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“Sem estratégia, as empresas vão ficar fora do jogo”

Fundada em 1989, a Symnetics oferta serviços para o desenvolvimento e aplicação de metodologias e ferramentas para a análise e otimização de processos empresariais de diversos setores. Para identificar e trocar experiências sobre o que há de mais novo, eficaz e comprovado no mercado mundial, a Symnetics buscou diversas alianças internacionais – este posicionamento foi consolidado em 2000, a partir da parceria com a Balanced Scorecard Collaborative (BSCol), organização que atua como centro de excelência em implementação de estratégias. Ao longo de mais de uma década, a empresa viveu forte expansão e conquistou mercados internacionais, como Argentina, México, Chile, Colômbia, Peru e Equador, onde mais de 100 profissionais especializados em gestão e execução da estratégia atuam junto a cerca de 200 clientes. Na entrevista a seguir, André Coutinho, diretor da Symnetics fala sobre a gestão no Brasil e quais os desafios que ainda precisam ser superados para aumentar a competitividade das empresas.


Como a Symnetics avalia o desempenho da administração das empresas brasileira em 2007?
André Coutinho: As empresas brasileiras estão mais maduras na sua relação com o governo. Estão assumindo posição de protagonistas, ao invés de somente cobrar dos governos, ao propor soluções concretas para temas como energia, infra-estrutura e reforma tributária. Elas estão mais conscientes do seu papel na sociedade e intensificando ações de responsabilidade social e ambiental, além de estarem mais orientadas para fora do país com o crescimento da exportação e importação de produtos e, sobretudo, pelo interesse de executivos brasileiros no que acontece lá fora. Por outro lado, somos deficientes em aspectos considerados estratégicos para os negócios. No marketing, somos tímidos e pouco se conhece dos produtos e da marca Brasil no exterior. Ainda somos conservadores - uma pesquisa de 2007 da Symnetics com a H2R revelou que apenas um terço das empresas brasileiras podem ser consideradas realmente inovadoras. Precisamos de mais empreendedorismo no país e, é claro, que se criem as condições pelo governo para que os negócios se desenvolvam. Temos também um grande desafio que é o de aperfeiçoar a governança das empresas – arrisco afirmar que muitos dos negócios no Brasil não vão para frente por sérias deficiências na relação dos acionistas com seus executivos e com o mercado.

O que se pode esperar para 2008? Quais são as tendências em gestão?
André Coutinho: As tendências são: colaboração - as empresas vão se aproximar ainda mais de seus clientes, fornecedores e parceiros em busca de soluções e negócios que sejam co-criados; inovação – as empresas estão buscando espaços de mercado ainda não ocupados (por exemplo, acessar a população de baixa renda), criando produtos, serviços, experiências e tecnologias novas para seus clientes, tudo isto para evitar a concorrência acirrada e a guerra de preços; sustentabilidade – deixa de ser um modismo e passa a ser de fato uma estratégia de negócios, com as empresas começando a ganhar dinheiro com isso (a exemplo do que vem fazendo o Banco ABN e a Natura); e busca por retornos acima da média ajustadas ao risco com intensificação do acesso ao mercado de capitais – vai crescer o interesse das empresas por alternativas de financiamento dos negócios não só via bolsa de valores (haja visto o grande movimento de IPOs em 2007), mas sobretudo via fundos de private equity que estão crescendo de forma exponencial no Brasil

Como está situado o Brasil em relação aos outros países quanto à gestão estratégica? O que está bom e o que deve mudar?
André Coutinho: Vamos dividir a resposta em gestão privada e gestão pública. Nos últimos 20 anos, a gestão privada brasileira (aqui falando de médias e grandes empresas) tem investido bastante em qualidade, tecnologia e excelência operacional e o resultado está aí nos jornais: o destaque de empresas brasileiras em setores como agribusiness, mineração, siderurgia, papel e celulose, aviação, calçados e financeiro. Investiu-se tanto em gestão pois foi preciso tornar as empresas brasileiras eficientes e competitivas para sobreviver, apesar de termos um país que ainda não reúne as condições ideais para que prosperem os negócios (infra-estrutura precária, carga tributária elevada, baixos níveis de educação e taxas de juros elevadas). Não somos um país empreendedor como é Coréia do Sul, Espanha, China ou Índia, mas temos algumas empresas que muito investiram em gestão, colheram e estão colhendo resultados com este investimento e o mais curioso: muitas vezes, aplicando modelos inovadores de gestão (por exemplo, Odebrecht, Promon, Gerdau, Semco, entre outras), Na gestão privada, como a iniciativa de investir em gestão partiu de apenas algumas empresas e empresários no país, precisamos de mais lideranças empreendedoras. Ao falar de gestão pública, temos uma grande lição de casa e arrisco dizer que estamos uns 15 anos atrasados. É preciso levar o sucesso da gestão privada para o setor público e, se isto for bem feito, vamos sentir a diferença neste país nos próximos 10 anos.

De que forma a gestão estratégica é fundamental para a competitividade das empresas?
André Coutinho: Estratégia nunca foi tão importante. É uma questão de sobrevivência e foco, pois não existe mais espaço nas empresas para desperdício de recursos humanos e financeiros. É preciso investir em estratégias inovadoras e realizar com êxito, disciplina e persistência - é isto que conhecemos como gestão da estratégia. Na década de 80, sem orçamento (até porque tínhamos inflação e instabilidade econômica), era impossível manter uma empresa funcionando; na década de 90, veio o movimento da qualidade e era preciso investir na excelência operacional, na qualidade dos produtos e serviços para competir nos mercados internacionais. Na atual década, com as mudanças aceleradas nos negócios e o dinamismo dos mercados, sem estratégia e gestão da estratégia, as empresas vão ficar fora do jogo. A estratégia é o cartão de visita, não só de empresas, mas também de municípios, estados e países no novo cenário competitivo internacional.

