Japonês, radicado há cerca de 20 anos nos Estados Unidos, o consultor de carreiras Yasuhiko Genku Kimura está no Brasil até o dia 9 deste mês. Kimura veio ao País para ministrar workshops nos quais, além de sugerir como os executivos devem agir frente à crise econômica, fala sobre a importância do pensamento criativo e explica por que a descoberta da verdadeira paixão de cada um é fundamental para o desenvolvimento profissional.
Os temas não são simples, mas Kimura - ordenado na escola soto de zen budismo aos 21 anos, no Japão - recorre a uma abrangente mistura de pensamento científico e filosófico, tanto oriental quando ocidental, ao refletir sobre esses assuntos. O resultado da combinação faz, no mínimo, o ouvinte pensar. E é exatamente esse o desejo do consultor, que já atendeu empresas como American Honda, American Family Funding e Japan Health Products, entre outras. Nesta entrevista à Gazeta Mercantil, Kimura afirma que a crise pode ser o momento adequado para uma mudança profunda no modo como os executivos - e líderes e geral - conduzem suas carreiras.
Gazeta Mercantil - Durante sua estada no Brasil, você tem falado sobre como a crise tem afetado os executivos. O que os gestores devem aprender com esse momento de turbulência?
Um dos elementos principais dessa crise, talvez o mais importante, é como tudo aconteceu devido à irresponsabilidade das pessoas que estão em cargos estratégicos, tanto no governo quanto na iniciativa privada. Por isso, considero que o mais importante agora é procurar passar de uma cultura da irresponsabilidade para uma da responsabilidade. Não sei como é no Brasil, mas os Estados Unidos foram construídos com base em autoconfiança e auto-suficiência. Contudo, as pessoas foram se tornando dependentes do governo. Há uma dependência psicológica e também financeira. Criou-se um senso geral de vitimização. Essa mentalidade é predominante nos Estados Unidos hoje. Fiquei surpreso quando me mudei para aquele país, pois imaginava que as pessoas eram livres e independentes. Mas elas são muito dependente do poder público. Na minha abordagem de desenvolvimento de carreiras, ensino às pessoas a importância da responsabilidade e da autoconfiança. Responsabilidade significa a habilidade de fazer novas promessas. Quando você faz uma promessa, cria o futuro. É como marcar um encontro para amanhã, às 17 horas. Se a promessa for cumprida, algo que não aconteceria normalmente ocorre. Pessoas irresponsáveis apenas reagem aos acontecimentos. É importante entender isso: responsabilidade é saber fazer as coisas de modo criativo, porque você está criando o futuro. Então, é necessário pensar, é preciso agir. Acredito que as pessoas que estão em postos de liderança precisam apoiar uma cultura de responsabilidade.
Gazeta Mercantil - Como foi o seu ingresso no segmento de desenvolvimento de carreiras?
Desde muito jovem - cerca de 15 anos - tenho interesse no propósito da vida. Essa busca me fez estudar budismo. A partir dessa doutrina, apreender diversos sistemas filosóficos, tanto orientais quanto ocidentais, como filosofia grega, indiana, chinesa, japonesa, etc. Nesse processo, percebi que, quando as pessoas vivem suas paixões, quando fazem aquilo que amam, elas não só se tornam mais felizes, mas também mais bem-sucedidas e criativas. Mas muitos escolhem suas carreiras com base em informações sobre quais profissões pagam mais ou possuem mais prestígio. Mas em qualquer área há indivíduos que são realmente bem-sucedidos. E estes são aquelas que seguem e realizam suas paixões. A partir dessa percepção, procurei orientar as pessoas para que eles descobrissem suas paixões profundas. Basicamente, a minha abordagem visa fazer os indivíduos descobrirem suas particularidades.
Gazeta Mercantil - Mas como foi a passagem dos estudos filosóficos para a consultoria?
Desenvolvimento de carreiras é apenas parte daquilo que faço, que na verdade é desenvolver o potencial humano. Carreira e vida profissional são questões muito importantes para todos, pois são parte do desenvolvimento do potencial de cada indivíduo. É por esse motivo que atuo como consultor de carreiras. Mas a minha abordagem pode ser aplicada para desenvolver relacionamentos, para aumentar a criatividade e também ajudar as pessoas a descobrirem o sentido profundo de suas vidas. Seja qual for a busca, ela sempre envolve desenvolvendo do potencial humano. O problema é que muitas pessoas estão em profissões que elas não gostam. E isso ocorre porque, por exemplo, seus pais ou um avô eram médicos. Então elas se tornam médicos também. Elas podem até alcançar o sucesso, mas não necessariamente a felicidade. É preciso transformar aquilo que amamos em profissão. É preciso criar uma vida na qual paixão e trabalho estejam equalizados.
Gazeta Mercantil - Há muitas abordagem, hoje, que prometem revelar ajudar as pessoas a reconhecerem seus verdadeiros anseios. Como é o seu trabalho?
