Pular para o conteúdo principal

Líder hábil encarna imagem da empresa

Numa época em que a publicidade pega bem pouco, os líderes mais eficientes são aparentemente os que "incorporam" a própria empresa e que encarnam a imagem da companhia, principalmente quando se trata de transmitir valores e emoções. Andrés Pérez, especialista em marca pessoal e fundador da Marcapersonal.es, cita os exemplos exageradamente midiáticos de Donald Trump ou Richard Branson. Pérez lembra que a liderança se baseia em alguém com objetivos claros, que precisa ter bem definidos os objetivos do seu pessoal. "Branson sabe o que quer, o que as pessoas querem, e o comunica perfeitamente".

O especialista faz referência à relevância (sua utilidade), à confiança (é preciso perguntar-se se uma pessoa muito visível é confiável ) e à notoriedade. "Se alguém não é relevante e é visível, a notoriedade não serve para nada. Amancio Ortega e Emilio Botín são relevantes e confiáveis. Não precisam ser notórios".

O professor do Iese Santiago Alvarez de Mon diz entender a síndrome e a politização da empresa somente quando ela responde a uma estratégia de marketing. O especialista conclui que "a presença pública tem a ver com critérios seletivos".

Um dos exemplos mais relevantes de desinteresse pela notoriedade é o de Amancio Ortega, fundador da Inditex, de quem existem poucas fotos oficiais e que não concede entrevistas. Em uma ocasião na qual sua companhia perdeu mais de 19% de seu valor na bolsa, e os investidores internacionais levantaram algumas dúvidas sobre a fórmula mágica de Ortega. Mas foi José María Castellano, vice-presidente e principal executivo da Inditex, que apareceu em público, enquanto alguns analistas se surpreendiam com a frieza do dono da companhia diante de um problema de tal magnitude. Mas Ortega tampouco esteve presente, de forma pública, no dia em que a Inditex entrou na bolsa. Contam que seus executivos falavam com ele por telefone para comentar todos os detalhes de uma jornada triunfal para a sua companhia.

"Os CEOs são o rosto público de sua organização e, em épocas de turbulência, espera-se que sejam visíveis e sinceros a respeito de qualquer problema que possa surgir", destaca Miguel López-Quesada, diretor geral de comunicação corporativa e relações institucionais da ZED. "Além das comunicações abertas do CEO, as companhias podem começar a restabelecer o nome da empresa comunicando as iniciativas implementadas para resolver o problema, tornando a prevenção da crise uma prioridade e estabelecendo padrões claros de responsabilidade".

Segundo um estudo da empresa de consultoria global de comunicações e relações públicas Weber Schandwick e do instituto de pesquisa KRC, 59% dos executivos de alto escalão das empresas afirmam que as desculpas dos CEOs são menos eficientes do que outras estratégias para reparar a reputação de uma companhia depois de uma crise. Participaram do estudo 950 executivos de 11 países da América do Norte, da região da Ásia-Pacífico e da Europa.

"Hoje, as desculpas dos CEOs são insuficientes e são praticamente exigidas pela sociedade quando uma empresa é acusada de imperícia", afirma Leslie Gaines-Ross, especialista em reputação de CEOs da Weber Shandwick e diretora do estudo. "Assumir a responsabilidade em uma crise apresentando explicações é importante, mas espera-se muito mais dos CEOs em situações deste tipo, como por exemplo, informar imediatamente e de forma regular o que a companhia está fazendo para solucionar o problema".

Marcel Planellas, professor e secretário-geral da Esade, lembra de outros casos de discrição quase absoluta, como a do ex-CEO do Bankinter, Juan Arena, que jamais deixou que o fotografassem e jamais apareceu na mídia, com exceção das assembléias de acionistas, nas quais só deixava entrar os redatores. "O importante é o banco, e não eu", parecia ser seu lema. Isto gerou muito sentido de grupo, espírito de corpo e uma estratégia de diferenciação. Em seus anos de sucesso no Bankinter, Arena queria demonstrar que se pode gerir uma companhia permanecendo na sombra, sem necessidade de ser o rosto visível da empresa.

Notável é também o exemplo de Isaac Andic, fundador da Mango, com seu irmão Nahman, em meados dos anos 70, quando ambos começaram a transportar produtos têxteis da Ásia para pô-los à venda nas lojas de Barcelona. Andic também não concedia entrevistas e não participava de atos públicos. Sua imagem não aparecia na internet. Mas ultimamente, com algumas aparições, ele começou a dar um rosto à Mango.

Miguel López-Quesada refere-se às situações nas quais existe uma transferência de personalidades entre marcas e pessoas. "Em casos como o de Jack Welch, CEO da General Electric, sua sucessão afetava a companhia porque havia um grau muito elevado de personalização". Emilio Botín, do Banco Santander, e Rafael del Pino, da Ferrovial, transmitem sua personalidade e sua cultura às organizações.

Para López-Quesada, a decisão de ser um executivo na mídia pode decorrer de uma visão patrimonialista - "a empresa sou eu" - ou também do modelo "a empresa é meu trampolim", protagonizado pelos executivos que utilizam a plataforma da mídia para pôr-se no radar dos caçadores de talentos.

O especialista assinala que a crescente cobertura da figura dos executivos gera uma demanda de personagens e oferece uma oportunidade para o profissional posicionar-se. "Leva de seis e 12 meses conseguir que um diretor desconhecido alcance níveis de notoriedade de um empresário que opera há anos".

Finalmente, pode-se destacar os que colocam sua imagem pública ao serviço da empresa. "É o exemplo de Manuel Pizarro durante a OPA da Gas Natural pela Endesa". Em defesa de sua companhia, o então diretor e hoje candidato demonstrou ser um líder midiático, com dialética e capacidade para convencer.


Fonte: Por Tino Expansión, Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Funcionários da Domino´s Pizza postam vídeo no You Tube e são processados

Dois funcionários irresponsáveis imaginam um vídeo “muito engraçado” usando alimentos e toda sorte de escatologia. O cenário é uma cozinha da pizzaria Domino´s. Pronto, está feito o vídeo que mais chamou a atenção da mídia americana na semana passada. Nele, os dois funcionários se divertem enquanto um espirra na comida, entre outras amostras de higiene pessoal. Tudo isso foi postado no you tube no que eles consideraram “uma grande brincadeira”. O vídeo em questão, agora removido do site, foi visto por mais de 930 mil pessoas em apenas dois dias. (o vídeo já foi removido, mas pode ser conferido em trechos nesta reportagem: http://www.youtube.com/watch?v=eYmFQjszaec ) Mas para os consumidores da rede, é uma grande(síssima) falta de respeito. Restou ao presidente a tarefa de “limpar” a bagunça (e a barra da empresa). Há poucos dias, Patrick Doyle, CEO nos EUA, veio a público e respondeu na mesma moeda. No vídeo de dois minutos no You Tube, Doyle ( http://www.youtube.com/watch?v=7l6AJ49xNS