A Symnetics atua também no setor público. Qual a diferença da abordagem em relação ao trabalho desenvolvido no setor privado?
André Coutinho: Em primeiro lugar, é preciso compatibilizar técnica com política, o que significa dizer que a implantação de modelos de gestão pública deve levar em conta o contexto político e os distintos interesses das partes evolvidas. Neste sentido, em nossos projetos de consultorias do setor público, são aplicados métodos, a exemplo do método Shared Vision, para formular estratégias compartilhadas, ou do método AHP, para priorizar e hierarquizar uma carteira de projetos estratégicos levando em conta divergências políticas na escolha destes projetos. Outro aspecto fundamental é garantir a perenidade da estratégia e da gestão diante da descontinuidade dos gestores a cada (pelo menos) quatro anos. A rotatividade de lideranças na gestão pública pode levar, muitas vezes, ao abandono de objetivos, metas e projetos traçados pela administração anterior. Neste sentido, é necessário criar um plano consistente de transição para aumentar a probabilidade de que planos originalmente formulados para estados e municípios ou para a saúde, educação e indústria sejam realmente executados. Como exemplos recentes de atuação da Symnetics, temos o Ministério da Agricultura, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul e a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo.

A Symnetics atua em diversos países. Como a empresa administra e aplica ferramentas e metodologias nas mais diversas culturas?
André Coutinho: A Symnetics tem atualmente escritórios em Buenos Aires (Argentina), Santiago (Chile), Bogotá (Colômbia), cidade do México (México) e Luanda (Angola). O segredo da nossa internacionalização (65% do nosso faturamento vem do exterior) está na nossa habilidade de adaptar métodos, ferramentas e modelos de gestão consagrados no exterior à realidade e contexto das diversas culturas em países emergentes na América Latina e, mais recentemente, África. Isto exige das nossas equipes de consultores uma forte adaptação técnica e comportamental à cultura organizacional, social e política local destes países.

Como é esse novo trabalho de “co-criação de experiências”, desenvolvido pela Symnetics?
André Coutinho: As empresas já não formulam estratégias nem implantam seus processos de negócio como antigamente. Inovação é a palavra de ordem. Em 2003, a Symnetics se aproximou dos consultores da Universidade INSEAD, na França, que estavam implantando a inovadora Estratégia do Oceano Azul. Desde então, trouxemos para o Brasil um método que tem levado de forma surpreendentemente as empresas ao Oceano Azul - a co-criação de experiências, desenvolvido pelo indiano Venkat Ramaswamy, professor da Michigan Business School, e pelo francês Francis Gouillart, um dos consultores de inovação mais conhecidos no exterior. Em grandes linhas, no aspecto co-criação, este método procura trabalhar a transparência, o diálogo, o acesso e o compartilhamento de riscos na interação entre as empresas e seus clientes, entre as equipes das empresas, na relação com os fornecedores e nos processos empresariais na busca por inovação. No aspecto experiência, significa que vamos muito além dos produtos e serviços, ou seja, trabalhamos a experiência significativa das relações entre pessoas. Desde 2005, já realizamos oito implantações de co-criação no Brasil e outras seis em países da América Latina.

Para 2008, quais são os planos da Symnetics no Brasil?
André Coutinho: Por um lado, vamos continuar dando suporte às empresas brasileiras de diversos setores na consolidação de seus modelos de gestão com foco na estratégia. Alguns de nossos clientes também devem investir numa parceria conosco em inovação e co-criação dos seus negócios. Na área pública, já temos previsto uma série de iniciativas de implantação do planejamento e gestão da estratégia em ministérios, governos estaduais e municipais. Cresce também o interesse de empresários e outras lideranças do país pela implantação das chamadas agendas estratégicas, a exemplo do que realizamos nos últimos anos com a indústria brasileira (Mapa da Indústria da Confederação Nacional da Indústria), a educação brasileira (Compromisso Todos pela Educação) e em alguns estados (Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Ceará). No campo da educação executiva, que já representa 25% de nossos negócios, a Symnetics deve lançar este ano programas inéditos no país (planejamento estratégico e inovação) e ampliar sua atuação nos programas de educação executiva personalizados in company.

O que levou a Symnetics tornar-se associada ao MBC?
André Coutinho: Desde a sua fundação, há 18 anos, a Symnetics está comprometida com a melhoria da competitividade das organizações brasileiras, procurando adaptar para o Brasil modelos de gestão de excelência adotados na Europa, Estados Unidos e Ásia. Nossa parceria com o MBC se consolidou através da disseminação que fazemos das práticas de planejamento e gestão da estratégia junto ao setor governamental (ministérios, governos e secretarias estaduais, prefeituras) sempre com o objetivo de aprimorar a gestão pública brasileira através de iniciativas de alto impacto junto a estas organizações. A Symnetics acredita que todo investimento que seja feito hoje no sentido de transformar a gestão pública brasileira irá, sem dúvida, beneficiar a médio e longo prazo toda a sociedade. Nos últimos, anos também temos apoiado o próprio MBC na gestão dos seus objetivos através de indicadores, metas e estruturação dos diversos projetos do Movimento.


Fonte: Entrevista realizada pela equipe editorial da Enfato Comunicação Empresarial para o site do MBC.

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