Eu questiono. Uso o método socrático. Faço perguntas muito particulares como: "Se você recebesse a responsabilidade de criar uma nova civilização, como ela seria?" Quando somos questionados, nosso pensamento parte de algumas suposições. O mesmo é válido na hora de se fazer uma pergunta: ela sempre parte de uma suposição. O fato é que as pessoas não fazem descobertas se mantêm sempre as mesmas suposições, as mesmas hipóteses. Por isso, elaboro questões que escapam das suposições que a maioria das pessoas possui. Obviamente, ninguém será encarregado de criar uma nova civilização. Mas é possível pensar sobre isso, se colocar nessa situação. E quando isso é feito, como não há uma resposta comum, prévia, é necessário refletir por conta própria. Com esse tipo de questionamento, as pessoas são encorajadas a pensar, de modo original. Isso é importante, porque o pensamento criativo é essencial para o sucesso atualmente.
Gazeta Mercantil - Além do método socrático, há outras técnicas?
Essa abordagem socrática é uma parte importante, mas também ensino princípios filosóficos. Afinal, conhecimento é poder. A meditação é outra elemento que passo aos meus clientes, pois ela ajuda o indivíduo a entrar em contato consigo. Por causa da vida moderna, nós acostumamos a viver na superfície das nossas consciências. Eu também dou muita ênfase ao pensamento criativo. Vivemos na chamada Era da Informação. Se você consegue ler em inglês e sabe usar os mecanismos de busca da internet, é pouco provável que tenha alguma desvantagem informacional. Nesse situação, será bem-sucedido quem for mais criativo e inovador. Na Era da Informação, a habilidade de pensar é uma enorme vantagem profissional. Quem é criativo pode desenvolver novas técnicas de negócio, por exemplo, e no momento em que os outros foram capazes de copiar a idéia, ele criará outras. Assim, essa pessoa estará sempre à frente, como é o caso do Steve Jobs, da Apple. Procuro enfatizar o desenvolvimento da capacidade de pensar.
Gazeta Mercantil - Você acredita que a turbulência atual também seja um crise de valores e modelos?
Sim. Atrás do aspecto econômico, há um problema maior, que é uma cultura na qual é normal depender de alguém para conduzir sua própria vida produtiva. Quando a cultura da auto-suficiência e da responsabilidade se tornar predominante - eticamente e moralmente - o modelo econômico mudará. Se isso não acontecer, teremos uma grande depressão. Mas eu acredito que será necessário haver um colapso do sistema antes dessa mudança ocorrer. Aliás, estamos nesse processo. Mas eu não sou um economista, sou um filósofo. Acredito que as pessoas precisam ser independentes. Os seres humanos tem habitado esse planeta por muito tempo. Neste momento, predomina na humanidade uma consciência de vitimização. De uma perspectiva evolutiva, o importante, neste momento, é mudar essa mentalidade.
Fonte: Por João Paulo Freitas, in Gazeta Mercantil/Caderno D - Pág. 7
Os temas não são simples, mas Kimura - ordenado na escola soto de zen budismo aos 21 anos, no Japão - recorre a uma abrangente mistura de pensamento científico e filosófico, tanto oriental quando ocidental, ao refletir sobre esses assuntos. O resultado da combinação faz, no mínimo, o ouvinte pensar. E é exatamente esse o desejo do consultor, que já atendeu empresas como American Honda, American Family Funding e Japan Health Products, entre outras. Nesta entrevista à Gazeta Mercantil, Kimura afirma que a crise pode ser o momento adequado para uma mudança profunda no modo como os executivos - e líderes e geral - conduzem suas carreiras.
Gazeta Mercantil - Durante sua estada no Brasil, você tem falado sobre como a crise tem afetado os executivos. O que os gestores devem aprender com esse momento de turbulência?
Um dos elementos principais dessa crise, talvez o mais importante, é como tudo aconteceu devido à irresponsabilidade das pessoas que estão em cargos estratégicos, tanto no governo quanto na iniciativa privada. Por isso, considero que o mais importante agora é procurar passar de uma cultura da irresponsabilidade para uma da responsabilidade. Não sei como é no Brasil, mas os Estados Unidos foram construídos com base em autoconfiança e auto-suficiência. Contudo, as pessoas foram se tornando dependentes do governo. Há uma dependência psicológica e também financeira. Criou-se um senso geral de vitimização. Essa mentalidade é predominante nos Estados Unidos hoje. Fiquei surpreso quando me mudei para aquele país, pois imaginava que as pessoas eram livres e independentes. Mas elas são muito dependente do poder público. Na minha abordagem de desenvolvimento de carreiras, ensino às pessoas a importância da responsabilidade e da autoconfiança. Responsabilidade significa a habilidade de fazer novas promessas. Quando você faz uma promessa, cria o futuro. É como marcar um encontro para amanhã, às 17 horas. Se a promessa for cumprida, algo que não aconteceria normalmente ocorre. Pessoas irresponsáveis apenas reagem aos acontecimentos. É importante entender isso: responsabilidade é saber fazer as coisas de modo criativo, porque você está criando o futuro. Então, é necessário pensar, é preciso agir. Acredito que as pessoas que estão em postos de liderança precisam apoiar uma cultura de responsabilidade.
Gazeta Mercantil - Como foi o seu ingresso no segmento de desenvolvimento de carreiras?
