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Oferta da Microsoft para a compra do Yahoo! marca uma nova ofensiva contra o todo-poderoso Google

A Microsoft fez uma oferta de 44,6 bilhões de dólares pelo Yahoo! A resposta veio dias depois: o conselho de administração da empresa considerou o valor baixo e, numa aparente tática para tentar aumentar a avaliação, recusou a proposta. Isso foi o que ocorreu de concreto. Mas, desde o anúncio da intenção da Microsoft, uma torrente de especulações e cenários começou a ser desenhada. Para seguir independente, o Yahoo! poderia tentar fazer um acordo com o Google, com a News Corp., dona do MySpace, ou até mesmo com a moribunda AOL. Outra versão apontou para um resgate de fundos soberanos, e ainda outra dava conta de que a salvação viria dos sócios nas operações do Japão e da China. De sua parte, a Microsoft estaria pronta a aumentar o valor da proposta, ou então estaria tramando uma guerra dentro do conselho do Yahoo! Algumas suposições são mais plausíveis; outras, menos. Com tantos desfechos possíveis, o consenso é que o fim dessa novela não deve ser conhecido tão cedo. Mas uma coisa é certa: mesmo que o negócio não se concretize, a oferta da Microsoft é um evento histórico, símbolo de uma mudança profunda na indústria da tecnologia. O futuro pertence ao software e aos serviços entregues pela web. O Google é o modelo a ser estudado e destronado. Ao partir para cima do Yahoo!, a Microsoft reconheceu sua fragilidade no mundo online e deu início a um segundo round na batalha pela supremacia na internet.

Para muitos observadores, o movimento da Microsoft não surpreendeu pela escolha do alvo, mas sim pela demora. O Yahoo! estava contra a parede havia alguns anos, castigado por uma série de decisões estratégicas erradas e pressionado pelo Google, um competidor formidável, que mudou as regras do jogo na web e deixou todos os concorrentes comendo poeira. Enquanto o líder aperfeiçoava seu sistema de buscas e a entrega de publicidade atrelada às pesquisas dos internautas, o Yahoo! continuava a depender da publicidade gráfica, os tradicionais banners. O resultado disso foi um aumento fatal na distância tecnológica entre as duas empresas. Com uma busca mais eficiente e melhor taxa de retorno para seus anunciantes, o Google tornou-se um gigante capaz de faturar 16 bilhões de dólares em publicidade em 2007, enquanto o Yahoo! ficou com 6,1 bilhões. A tentativa de remodelar o sistema de links patrocinados da empresa sofreu atrasos de quase um ano e quando finalmente estreou, no ano passado, não entregou os resultados esperados. O Yahoo! também deixou passar oportunidades importantes. Tentou comprar o YouTube, mas quem acabou levando foi o Google. No ano passado, teria acertado a compra do site de relacionamentos Facebook por 1 bilhão de dólares, relata a revista Fortune. Mas, inexplicavelmente, depois os executivos decidiram reduzir o valor da oferta em 150 milhões de dólares -- argumento que permitiu ao Facebook voltar atrás no acordo e manter-se independente. Por tudo isso, poucos apostavam que o Yahoo! pudesse sobreviver sozinho.


Jogada decisiva
Com a tentativa de compra do Yahoo!, a Microsoft vai ganhar musculatura na competição com o Google:

Quem é quem (em bilhões de dólares):

Google
Faturamento total: 16,6
Faturamento publicidade: 16,4(99%)

Yahoo!
Faturmento total: 6,97
Faturamento publicidade: 6,09(87,3%)

Microsoft
Faturamento total: 51,12
Faturamento publicidade: 2,1(4,1%)

Audiência no mundo (usuários únicos em milhões):

Google: 587,8
Microsoft: 540,2
Yahoo!: 484,6

Audiência no Brasil (usuários únicos em milhões):
Google: 18,6
Microsoft: 18,5
Yahoo!: 9,96

Fontes: NetRatings, empresas, Comscore


Apesar da sucessão de tropeços, o Yahoo! é uma propriedade de altíssimo valor na internet. Fundado em 1994 por Jerry Yang e David Filo, dois ex-alunos de engenharia elétrica da Universidade Stanford, o portal é um dos pioneiros da web e nesses 14 anos criou um vasto leque de serviços e conteúdos. De acordo com dados da empresa de pesquisas ComScore, o portal registrou 484 milhões de visitantes únicos em dezembro do ano passado. É esse o ativo que interessa. Essa audiência, combinada com os 540 milhões de visitantes dos serviços online da Microsoft, permitiria que logo de saída a gigante de Redmond quase dobrasse de tamanho na internet. Mas essa é a única conta fácil de fazer. A pergunta mais importante, e que tem sido levantada com insistência pelos analistas, é que tipo de empresa nasceria da fusão.

