Pular para o conteúdo principal

O papel do profissional de mídia

Uma das áreas que mais mudaram seu escopo de atuação nos últimos 20 anos foi a mídia nas agências de propaganda — e, com certeza, ela será uma das áreas mais desafiadoras da nossa atividade nos próximos anos. Pessoalmente, pude vivenciar essas mudanças e evoluções que ocorreram nos campos de tecnologia da informação, comportamento social, economia e marketing, alterando a dinâmica da comunicação social e mercadológica. Lembro-me dos jurássicos momentos que eu e Luiz Fernando Vieira vivemos juntos, em meados dos anos 80, quando conquistamos o primeiro PC da mídia brasileira, oferecido pela McCann, onde atuávamos.

Nós nos esforçávamos madrugadas adentro a construir macrocomandos em uma planilha Lotus 1,2,3 para analisar simulações de alcance e freqüência das campanhas de nossos clientes. Foi uma época muito divertida, quando aquele IBM PC XT de 6 MHz (isso mesmo, 0,006 GHz!) era considerado uma Ferrari.

A citação jurássica serve apenas para ilustrar o fato de que, atualmente, os profissionais de mídia não investem muito de seu tempo em processamento de informações, mas sim na análise estratégica de um volume cada vez maior de informações. Por uma série de fatores, a atividade de mídia nas agências é muito mais complexa e muito mais estratégica para os anunciantes, com propósito de atuação cada vez mais amplo.

A atividade de mídia nas agências tem hoje ricas interfaces com todas as áreas da comunicação. Em relação a seus clientes, o profissional de mídia tem o papel de consultor de investimentos, quando aporta ciência e conhecimento comercial na estratégia de mídia. Pode ser também um valioso aliado na gestão de marketing, ao estudar o comportamento de consumo, os hábitos e as atitudes de diferentes nichos. Ou, ainda, quando estuda mercados e orienta em quais regiões existe um maior potencial de desenvolvimento. Igualmente, o trabalho de mídia pode tornar a empresa de seu cliente mais eficiente, seja por meio de negociações de mídia com melhor relação custo/benefício, seja por estratégias competentes e inovadoras. Dessa forma, a área de mídia surge como uma fonte de eficácia para o anunciante e não como uma linha de custo.

Para a área de planejamento estratégico das agências, o profissional de mídia pode ser um excelente tradutor do comportamento do consumidor, por meio de pesquisas e estudos de mídia que hoje incorporam hábitos de consumo de produtos, atitudes, comportamento e estilo de vida. Já para a área de criação, o profissional de mídia pode ser um co-criador de soluções de mídia inovadoras. Para as áreas de produção, por sua vez, o mídia pode atuar como um facilitador e negociador perante os veículos de comunicação, contribuindo decisivamente para a implantação de novos formatos gráficos, eletrônicos ou mesmo digitais. Finalmente, para o atendimento, o mídia pode ser o grande parceiro de trabalho, formando uma dupla que torna melhor o atendimento ao cliente e a dinâmica dos trabalhos da agência. Eu e meu velho amigo Alcir Gomes Leite temos a felicidade de trabalhar assim.

E essas parcerias não param por aí. Para o departamento de finanças das agências, o profissional de mídia pode e é uma fonte de informações para o planejamento da área. Para os veículos de comunicação, as áreas de mídia podem atuar como fonte de captação de clientes e até mesmo como referência de opinião para lançamentos. Os mídias ainda podem ter um importante papel entre os fornecedores de tecnologia, informação e pesquisa.

Mas, para que tudo isso ocorra, é preciso que a agência de propaganda invista em ferramental técnico e humano e aposte nessa área. Tenho privilégio de atuar em uma organização que sempre acreditou na força dos mídias.

Tais possibilidades demandam do profissional de mídia uma enorme dedicação em se atualizar constantemente e um sentido de corpo muito grande com a equipe da agência. Essa tem sido a preocupação do Grupo de Mídia de São Paulo no desenvolvimento de tantos cursos, viagens de intercâmbio, seminários e publicação de livros.

Nesta época em que os universos da mídia estabelecida e das novas mídias estão em colisão, cabe a você perceber o efeito dessa mixagem entre os diferentes canais de relacionamento com o consumidor. Essa história de mídia off/on é algo que só faz sentido para aqueles que não nasceram no mundo digital. Os nascidos digitais esperam que todas as mídias sejam interativas, ágeis e participativas. Converse com um garoto de classe média com dez anos e você vai entender isso.


Fonte: Por Paulo Cesar Queiroz - Vice-presidente executivo da DM9DDB, in www.meioemensagem.com.br

Comentários

Samuel Eventos disse…
A melhor definição que ja lí até hoje !!! Obrigado !!!
Anônimo disse…
Gostaria que o senhor pudesse me ajudar como fazer um curriculum de Mídia, já que nas outras áreas podemos mostrar nosso portifólio, e em mídia, sem experiencia, não há uma forma tão fácil de se fazer.

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Funcionários da Domino´s Pizza postam vídeo no You Tube e são processados

Dois funcionários irresponsáveis imaginam um vídeo “muito engraçado” usando alimentos e toda sorte de escatologia. O cenário é uma cozinha da pizzaria Domino´s. Pronto, está feito o vídeo que mais chamou a atenção da mídia americana na semana passada. Nele, os dois funcionários se divertem enquanto um espirra na comida, entre outras amostras de higiene pessoal. Tudo isso foi postado no you tube no que eles consideraram “uma grande brincadeira”. O vídeo em questão, agora removido do site, foi visto por mais de 930 mil pessoas em apenas dois dias. (o vídeo já foi removido, mas pode ser conferido em trechos nesta reportagem: http://www.youtube.com/watch?v=eYmFQjszaec ) Mas para os consumidores da rede, é uma grande(síssima) falta de respeito. Restou ao presidente a tarefa de “limpar” a bagunça (e a barra da empresa). Há poucos dias, Patrick Doyle, CEO nos EUA, veio a público e respondeu na mesma moeda. No vídeo de dois minutos no You Tube, Doyle ( http://www.youtube.com/watch?v=7l6AJ49xNS