Desde muito jovem - cerca de 15 anos - tenho interesse no propósito da vida. Essa busca me fez estudar budismo. A partir dessa doutrina, apreender diversos sistemas filosóficos, tanto orientais quanto ocidentais, como filosofia grega, indiana, chinesa, japonesa, etc. Nesse processo, percebi que, quando as pessoas vivem suas paixões, quando fazem aquilo que amam, elas não só se tornam mais felizes, mas também mais bem-sucedidas e criativas. Mas muitos escolhem suas carreiras com base em informações sobre quais profissões pagam mais ou possuem mais prestígio. Mas em qualquer área há indivíduos que são realmente bem-sucedidos. E estes são aquelas que seguem e realizam suas paixões. A partir dessa percepção, procurei orientar as pessoas para que eles descobrissem suas paixões profundas. Basicamente, a minha abordagem visa fazer os indivíduos descobrirem suas particularidades.
Gazeta Mercantil - Mas como foi a passagem dos estudos filosóficos para a consultoria?
Desenvolvimento de carreiras é apenas parte daquilo que faço, que na verdade é desenvolver o potencial humano. Carreira e vida profissional são questões muito importantes para todos, pois são parte do desenvolvimento do potencial de cada indivíduo. É por esse motivo que atuo como consultor de carreiras. Mas a minha abordagem pode ser aplicada para desenvolver relacionamentos, para aumentar a criatividade e também ajudar as pessoas a descobrirem o sentido profundo de suas vidas. Seja qual for a busca, ela sempre envolve desenvolvendo do potencial humano. O problema é que muitas pessoas estão em profissões que elas não gostam. E isso ocorre porque, por exemplo, seus pais ou um avô eram médicos. Então elas se tornam médicos também. Elas podem até alcançar o sucesso, mas não necessariamente a felicidade. É preciso transformar aquilo que amamos em profissão. É preciso criar uma vida na qual paixão e trabalho estejam equalizados.
Gazeta Mercantil - Há muitas abordagem, hoje, que prometem revelar ajudar as pessoas a reconhecerem seus verdadeiros anseios. Como é o seu trabalho?
Eu questiono. Uso o método socrático. Faço perguntas muito particulares como: "Se você recebesse a responsabilidade de criar uma nova civilização, como ela seria?" Quando somos questionados, nosso pensamento parte de algumas suposições. O mesmo é válido na hora de se fazer uma pergunta: ela sempre parte de uma suposição. O fato é que as pessoas não fazem descobertas se mantêm sempre as mesmas suposições, as mesmas hipóteses. Por isso, elaboro questões que escapam das suposições que a maioria das pessoas possui. Obviamente, ninguém será encarregado de criar uma nova civilização. Mas é possível pensar sobre isso, se colocar nessa situação. E quando isso é feito, como não há uma resposta comum, prévia, é necessário refletir por conta própria. Com esse tipo de questionamento, as pessoas são encorajadas a pensar, de modo original. Isso é importante, porque o pensamento criativo é essencial para o sucesso atualmente.
Gazeta Mercantil - Além do método socrático, há outras técnicas?
Essa abordagem socrática é uma parte importante, mas também ensino princípios filosóficos. Afinal, conhecimento é poder. A meditação é outra elemento que passo aos meus clientes, pois ela ajuda o indivíduo a entrar em contato consigo. Por causa da vida moderna, nós acostumamos a viver na superfície das nossas consciências. Eu também dou muita ênfase ao pensamento criativo. Vivemos na chamada Era da Informação. Se você consegue ler em inglês e sabe usar os mecanismos de busca da internet, é pouco provável que tenha alguma desvantagem informacional. Nesse situação, será bem-sucedido quem for mais criativo e inovador. Na Era da Informação, a habilidade de pensar é uma enorme vantagem profissional. Quem é criativo pode desenvolver novas técnicas de negócio, por exemplo, e no momento em que os outros foram capazes de copiar a idéia, ele criará outras. Assim, essa pessoa estará sempre à frente, como é o caso do Steve Jobs, da Apple. Procuro enfatizar o desenvolvimento da capacidade de pensar.
Gazeta Mercantil - Você acredita que a turbulência atual também seja um crise de valores e modelos?
Sim. Atrás do aspecto econômico, há um problema maior, que é uma cultura na qual é normal depender de alguém para conduzir sua própria vida produtiva. Quando a cultura da auto-suficiência e da responsabilidade se tornar predominante - eticamente e moralmente - o modelo econômico mudará. Se isso não acontecer, teremos uma grande depressão. Mas eu acredito que será necessário haver um colapso do sistema antes dessa mudança ocorrer. Aliás, estamos nesse processo. Mas eu não sou um economista, sou um filósofo. Acredito que as pessoas precisam ser independentes. Os seres humanos tem habitado esse planeta por muito tempo. Neste momento, predomina na humanidade uma consciência de vitimização. De uma perspectiva evolutiva, o importante, neste momento, é mudar essa mentalidade.
Fonte: Por João Paulo Freitas, in Gazeta Mercantil/Caderno D - Pág. 7
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