram as preocupações, hoje comuns para todos nós, sobre personalidade e imagem da marca. Aliás, o mercado brasileiro dispõe de ferramentas muito sofisticadas e poderosas para mapear Identidade e alimentar o seu desenvolvimento e monitoramento. Basta usar!

2. Força da Marca: chegamos à década de 90. Foi quando se difundiram as preocupações com medidas de envolvimento da marca com seus clientes e prospects. Gerenciar lealdade, acompanhar padrões de satisfação são apenas um reflexo da preocupação com a força da marca. A consciência de que marcas fortes têm maior propensão para impulsionar market share, estender negócios novos e gerar mais lucratividade tomou conta do mercado. Mais que isso, consolidou-se a certeza de que força da marca e bom humor dos acionistas são a mesma coisa.

3. Valor da Marca: os financeiros e o principal executivo da empresa perceberam que isto era muito importante para ficar exclusivamente no habitat de marketing. Identidade sólida gera marcas fortes. Marcas fortes geram substanciais fluxos de caixa futuros. Pronto: os financeiros sabem como ninguém estimar o valor de um ativo, baseados na capitalização de lucros futuros desse ativo. Foi também na década de 90 que se multiplicaram os cálculos do valor econômico das marcas. Os financeiros ainda não se sentem donos deste território porque sabem que não foram eles que construiram o valor econômico das marcas. Foi o trabalho consistente da administração de marketing, seu exército de fornecedores de comunicação e agências de propaganda em particular.

Hoje, convivemos com as três fases deste processo, simultaneamente. Há trabalho e desafio para todos. E mais: não há territórios privativos. Todos estão comprometidos com um pouco de tudo. Numa era em que os muros caíram dentro das organizações e há uma bem vinda “promiscuidade” entre os departamentos, a gestão da marca unifica propósitos e integra pessoas.


Fonte: Por Jaime Troiano, in www.troiano.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Funcionários da Domino´s Pizza postam vídeo no You Tube e são processados

Dois funcionários irresponsáveis imaginam um vídeo “muito engraçado” usando alimentos e toda sorte de escatologia. O cenário é uma cozinha da pizzaria Domino´s. Pronto, está feito o vídeo que mais chamou a atenção da mídia americana na semana passada. Nele, os dois funcionários se divertem enquanto um espirra na comida, entre outras amostras de higiene pessoal. Tudo isso foi postado no you tube no que eles consideraram “uma grande brincadeira”. O vídeo em questão, agora removido do site, foi visto por mais de 930 mil pessoas em apenas dois dias. (o vídeo já foi removido, mas pode ser conferido em trechos nesta reportagem: http://www.youtube.com/watch?v=eYmFQjszaec ) Mas para os consumidores da rede, é uma grande(síssima) falta de respeito. Restou ao presidente a tarefa de “limpar” a bagunça (e a barra da empresa). Há poucos dias, Patrick Doyle, CEO nos EUA, veio a público e respondeu na mesma moeda. No vídeo de dois minutos no You Tube, Doyle ( http://www.youtube.com/watch?v=7l6AJ49xNS