A PRIMEIRA DUVIDA É SOBRE a cultura das duas companhias. A Microsoft é uma empresa de software, que nasceu, cresceu e fez história com o monopólio dos sistemas operacionais para PC. O Yahoo! é de uma geração seguinte, acostumado ao mundo caótico e hipercompetitivo da web. "O Yahoo! vende publicidade, a Microsoft vende software. Até pode existir alguma sobreposição com o MSN, mas não há sinergia entre as atividades principais das empresas", diz Daniel Taylor, analista sênior de internet da consultoria Yankee Group. De impacto ainda maior é a esperada fuga de talentos do Yahoo! No mundo da internet, poucos disfarçam o desprezo pela força bruta com a qual a Microsoft constrói e mantém mercados. Depois de anunciada a oferta, diversos engenheiros respeitados deixaram o Yahoo!, e no Vale do Silício já se fala no aumento da circulação de currículos. Como nota o blogueiro Mini-Microsoft, que é funcionário da companhia, a maior empresa de software do mundo caiu da 50a para a 86a posição no mais recente ranking das melhores empresas para trabalhar da Fortune. Logo em seguida, em 87o lugar, vem o Yahoo! Quem ganhou nos dois últimos anos? O Google.


As dúvidas sobre a fusão
Mesmo que a compra do Yahoo! pela Microsoft seja concretizada, existem muitas dúvidas a respeito do sucesso do negócio:

É um bom negócio...

- Une duas das marcas mais conhecidas e de maior audiência da internet
- Permite combinar os esforços dos desenvolvedores de software de busca
- A audiência combinada será mais atraente para os anunciantes
- Cria uma base enorme de usuários de e-mail e mensagens instantâneas

...ou é um mau negócio?

- O choque de culturas pode afastar as melhores cabeças do Yahoo!
- Enquanto as duas empresas se ocupam da fusão, o Google amplia sua liderança
- O Google mantém seu domínio absoluto na tecnologia de busca
- A Microsoft resiste ao software online, com medo de canibalizar seus lucros


Outro obstáculo será decidir onde o sangue será derramado. A Microsoft divulgou uma estimativa de que até 1 bilhão de dólares serão economizados anualmente com a fusão. Muitos dos produtos e serviços de maior sucesso das duas empresas são equivalentes. Mas quem sobreviverá: Hotmail ou Yahoo! Mail? MSN Money ou Yahoo! Finance? Yahoo! Messenger ou Windows Live Messenger? Em entrevistas, o executivo-chefe da Microsoft, Steve Ballmer, já disse que a marca Ya hoo! é valiosa e vai sobreviver. Mas falar é fácil. Promover a harmonia entre os engenheiros e marqueteiros certamente não será. O fiasco da união entre Time Warner e AOL, em 2000, ainda está fresco na memória e é freqüentemente lembrado quando se fala da "Microhoo". Menos dura, mas igualmente distrativa, será a tarefa de obter o ok dos órgãos de defesa da concorrência. Quando o Google comprou a Doubleclick, uma distribuidora de publicidade digital, a Microsoft se empenhou em melar o negócio. Agora, pode esperar o troco. Enquanto Ballmer e companhia estiverem de mãos cheias com os detalhes da integração, o Google certamente vai pisar no acelerador e ampliar sua vantagem técnica.

E, por fim, resta saber qual vai ser o real interesse da Microsoft em entrar de cabe ça no negócio do software pela internet. Existem duas idéias poderosas que vão de encontro ao modelo de negócios que fez de Bill Gates o homem mais rico do mundo por quase uma década. A primeira delas é a computação pela rede. Concorrentes do Word e do Excel, duas máquinas de imprimir dinheiro, já podem ser usados pela internet. Em vez de comprar uma licença de uso, eles podem ser acessados por um navegador. "Steve Ballmer sabe que produtos põem o pão na sua mesa, assim como todos os funcionários da Microsoft", escreveu o influente blogueiro Henry Blodget, do site Silicon Alley Insider. "Existe uma diferença entre saber que um concorrente pode causar uma ruptura em seu negócio e fazer a ruptura você mesmo." O Google tem uma rede de data centers espalhados pelo mundo para oferecer software e serviços pelo mundo. O maior deles, que deve estar em plena operação em três anos, terá 6 200 metros quadrados para abrigar os servidores, 1 800 metros quadrados para o sistema de refrigeração e vai consumir energia suficiente para abastecer uma cidade de 80 000 habitantes. Não por acaso, está sendo montado às margens de um rio, perto de uma usina hidrelétrica.

A cada clique em "busca", todo esse gigantesco poder de computação é colocado à disposição dos usuários essencialmente de graça. A tendência é que essa mesma infra-estrutura seja usada para oferecer outros tipos de serviços de software -- e essa é outra idéia que vira de cabeça para baixo o modelo de venda de licenças. Quem paga a conta são os anunciantes (embora, em alguns casos, deva haver algum tipo de serviço premium que exigirá o pagamento de uma mensalidade). A distribuição também muda radicalmente: daqui em diante, o software vai precisar de audiência -- e é por isso que a compra do Yahoo! é tão importante. Mas é claro que uma eventual "Microhoo" vai depender da disposição de Ballmer em elevar sua oferta -- ou de Jerry Yang ser obrigado pelo conselho a aceitar que a venda é a melhor opção para os acionistas. De um modo ou de outro, a briga com o Google começou para valer.


Fonte: Por Sérgio Teixeira Jr., in portalexame.abril.com.br

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